Missão Artemis: pisando na Lua outra vez, após mais de meio século

04 outubro 2025 às 12h10

COMPARTILHAR
No dia 20 de julho de 1969, o astronauta Neil Armstrong fez história ao pisar em solo lunar: “Este é um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade”. A frase, uma das mais icônicas do século XX, segundo a revista Time, aponta que Armstrong mantinha uma ligação com o universo de J.R.R.Tolkien, autor de “O Hobbit”. No livro, o personagem Bilbo Bolseiro salta sobre Gollum e diz “não foi um grande salto para um homem, mas um salto no escuro”. A revista também cita outra forte ligação de Armstrong com Tolkien quando o astronauta, já aposentado, se muda para uma fazenda em Ohio batizada de Rivendell, nome de um vale na obra do autor. Nos anos 90, Neil Armstrong usava até mesmo um e-mail com referência à Tolkien. No entanto, ele mesmo negou essa hipótese e dizia que só leu os livros de Tolkien anos após a missão Apollo 11.
Agora, após mais de 50 anos, a Nasa, Agência Espacial Americana, se prepara para mais um grande passo que vai lançar homens e mulheres astronautas de volta à Lua. A missão Artemis 2 está prevista para ocorrer em abril de 2026. Dessa vez, a humanidade vai acompanhar de perto e on-line toda missão que deverá ser marcada pela exploração de pelo menos 60% do lado oculto da Lua.
O nome dado à missão que levará o homem de volta à Lua, Artemis, foi pensado para trazer correlação com o Programa Apollo que teve como objetivo alcançar a Lua entre 1961 e 1972, durante a Guerra Fria. Apolo, deus do Sol, da música , das artes, da profecia, foi um dos deuses mais importantes na Grécia Antiga. Era filho de Zeus e irmão gêmeo de Ártemis que era a deusa da Lua, da caça, da vida selvagem, da castidade, do parto e dos animais. Seu equivalente na mitologia romana era a deusa Diana.

A missão Artemis não quer apenas voltar à superfície lunar, mas dar início a uma nova era na exploração espacial. Mesmo com mais de meio século que a separa da missão Apollo, assim como os gêmeos da mitologia grega, as duas missões têm muito em comum, mas também várias diferenças importantes. A Nasa diz que quando o programa Artemis foi anunciado, o nome também reflete a diversidade do programa, já que dessa vez homens e mulheres irão à Lua. Diferente da missão Apollo cujo principal objetivo era visitar a Lua e fazer isso antes dos soviéticos, a Artemis é uma missão de longo prazo, a Nasa está indo para a Lua para ficar e estabelecer uma base permanente no satélite natural da Terra que, num futuro próximo, terá como função principal o lançamento de naves para outros planetas como Marte, e para que isso aconteça está previsto a construção de uma estação espacial na órbita da Lua: a Lunar Gateway.
Logo após a conclusão da Artemis 2, a Nasa dará início à missão Artemis 3 cujos locais de pouso serão próximos a fontes de gelo no polo sul lunar que possui crateras nunca iluminadas pelo Sol. Acredita-se que elas contenham grandes depósitos de gelo, matéria-prima essencial como fonte de água e para a produção de oxigênio e combustível para os foguetes.
Os astronautas da Artemis 2 ganharam um “upgrade” em relação à nave espacial que irá levá-los até a Lua, a Orion. Ao compará-la com o módulo lunar da missão Apollo, é como se a Nasa tivesse tirado os “passageiros” da classe econômica para a executiva. O Módulo de Comando e Serviço da missão Apollo era uma espaçonave com capacidade para três tripulantes e suportava, no máximo, duas semanas no espaço. A área habitável da nave era de apenas 5,9 metros cúbicos. A Orion tem espaço para quatro astronautas com 8,9 metros cúbicos e suas missões podem durar até 21 dias. Além disso, enquanto a nave da missão Apollo era alimentada por células de combustível, a Orion vai produzir sua própria energia com os painéis solares instalados em seu exterior que vai permitir que ela viaje 64 mil km além da Lua. A Nasa quer observar como a Nave e os astronautas reagirão ao ambiente em uma viagem ao espaço profundo.

Em comum mesmo, o Módulo de Comando e Serviço da Apollo e a Orion da Artemis, tem apenas o processo de retorno à Terra. A aterrissagem das duas missões continuará sendo no mar e após o pouso, equipes de resgate deverão “pescar” a aeronave.
Além do gasto exorbitante de bilhões de dólares que o governo americano está investindo na Nasa para levar o homem de volta à Lua, a missão Artemis tem muito a ensinar para que se possa avançar rumo à Marte. A Agência Espacial Americana encara a missão Artemis como a “sala de aula” para que o homem possa colonizar o planeta vermelho. Para explorar Marte é preciso dominar técnicas fundamentais como dominar a utilização de recursos locais para sobrevivência e descobrir como produzir alimentos, a construção de estruturas sólidas que possam proteger os astronautas da radiação, além de saber pousar e decolar espaçonaves de lugares inóspitos e desconhecidos.
A Nasa espera que a missão Artemis seja “o salto gigantesco para humanidade” profetizado por Neil Armstrong em 1969. Muito mais do que levar homens e mulheres de volta à Lua, a grande missão da Nasa é despertar novos cientistas e astronautas que, assim como os descobridores do novo mundo como Cristóvão Colombo e Pedro Álvarez Cabral fizeram há mais de 500 anos, possam cruzar novas fronteiras ainda desconhecidas e inspirar uma geração inteira que já ganhou seu nome: Artemis.
