Montadoras alertam que Lula pode repetir Trump se favorecer a BYD

29 julho 2025 às 18h10

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Empresários do setor automobilístico avaliam que, se o governo Lula alterar a política de importação de veículos para favorecer a BYD, pode comprometer o ambiente de negócios no Brasil.
Um executivo de uma das principais montadoras declarou que Lula estaria “seguindo o exemplo de Donald Trump”, ao romper acordos institucionais em nome de interesses pontuais.
Segundo ele, a quebra de previsibilidade lembraria o estilo do ex-presidente americano, frequentemente acusado de desrespeitar normas internacionais e comprometer a confiança do mercado.
O centro da polêmica é o programa Mover, política industrial negociada entre o Planalto e as montadoras, que prevê incentivos à produção de carros híbridos e elétricos no Brasil. Com base nele, as fabricantes anunciaram investimentos da ordem de R$ 180 bilhões para modernização de fábricas e desenvolvimento de novos veículos.
No entanto, o governo estuda uma alteração na política de importação de veículos eletrificados, analisando na Câmara de Comércio Exterior (Camex) a possibilidade de reduzir a alíquota para veículos montados nos modelos CKD e SKD — com menor uso de mão de obra e produção local.
A proposta favoreceria diretamente a BYD, que iniciou operações na fábrica de Camaçari (BA) em junho e solicitou redução do imposto de 35% para 10%. Segundo executivos do setor, a mudança seria um “golpe” no planejamento feito com base no Mover e poderia resultar em suspensão ou cancelamento de fases de investimento já aprovadas pelas matrizes no exterior.
Um dos entrevistados afirma que esse tipo de instabilidade “desencoraja a instalação de centros de pesquisa e inovação no Brasil”. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, tentou apaziguar os ânimos com uma proposta de criar cotas de importação com redução temporária do imposto, escalonadas da seguinte forma:
- 50 mil carros no 1º ano
- 40 mil no 2º
- 30 mil no 3º
- 20 mil no 4º
As montadoras consideram o volume exagerado. Segundo uma fonte do setor, poucas fábricas brasileiras têm capacidade de produzir 50 mil veículos por ano, o que tornaria a medida desproporcional e injusta com as fabricantes que investem na industrialização local.
Embate entre BYD e montadoras tradicionais
A disputa escancarou o lobby entre a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e a montadora chinesa. A Anfavea mobilizou federações industriais de nove estados, centrais sindicais como a CUT e a Força Sindical, além do sindicato dos metalúrgicos, contra a possível medida.
Os principais argumentos do grupo são produzir veículos no Brasil gera mais empregos (10 por carro contra 3 no sistema CKD/SKD); a fabricação local fortalece a cadeia de autopeças; a produção de híbridos impulsiona pesquisa e inovação nacional; e reduzir a alíquota de importação desestimula novos investimentos e pode gerar desemprego no longo prazo.
Executivos do setor também apontam que o Brasil tem vantagens competitivas na transição para a mobilidade limpa, como a produção de etanol e a presença de terras raras, usadas na fabricação de baterias.
Para eles, facilitar a importação de veículos chineses em vez de fortalecer a indústria local seria uma contradição frente ao discurso do governo sobre reindustrialização e liderança na economia verde.
Tensão política e interesses cruzados
A possível mudança na política automotiva causa tensão dentro do próprio governo. Três ministérios já se manifestaram contrários à redução de impostos. O Ministério do Trabalho teme demissões; o Ministério do Desenvolvimento alerta para impacto negativo na reindustrialização; e o Ministério da Fazenda: preocupa-se com a perda de arrecadação.
A Anfavea também denuncia práticas desleais: segundo a associação, o governo chinês injetou cerca de R$ 1,5 trilhão em subsídios na indústria automotiva ao longo de 14 anos, o que daria uma vantagem artificial à BYD.
Apesar dos rumores de que a decisão a favor da BYD já estaria tomada e que seria anunciada nesta semana pela Camex, Alckmin afirmou que o tema segue em análise e que a decisão será colegiada, com participação de dez ministérios.
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