Militares do Exército fizeram terraplenagem em acampamento golpista

13 outubro 2025 às 11h29

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Após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, militares do Exército realizaram obras de terraplenagem no sentido de auxiliar a montagem do acampamento golpista no quartel-general em Brasília. A atuação do maquinário pilotado e coordenado pelos militares foi registrada em vídeos feitos por um integrante do acampamento. As informações são inéditas e nunca tinham surgido dentro das investigações sobre a trama golpista.
O Exército afirmou que essa ação foi necessária para realizar a “manutenção” do local e corrigir o acúmulo de lama. Os vídeos mostram uma retroescavadeira e um caminhão sendo pilotados e orientados por militares para realizar a terraplanagem de uma área que estava repleta de lama e onde estavam instaladas barracas dos manifestantes.
Os registros audiovisuais são de 18 de novembro de 2022, data em que os manifestantes começaram a montar acampamento, ou seja, dias depois da derrota de Bolsonaro no segundo turno. Esses registros indicam que os militares tiveram uma participação muito mais ativa no acampamento do que as investigações realizadas pela Polícia Federal demonstraram até o momento.
A denúncia da Procuradoria-Geral da Republica (PGR) diz que Jair Bolsonaro incentivou a permanência do acampamento no quartel-general para obter adesão popular à trama golpista, mas não descreveu o papel dos militares para a instalação desse acampamento.
As investigações mostraram que uma carta divulgada pelos comandantes das Forças Armadas, em 11 de novembro de 2022, foi entendida como apoio ao acampamento, mas não foram colhidos elementos de prova sobre a participação dos militares na estrutura do acampamento.
Esses vídeos foram gravados pelo jornalista Wellington Macedo, preso preventivamente por ordem do STF sob acusação de envolvimento na tentativa de ataque a bomba em Brasília no dia 24 de dezembro. Os arquivos foram disponibilizados ao Jornal Estadão por seu advogado, o criminalista Sildilon do Nascimento.
A defesa franqueou esse material à Procuradoria-Geral da República e à Polícia Federal no final de 2023 para negociar um acordo de colaboração premiada de Wellington com as autoridades. A delação abordaria o apoio dos militares ao acampamento e outros temas. Após análise, a equipe do procurador-geral Paulo Gonet afirmou à defesa, em abril do ano passado, que não tinha interesse no acordo. A renegociação foi rescindida e os arquivos foram devolvidos.

Defesa pediu revogação da prisão
Wellington Macedo está preso desde setembro de 2023 e foi condenado a seis anos de prisão, pela 8ª Vara Criminal de Brasília, sob acusação de envolvimento no atentado à bomba. A PGR, entretanto, apresentou neste ano uma nova denúncia sobre esses mesmos fatos e imputou crimes mais graves a Wellington e os outros condenados, acusando-os de tentativa de golpe e abolição violenta do Estado democrático. Por isso, Moraes decretou sua prisão preventiva.
No início deste mês, a defesa de Wellington Macedo pediu ao STF a revogação da prisão sob argumento de que não poderia servir como antecipação de pena e negando seu envolvimento com os fatos.
O advogado Sildilon do Nascimento argumentou ao STF que os dois outros condenados por organizar a montagem e instalação da bomba em um caminhão de combustível afirmaram, em seus interrogatórios, que Wellington não tinha relação com os fatos. A defesa disse ainda que um laudo pericial produzido pela Polícia Civil na investigação constatou que a bomba não estava armada com um detonador e, portanto, não teria capacidade de explodir.
Esse pedido de revogação da prisão, porém, foi negado pelo ministro Alexandre de Moraes. Sua defesa apresentou recurso para que o pedido de liberdade seja levado à Primeira Turma.
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