Governo repercute operação da Polícia Federal que desvendou esquema de corrupção entre fiscais federais e frigoríficos para liberação de licenças

Blairo Maggi defendeu o sistema de inspeção agropecuária brasileiro e disse que a fiscalização é “forte, robusta e séria” | Foto: Marcelo Camargo/Arquivo Agência Brasil

Em entrevista neste sábado (18/3), o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, minimizou a polêmica entorno do esquema entre frigoríficos e fiscais federais de corrupção e pagamento de propina na fiscalização de produtos alimentícios, desvendado pela Operação Carne Fraca da Polícia Federal.

Segundo ele, o ministério está tomando todas as providências sobre as denúncias levantadas pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, mas não há motivos para a população ter receio de consumir carne.

“O que aconteceu foi desvio de alguns servidores, de algumas empresas, nós temos que discutir como foi que isso aconteceu. Mas eu posso garantir com toda tranquilidade: eu não deixarei de consumir e recomendo que você também não deixe porque não há risco nenhum”, afirmou.

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Maggi também defendeu o sistema de inspeção agropecuária brasileiro e disse que a fiscalização é “forte, robusta e séria”. Segundo o ministro, os frigoríficos onde foram constatadas as ações criminosas já foram interditados e o ministério procura agora saber se é possível que parte da carne contaminada ainda esteja disponível para o consumidor.

“Nós estamos fazendo o acompanhamento de como a operação policial aconteceu, se essa mercadoria ainda está nos frigoríficos, se ela está em trânsito ou se está nos supermercados. Mas penso eu que se essas mercadorias, se essa fiscalização ocorreu há mais de dez dias, muito provavelmente ela não está mais nos supermercados, ela já foi consumida”, afirmou.

A operação Carne Fraca, deflagrada na última sexta-feira (17/3) investiga o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos. Alguns dos principais grupos do setor do país estão na mira da operação, como o BRF (que detém as marcas Sadia e Perdigão) e o JBS (Seara, Swift, Friboi e Vigor).

De acordo com as investigações da Polícia Federal, frigoríficos envolvidos no esquema criminoso “maquiavam” carnes vencidas com ácido ascórbico e as reembalavam para conseguir vendê-las. As empresas, então, subornavam fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para que autorizassem a comercialização do produto sem a devida fiscalização. A carne imprópria para consumo era destinada tanto ao mercado interno quanto à exportação.

Providências

O presidente Michel Temer deve se reunir no próximo domingo (19/3) à tarde com o ministro Blairo Maggi para discutir as medidas do governo e a repercussão no mercado internacional depois da deflagração da Operação Carne Fraca. Também participarão do encontro representantes das associações brasileiras das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e de Proteína Animal (ABPA), além da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

O objetivo será debater as medidas que já estão sendo tomadas pelo ministério e os possíveis impactos da operação sobre as exportações de carnes brasileiras. O governo federal também deve divulgar uma nota para as embaixadas na tentativa de esclarecer a amplitude do esquema de corrupção desvendado pela Polícia Federal.

Técnicos da consultoria jurídica e das secretarias de Defesa Agropecuária e de Relações Internacionais da pasta estão reunidos neste sábado (18) para analisar a decisão judicial de 350 páginas que autorizou a operação e também detalhes como legislação e emissão dos selos de inspeção sanitária (SIFs) para as empresas envolvidas.

Na segunda-feira (20), os consultores jurídicos também irão a Curitiba (PR) buscar informações específicas com a Polícia Federal e visitar as empresas envolvidas para iniciar uma auditoria sobre o assunto. A intenção é ter acesso, inclusive, aos laudos periciais relacionados à operação para tomar providências em relação às empresas.

Segundo informações da Mapa, em 2016, o Brasil exportou mais de 1 milhão de toneladas de carne bovina. Os principais destinos foram Hong Kong, Egito, China e Rússia. Também foram exportados cerca de 3,9 milhões de toneladas de carne de frango in natura, cujos principais compradores foram Arábia Saudita, China, Japão, Emirados Árabes Unidos e Hong Kong. No mesmo ano foram abatidas 42,3 milhões de cabeças de suínos para o mercado interno e externo.