Nelson Rassi alerta que medicamento emagrecedor não é perigoso se for receitado da forma correta para pacientes que de fato precisam e não possuem nenhuma restrição

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Remédio tarja preta, o sibutramina possui receituário especial que deve conter assinatura do paciente em um termo de consentimento | Foto: divulgação

Lindos, magros, musculosos, estampados em capas de revistas. É difícil não se sentir mal ao ver fotos de celebridades nos jornais ou redes sociais  exibindo “corpos perfeitos”. Não interessa se dizem que houve manipulação das imagens, se falta um umbigo ou um pedaço da perna.

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E é a vontade de alcançar um corpo ideal que causa tantos problemas e transtornos na vida de diversas pessoas, principalmente mulheres e jovens. Dietas absurdas, bulimia, anorexia e até uso de medicamento sem prescrição médica fazem parte desta busca. Dentre as formas de emagrecer está um medicamento forte, envolto em polêmicas: a sibutramina.

Na última semana, o depoimento emocionante de uma mãe tomou as redes sociais. “Perdi minha filha para a sibutramina”, escreveu a mulher, que explicou o ocorrido com a filha. A jovem estudante Carolina Martins Moura sofreu com os efeitos colaterais do medicamento, com mau humor, alucinações (ouviu vozes) e, segundo a mãe, provavelmente depressão — até cometer suicídio. “Tenho certeza no meu coração que se ela não estivesse sob efeito da sibutramina nada disso estaria sendo vivido hoje.”

O Jornal Opção Online conversou com o endocrinologista, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes e chefe da disciplina de endocrinologia do Hospital Geral de Goiânia, Nelson Rassi, que esclareceu alguns pontos sobre o medicamento. O especialista garante que frequentemente recebe em seu consultório pessoas que querem especificamente utilizar a substância — que é para tratar de obesidade — sem necessidade. “Aí eu explico os problemas e que não é indicado. Muitas vezes a pessoa aceita, outras saem insatisfeitas e vão tentar conseguir o remédio de outra maneira.”

Nelson Rassi explicou que a maioria das pessoas que procuram um médico para tratar de obesidade na verdade não sofrem com a doença, e tem apenas alguns quilinhos a mais que podem ser facilmente perdidos com dieta e reeducação alimentar. “Acham que são gordos por causa do modismo, por causa da ideia do corpo ideal.”

A sibutramina é um medicamento que possui diversos efeitos colaterais. Nos EUA e na Europa, por exemplo, o medicamento é proibido desde 2010 após um estudo que apontou aumento de risco de derrame e ataque de coração em pessoas que já apresentam problemas cardíacos.

No Brasil, como explicou Rassi, foi feito um acordo em que o remédio não poderia ser usado por pessoas com problemas cardiológicos. Desta forma, antes de receitar, o médico deve fazer uma avaliação completa no paciente a fim de identificar problemas cardíacos, dependência química ou distúrbios psiquiátricos.

O uso é tão sério que a sibutramina possui um receita especial, onde o paciente tem que assinar um termo de consentimento sobre os riscos do remédio — assim como é feito com o famoso remédio para a pele Isotretinoína (ou Roacutan). Além disso, nem todos os endocrinologistas podem receitá-lo. O remédio só pode ser prescrito por alguns especialistas, que devem ser registrados no Conselho Regional de Medicina e em seguida obter uma licença particular da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A sibutramina só pode ser prescrita por no máximo dois meses — quando o médico decide se irá receitá-lo novamente ou não. Nesse período, o acompanhamento deve continuar. De acordo com Rassi, por mais que muito se fale que o remédio corta o apetite, não é exatamente isso. “Ele não diminui a fome, mas a pessoa fica saciada mais rápido”, explicou.

Nelso Rassi não quis comentar o caso da jovem Carol, por não ter conhecimento completo do ocorrido. Mas, sobre a compra do medicamento ilegal, o médico explicou que em conversas já ouviu por diversas vezes de pacientes que têm acesso ao remédio em comércios ilegais. “Não sei dizer como. Mas isso também foge da responsabilidade do médico e passa a ser da polícia.”

Questionado sobre o efeito que pode ser causado em uma pessoa que utilize o remédio e ingere bebida alcoólica, o endocrinologista explicou que o medicamento atua no sistema nervoso central — assim como o álcool. “Ele agride o sistema nervoso central. Por isso, se o paciente usa o remédio e ingere álcool, ou utiliza cocaína, maconha, ou outras substâncias, pode levar a consequências graves, como nervosismo, convulsões e agressividade.”

Nelson Rassi explicou ainda que não existe outro remédio tão efetivo como o sibutramina no tratamento da obesidade. “Somos muito pobres em remédios para tratamento de obesos. Portanto, temos esse grande problema que atinge milhões de pessoas, e não temos outro remédio.”

“Não considero um medicamento perigoso”
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“Se for indicado a pacientes com algum desses problema, aí sim é perigoso, pode desencadear um infarto do miocárdio, transtorno de humor, instabilidade, insônia, agressividade, entre outros problemas”, disse médico Nelson Rassi | Foto: divulgação

Mesmo com todas as limitações e efeitos colaterais, o doutor Nelson Rassi disse ao Jornal Opção Online que não considera a substância perigosa. De acordo com ele, é necessário alguns cuidados, mas desde que seja prescrito por um médico correto que conhece o perfil do paciente e os efeitos do medicamento, não há perigo. “Perigosa é a pessoa que prescreve [sem cuidado] ou a pessoa que toma [sem prescrição].”

Rassi frisa que o remédio só pode ser receitado para casos extremos de obesidade. Desta forma, o médico deve sempre olhar: o paciente é realmente obeso? Realmente o remédio trará benefícios? O paciente tem contraindicações? Possui problema psiquiátrico, cardiológico ou pressão arterial elevada? Possui algum vício?

“Se for indicado a pacientes com algum desses problemas, aí sim é perigoso. Pode desencadear um infarto do miocárdio, transtorno de humor, instabilidade, insônia, agressividade, entre outros problemas”, disse o médico.

No caso da jovem Carol, a mãe disse em depoimento que a filha estava com alteração de humor e alucinações. O médico não quis comentar o caso, mas disse que de fato em pessoas que possuem transtorno de humor o remédio por agravar. “Sobre alucinações, eu não tenho conhecimento que a sibutramina isoladamente cause o problema. Agora em uma pessoa com predisposição, pode sim desencadear um transtorno psicótico”, explicou.