Pesquisadores explicam a força do emedebista dentro da capital e como novos nomes podem se firmar a partir da desistência do prefeito

José Sarney e Iris Rezende, que foi ministro da Agricultura do governo do presidente | Foto: Reprodução

O anúncio de Iris Rezende (MDB), no início do mês, de que não iria concorrer à reeleição, abre possibilidades para a construção de uma nova dinâmica política para a capital. Mas, mesmo fora do pleito, a presença do decano emedebista ainda precisa ser equalizada por todos os partidos e candidatos à Prefeitura.

O pesquisador Luiz Signates avalia que Iris é uma personalidade política estabelecida na história de Goiás e o sucesso eleitoral que obteve, em nível municipal, mesmo após as sucessivas derrotas estaduais, demarcou sua recuperação de imagem e garantiu o lugar dele, como político e governante vitorioso, neste final de sua carreira.

Para o professor, quando uma personalidade assim deixa a disputa, os demais pré-candidatos renovam suas esperanças de colher dividendos no espólio deixado por ele. Signates alerta, no entanto, para dois pontos.

Primeiro, o MDB não parece ter superado ainda sua histórica dificuldade de produzir novos líderes. E isso vemos tanto na repetição da candidatura Iris, mesmo após ele próprio ter declarado sua saída em várias oportunidades, quanto na sua substituição, em Goiânia, por Maguito Vilela — indiscutivelmente, a segunda liderança do partido, desde os anos 1980, e o único emedebista que foi, além de Íris, candidato a governador ou, mais recentemente, a prefeito de Goiânia, desde então. 

O segundo ponto é que, pelo teor da conjuntura, a colheita do espólio político de Iris tem sido objetivo não apenas do MDB, mas também de vários partidos e lideranças.

“Se isso de fato se concretizará, só a história para dizer, mas, sem dúvida, a disputa eleitoral em Goiânia tende, por isso, a se tornar cada vez mais aguda. O largo espaço eleitoral deixado por Iris passa a ser disputado por uma miríade de candidatos, nem sempre com o mesmo perfil do velho prefeito”, avalia.

Derrotas

Por sua história política, Iris Rezende sempre foi um político de grande envergadura. Ex-governador, ex-ministro, tornou-se o adversário principal de Marconi Perillo (PSDB), na maioria dos pleitos que este disputou. No entanto, houve uma queda ditada pelas sucessivas derrotas no cenário estadual.

Com isso, salienta Signates, o decano teve que se acolher na Prefeitura de Goiânia, cargo no qual começou sua carreira política no Executivo. Sempre pareceu a ideia de um gigante que se muda para um quarto-e-sala, compara.

“Em outras palavras, a prefeitura sempre pareceu menor do que a capacidade de governar de Iris. Reputo a isso, principalmente, bem como ao sucesso administrativo de suas gestões, grande parte das razões de sua incontrastabilidade”, diz.

Alianças

O cientista político Guilherme Carvalho salienta, por outro lado, que Iris Rezende perdeu somente uma vez em Goiânia, mas para governador em 1998, contra Marconi Perillo (PSDB). Desde então, o emedebista é campeão de votos na capital, pois há, segundo o pesquisador, uma identidade muito forte entre o eleitor goianiense e Iris.

Guilherme Carvalho enfatiza, no entanto, que não há um herdeiro político natural de Iris. Pois não foi construído quando o atual prefeito esteve como protagonista. De modo que haverá uma reconfiguração de forças. Ele salienta que as alas jovens do PSDB e do MDB ensaiam uma composição que seria sempre barrada por Iris.

O PSD começa a ganhar protagonismo neste vácuo aberto, com a forte presença também do governador Ronaldo Caiado (DEM). “São forças que vão fazendo que o cenário tome outra face. Pode ser que a polarização entre PSDB e MDB não esteja mais clara. A tendência é que nas próximas eleições aparece algo menos estático. Quando Iris sai do cenário eleitoral ativamente abre espaços para novas alianças”, aponta.

As alianças que emergem dessa nova realidade podem determinar o apoio apenas formal, ou mais incisivo, ao candidato do MDB (no caso, Maguito Vilela). A transferência de votos, sobretudo na região noroeste e norte de Goiânia, pode ser mais presente, mas ainda precisa de um apoio direto de Iris ao candidato emedebista, segundo avaliação do cientista político.

Oposição

Iris Rezende surgiu em meados dos anos 1960 e, de cara, já era identificado como um oposicionista. Lembrando que o prefeito teve mandato cassado, quando vereador por Goiânia, pela Ditadura Militar. Não exatamente por suas posições políticas, mas para a implementação do projeto de poder dos militares.

Assim, Iris inicia sua trajetória e a constrói em cima da construção de uma oposição branda,até a redemocratização. No governo Sarney, Iris Rezende se torna ministro da Agricultura e depois,no governo Fernando Henrique Cardoso, ministro da Justiça. Tudo por que o grupo irista galga espaço em oposição à Arena.

“As figuras oposicionistas do MDB acabam ganhando projeção. Vemos sendo configurado, na cabeça das pessoas, um MDB que representa o futuro. O Iris como gestor traz a ideia do desenvolvimento, progresso, de obras, que é mantido pelo emedebista. Além de um olhar social mais apurado, nas regiões mais pobres da cidade. Ele ganha espaço e eleitorado que é grato ao grupo político”, aponta Guilherme.

“Vendo que isso foi constituído na cabeça do goianiense, cria-se um receio de que não haja outra maneira de se fazer política. Como se trazer desenvolvimento sem ser da forma irista de se fazer política?!, indagaria o eleitor. Em suma, o MDB e o grupo de Iris criaram uma identidade política em torno de Goiânia, por isso outros grupos têm muita dificuldade de serem aceitos na capital, e isso é um grande fator para a criação de um eleitorado fiel a Iris”, explica.