“Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve”, diz João Doria, oficialmente fora da disputa presidencial
23 maio 2022 às 12h32
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Ex-governador de São Paulo cede à pressão da cúpula tucana, que alega que João não tem apoio consistente dentro do partido e nas pesquisas eleitorais realizadas até agora
Ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB) cedeu à pressão e está oficialmente fora da disputa pelo Palácio do Planalto. A decisão, anunciada nesta segunda-feira, 23, encerra longos capítulos de uma crise interna que culminou na escolha, pela cúpula do PSDB, MDB e Cidadania na última quarta-feira, 18, da senadora Simone Tebet (MDB-MS) como única candidata da terceira via para a disputa à presidência da República. O agora ex-pré-candidato, deixou claro que a decisão acata a vontade do partido, não a dele.
“Hoje, dia 23 de maio, serenamente entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça erguida. Sou um homem que respeita o bom senso, o diálogo e o equilíbrio. Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade pessoal”, afirmou, visivelmente emocionado, ao lado da esposa, a artista plástica Bia Doria. João enfrentava resistências internas ao nome dele desde o final do ano passado. Ele foi escolhido nas prévias do partido, em meio a um processo tumultuado e a um cenário de muita divisão interna, com parte substancial da legenda defendendo o nome do então governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
Na ocasião, o então governador de São Paulo obteve 53,99% dos votos; Leite, 44,66% e Virgílio, 1,35%. O racha, no entanto, não foi apaziguado com a benção à João Doria. Tanto, que na manhã do dia 31 de março ele chegou a desistir da pré-candidatura à presidência. Mais tarde, no entanto, voltou atrás, manteve o nome na disputa e renunciou ao Governo de São Paulo. Agora, a saída do páreo deve ser definitiva. “Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção. Saio com o sentimento de gratidão e a certeza de que tudo o que fiz foi em benefício de um ideal coletivo, em favor dos paulistanos, dos paulistas e dos brasileiros. Saio como entrei na política: repleto de ideais, com a alma cheia de esperança e o coração pulsante, confiante na força do povo brasileiro que têm fé na vida e em Deus”, continuou Doria.
Segundo ele, o PSDB saberá tomar a melhor decisão quanto ao posicionamento partidário para as eleições deste ano e que ele agora segue apenas como um “observador sereno” do país. “Sempre à disposição de lutar a guerra para a qual eu for chamado. Na vida pública ou na vida privada”, acrescentou, após reunião com a Executiva tucana na qual foi reiterado o pedido para que ele saísse da disputa em prol do fortalecimento de Tebet como nome da terceira via. MDB, Cidadania e PSDB trabalham para consolidação de um nome único que seja uma alternativa viável ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que polarizam a disputa. Antes, o União Brasil também fazia parte do grupo, mas acabou desembarcando e anunciou o nome do presidente da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PE) como pré-candidato ao pleito.
Na última semana, quando João esteve em Trindade, Goiás, em uma das últimas agendas públicas como pré-candidato, ele havia subido o tom e mostrado disposição para ir à Justiça para manter a pré-candidatura, caso fosse efetivamente preterido. A possibilidade de judicialização do caso foi comunicada em carta direcionada ao presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo. A cúpula tucana alega que João não tem apoio consistente nem dentro do partido e que todas as pesquisas eleitorais até agora mostram que ele não conseguiu avançar enquanto nome para a presidência.