Médicos de empresa que fraudava Ipasgo auditavam as próprias contas, diz PC
14 maio 2020 às 11h16
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Esquema criminoso envolve cerca de 65 pessoas até o momento. Policiais cumpriram mandados de prisão em dez cidades goianas e também em São Paulo
Na manhã desta quinta-feira, 14, o Grupo Especial de Combate à Corrupção (Geccor) da Polícia Civil deflagrou a Operação BackDoor II com o objetivo de apreender computadores, celulares, documentos, contratos, extratos bancários e quaisquer outros elementos de informação atinentes aos investigados por processos de corrupção no Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo).
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Na primeira fase da operação, realizada em julho do ano passado, foi apurado que vários dos servidores envolvidos no esquema eram terceirizados de uma empresa contratada pelo Ipasgo, motivo pelo qual se instaurou outro inquérito com o objetivo de apurar a relação entre a empresa e o instituto.
Foi constatado então que o esquema criminoso envolve cerca de 65 pessoas até o momento. Uma delas, que acabou confessando a prática, explicou às autoridades como tudo era feito.
“Internavam uma pessoa e havia a necessidade de utilizar um medicamento. Na fatura eram cobrados cinco medicamentos, por exemplo. Quando isso chegava no Ipasgo e o audito via que estava errado ele retirava os quatro [excedentes]. Porém, nesse meio tempo, eles faziam uma alteração no sistema de forma que esses quatro medicamentos voltavam para a fatura. Ou seja, eram pagos sem terem sido utilizados”, explicou o delegado.
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Outro detalhe é que o contrato com a empresa investigada previa apenas o fornecimento de equipamento de tecnologia e de serviços técnicos e administrativos ao Ipasgo. No entanto, os próprios médicos da empresa também faziam as auditorias no órgão, ou seja, eles aditavam as contas do próprio local de trabalho. Os investigados poderão responder por inserção de dados falsos em sistema informatizado, corrupção ativa e passiva e organização criminosa.
Vale lembrar que a ação desta manhã contou com a participação de 236 policiais civis e apoio de 50 peritos. Ao todo, são 53 mandados de busca e apreensão, cumpridos nas cidades de Goiânia, Anápolis, Ceres, Aparecida de Goiânia, Inhumas, Itapaci, Jaraguá, Caldas Novas, Rialma, São Patrício e São Paulo, em desfavor de 25 pessoas físicas e 27 pessoas jurídicas.
O que diz o Ipasgo
Após a repercussão dos fatos, o Ipasgo disponibilizou uma nota à imprensa onde reitera que apoia “de forma incondicional a operação”. Veja o documento na íntegra:
A nova gestão do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo) apoia de forma incondicional a operação Backdoor II, que apura corrupção envolvendo hospitais e laboratórios particulares com envolvimento de colaboradores do plano de assistência. Todas as informações solicitadas pelos órgãos de controle estão sendo fornecidas.
O Ipasgo esclarece que as investigações se referem a ações iniciadas em gestões passadas e podem ter sido facilitadas pela fragilidade do sistema de tecnologia do órgão. Atualmente, o instituto possui mais 40 sistemas de tecnologias, que não são integrados e têm defasagem, que permitem, por exemplo, lançamento de serviços não realizados e desvios financeiros. Como apura a Polícia Civil do Estado nas operações Backdoor II, Morfina e Metástase.
A gestão do plano espera que todos os fatos relativos a tais denúncias sejam adequadamente apurados. Desde o início do ano passado, o Ipasgo atua para fortalecer as medidas de transparência e o combate à corrupção. Uma comissão de ética e transparência foi instaurada e fez levantamentos técnicos sobre a situação do plano. Os primeiros indícios de fraudes e desvios apareceram nestas auditorias internas e os dados foram reportados à Controladoria Geral do Estado (CGE).
Em 2019, o Ipasgo também aderiu ao Programa de Compliance Público e, seguindo as determinações do governador Ronaldo Caiado, está implementando, de forma contínua, ações para ampliar a transparência, gestão de riscos e controle dos atos, com o objetivo de combater quaisquer atos de corrupção na administração pública.
A nova gestão do Ipasgo defende a modernização dos sistemas de tecnologia e gestão, bem como o fortalecimento das ferramentas de combate à corrupção para conter estes tipos de fraudes e irregularidades, que podem colocar em risco a sustentabilidade do plano e, consequentemente, o atendimento de saúde de milhares de cidadãos goianos.
Ao longo dos anos de 2019 e 2020, a nova gestão do Ipasgo trabalhou pela recuperação financeira do plano. Neste período, foram pagas as dívidas deixadas pelos governos anteriores com a rede credenciada de mais de R$ 500 milhões. Após esta etapa, os pagamentos para empresas e profissionais credenciados ao Ipasgo foram regularizados e as datas de quitações foram unificadas pela primeira vez na história do plano.
O plano de assistência realizou revisão de contratos, acordos e convênios, que permitiu uma economia média de R$ 50 milhões. Ao final de 2019, a nova gestão alcançou um equilíbrio histórico nas contas anuais e o Ipasgo fechou o período com superávit. Entre 2013 e 2018, o órgão teve déficits crescentes e balanços anuais somente negativos.
A nova gestão ampliou a rede credenciada e novos serviços de saúde passaram a ser oferecidos em várias regiões do Estado, como Entorno do Distrito Federal, região metropolitana e oeste goiano. Em Aparecida, a nova gestão inaugurou a primeira unidade do projeto Ipasgo Clínicas, que agora oferece pronto atendimento 24 horas para crianças e programa saúde da mulher.
Ipasgo