Médica de Preta Gil conta em entrevista os último momentos da cantora e explica que doença se espalhou por todo corpo

09 agosto 2025 às 11h33

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A médica Roberta Saretta acompanhou Preta Gil desde o diagnóstico de câncer, em 2023, até os últimos instantes da cantora, que morreu nos Estados Unidos em julho deste ano. Coordenadora da equipe do cardiologista Roberto Kalil, no Hospital Sírio-Libanês, ela conta ao jornal O Globo que o momento mais difícil foi comunicar o resultado do último exame, em março deste ano. “A doença tinha se espalhado para fígado e pulmões. Ela me perguntou: ‘Se eu não fizer nada, quanto tempo tenho?’. Respondi: de seis a oito meses. Explicamos que havia protocolos de pesquisa nos Estados Unidos que poderiam evitar a progressão rápida.”
Segundo Saretta, a rapidez da evolução da doença esteve ligada a fatores genéticos e à agressividade do tumor. “O câncer de intestino está muito vinculado aos hábitos alimentares, mas no caso dela havia mutações específicas. Essas mutações criavam uma espécie de capa que protegia o tumor da ação dos remédios. Os hábitos podem ter influenciado, mas o componente genético foi determinante”. A médica destaca que esse aspecto é relevante também para conscientização em saúde pública.
A busca por um tratamento experimental surgiu do desejo de Preta de viver por mais tempo. “Ela não queria apenas viver seis ou oito meses cercada de amigos. Ela queria viver mais 15 anos. Só entende isso quem lida com a morte. A possibilidade do tratamento experimental a iluminou”, afirma. A escolha levou a equipe a encontrar um centro médico disposto a incluí-la no protocolo.
Sobre a medicação experimental, Saretta explica que se tratava de uma terapia alvo, administrada por quimioterapia intravenosa. “Ela agia contra uma mutação, mas o câncer da Preta tinha mais de uma. Depois de quatro sessões, ela teve uma infecção e precisou interromper o protocolo. Quando voltou, fez mais uma sessão e vimos que os rins estavam enfraquecidos e a doença havia progredido. Tivemos de parar”. Foi a partir desse momento que começaram a planejar o retorno ao Brasil.
A viagem, porém, não foi concluída. Roberta relata que Preta estava determinada a voltar, mesmo com a saúde frágil. “Durante o trajeto de uma hora e 20 minutos até o avião, fiquei de frente para ela, repetindo que a levaria para casa. Ao chegar no aeroporto, ela passou mal e vomitou. Perguntei: ‘Preta, você dá conta de viajar?’. Ela respondeu: ‘Não dou conta’. Pedi para o paramédico nos levar ao hospital mais próximo. Minutos depois, ela se foi”.
Nos dias que antecederam a tentativa de volta, a médica e os amigos buscaram manter a rotina afetiva da cantora. “Celebramos a vida dela. Comemos hambúrguer, tomamos Coca-Cola com açúcar e fomos ao restaurante Balthazar, em Nova York, onde ela tinha estado com a Flora 15 dias antes da morte. Comemos o prato que ela amava, macarrão com lagosta e champanhe. Ela viveu intensamente cada segundo até o fim”.
Para Saretta, a trajetória de Preta Gil no enfrentamento da doença é marcada por coragem, lucidez e amor à vida. “Ela lutou com muito amor até os últimos instantes, sem perder a alegria e a disposição para viver. É raro ver alguém lidar com a terminalidade de forma tão plena”.