Morre a viúva de Miguel Arraes, ícone da luta contra a ditadura, aos 95 anos

11 julho 2024 às 12h01

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Miguel Arraes (1916-1988) fez um governo que valorizou o social em Pernambuco, nas décadas de 1960, 1980 e 1990. Era socialista, mas não comunista. Talvez mais próximo da socialdemocracia europeia. Uma das principais operadoras de seus programas sociais era sua mulher, Maria Magdalena Fiúza Arraes de Alencar, que faleceu na quinta-feira, 11, aos 95 anos em Pernambuco, de causas naturais. Será enterrada na sexta-feira 12, em Recife.
Quando se casou com Miguel Arraes, na década de 1960, ele era viúvo e tinha oito filhos. Ela assumiu as crianças e os criou como filhos — tanto que eles a consideram como mãe. Com Arraes, teve dois filhos.
Nos governos de Arraes, Maria Magdalena, formada em Letras, operou diretamente para melhorar a qualidade de vida dos pobres de Pernambuco. Era tão socialista quanto o marido. Talvez mais.

O prefeito de Recife, João Campos, é seu bisneto. Ele disse a respeito de Maria Magdalena: “Hoje é um daqueles dias difíceis. Se despedir da minha bisavó Magdalena aperta o peito e nos faz lembrar de tanta coisa, de tanto exemplo, do tanto que nos ensinou. Ela sempre foi um pilar de força em nossa família, uma mulher altiva, sensível e firme, sobretudo nos momentos mais difíceis. Liderou processos e inspirou transformações que até hoje nos influenciam. Neste momento de luto, nos unimos em lembrança e gratidão por tudo que ela representou e nos ensinou. Que Deus possa realizar o seu reencontro com o meu bisavô Miguel Arraes no céu”.
Neta de Maria Magdalena, a deputada Maria Arraes disse: “É com imenso pesar, mas também com gratidão eterna pelo seu legado de amor e generosidade que celebro a memória da nossa querida vovó Mada, uma mulher inspiradora, que dedicou sua vida à família e à educação. Durante minhas andanças pelo Estado, muitas vezes escuto lembranças do povo sobre ela, sobre como cuidava e se dedicava a cada ação que se propunha a fazer. E na família também era assim! Quando conheceu vovô Arraes, ele já era viúvo e tinha oito filhos, e todos eles se transformaram em uma extensão do amor de vovó por vovô. Cuidou de cada um deles como se fossem seus e ainda teve mais dois filhos para completar o time. Para os netos e bisnetos, sempre dava livros de presente. Professora, incentivava nossa leitura, nosso conhecimento, nossa imaginação. Vovó Mada vive em nós”.
Também neta de Maria Magdalena, Marília Arraes escreveu: “”Vovó Mada viveu incríveis 95 anos. E eu tive o privilégio de ser sua neta por 40. Poucas pessoas fizeram tão bem ao mundo quanto ela fez. À frente do seu tempo, corajosa, de uma generosidade e um senso de justiça imensos. Agradeço a Deus pelos caminhos dela e de meu avô terem se cruzado e, com isso, meu pai e tios tiveram uma família unida e forte, em meio a tantas adversidades que atravessaram, com golpe militar, prisão, tantos anos de exílio, volta ao Brasil, vitórias e derrotas, altos e baixos. Sem você, vovó Mada, não seríamos quem somos hoje! Eu não seria quem sou, se não fosse sua neta, sem que você tivesse compartilhado sua sabedoria e apoio gentil, leve e ao mesmo tempo tão forte, em tantas horas cruciais. Um dia, minha Magdalena, tão pequena, vai entender a responsabilidade e o orgulho de carregar o nome da bisavó. Que Deus, Nossa Senhora e Santa Maria Magdalena te recebam com carinho aí no céu. Muito obrigada por tudo, vovó! Vai em paz, dá um beijo em vovô e diz a ele que a luta de vocês a gente tá tocando em frente por aqui”.