Ministro da Saúde sugere que obesidade infantil é culpa da “falta de mãe em casa”
15 março 2017 às 16h42
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Ricardo Barros fez afirmação polêmica durante Encontro Regional para Enfrentamento da Obesidade Infantil uma semana após gafe de Temer no Dia das Mulheres
O ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), associou o aumento de peso durante a infância à falta das mães em casa. A fala foi feita durante evento de lançamento de compromissos do governo para diminuir a obesidade no Brasil ocorrida nesta terça-feira (14/3).
“Eu queria falar um pouco do fato de a criança não saber cozinhar. As mães não ficam em casa e as crianças não têm a oportunidade de acompanhar, como era antigamente, a mãe nas tarefas diárias, na preparação do alimento. E isso vai ficando cada vez mais distante, a capacidade de pegar um alimento natural e saber consumir”, disse. Barros não comentou sobre a importância do envolvimento dos pais na alimentação das crianças.
Ele voltou a falar sobre a importância das mães na alimentação quando afirmou que deve conversar com o ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), para que o Ministério da Saúde ofereça nas escolas públicas campanhas que estimulem o consumo de alimentos saudáveis.
“Isso vai permitir que as crianças sejam orientadas nessa questão da alimentação, no exercício físico e a qualificar a manipular os alimentos. Muitas delas não ficam em casa com suas mães e não têm a oportunidade de aprender a descascar os alimentos”.
Mais uma polêmica
A fala veio na semana seguinte ao controverso discurso do presidente Michel Temer (PMDB) no Dia Internacional das Mulheres. Na ocasião, o presidente afirmou ter “consciência do que a mulher faz pela casa” e, sobre Economia, que não havia ninguém melhor que a mulher para “indicar desajustes de preços no supermercado”.
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O próprio ministro Ricardo Barros já havia se envolvido em uma polêmica referente a uma fala relacionada à mulher. Em agosto do ano passado, ele afirmou que os homens trabalham mais que as mulheres e, por isso, procuram menos atendimento médico.
Entretanto, uma pesquisa apresentada pelo próprio ministro que a maior parte da população masculina (55%) alegava que “nunca precisou” ir ao médico e iam ao hospital apenas em caso de urgência. Apenas 2,8% dos homens apontaram o horário de funcionamento das unidades de saúde como motivo para não procurarem atendimento preventivo.
Metas da ONU
O evento em que o ministro da Saúde fez sua apresentação foi o Encontro Regional para Enfrentamento da Obesidade Infantil. Ele faz parte da implementação da Década de Ação das Nações Unidas (ONU) para a Nutrição (2016/2025), que incentiva o acesso universal a dietas mais saudáveis e sustentáveis.
O Brasil assumiu como compromisso atingir três metas: deter o crescimento da obesidade na população adulta até 2019, por meio de políticas intersetoriais de saúde e segurança alimentar e nutricional; reduzir o consumo regular de refrigerante e suco artificial em pelo menos 30% na população adulta, até 2019; e ampliar em no mínimo de 17,8% o percentual de adultos que consomem frutas e hortaliças regularmente até 2019.
No Brasil, é possível notar que a população tem reduzido o consumo de alimentos básicos ao mesmo tempo em que aumenta o consumo de processados. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (2013), mais da metade dos brasileiros está com excesso de peso. A incidência é maior em mulheres (59,8%) do que em homens (57,3%). A obesidade também segue o mesmo padrão. 25,2% das mulheres adultas do país estão obesas contra 17,5% dos homens.
O índice mantém a mesma proporção na América Latina. Segundo dados do relatório Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional da OMS (2016) 58% da população da América Latina está com sobrepeso e 23% está obesa. (Com informações do Ministério da Saúde)