O ministro da Defesa, Braga Netto: falando pelas Forças Armadas o que Bolsonaro diz a seus apoiadores| Jorge William / Agência O Globo

Reportagem do “Estadão” sobre chantagem por voto impresso também dá melhor contextualização à nota oficial, que parecia endereçada apenas ao Senado

A explícita ameaça de golpe revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta quinta-feira, 22, é gravíssima e, em qualquer país adimplente com sua democracia, levaria imediatamente à cadeia o autor da intimidação.

Ao mandar, no dia 8 de julho, um interlocutor levar ao presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL) o recado de que não haveria eleições em 2022 sem aprovação do voto impresso/“auditável”, o ministro da Defesa/porta-voz da Presidência, o general da reserva Walter Braga Netto, esticou ao máximo a corda da chantagem institucional.

Como, em meio à função de emular de forma mais elaborada o que diz Jair Bolsonaro (sem partido), ele é também o chefe das Forças Armadas – com o agravante de, ao repassar a mensagem golpista estar, segundo relato da reportagem, acompanhado dos três comandantes das armas –, pode-se dizer que o Brasil está, desde agora, sobre um impasse diante da questão em debate: se aprovar o voto impresso/“auditável”, o Legislativo vai se mostrar tutelado pela ameaça; se não, estará pagando para ver até onde vai o blefe.

Com a matéria do Estadão vem também uma melhor contextualização à estranhíssima nota oficial do mesmo ministério, naquela mesma semana, quando o senador Omar Aziz (PSD-AM) foi respondido em um tom muito acima do necessário – se é que havia necessidade – em relação a um comentário seu como presidente da CPI da Pandemia.

Diante das evidentes mentiras do depoente Roberto Ferreira Dias, ex-sargento da Aeronáutica, Aziz lamentava descobrir uma “banda podre” nas Forças Armadas, embora deixasse claro isso ser uma minoria nos quadros.

Fica claro, agora, que o recado daquele dia era também endereçado à outra Casa: na Câmara, os deputados estavam, naquela mesma semana, dando sequência à tramitação do projeto de lei sobre o voto impresso.

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Desde 2018, os militares da ativa resolveram voltar a “comentar” a política nacional. Foi quando um tuíte do então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, chantageava o Supremo Tribunal Federal (STF) no dia da decisão sobre o habeas-corpus para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O governo Bolsonaro é uma sequência de golpismos desde que assumiram o poder. O presidente nunca respeitou a democracia, apesar de ter feito dela o ganha-pão de toda a família. Quem o conhecia já avisava sobre isso antes das eleições e não esperava outro cenário caso as vencesse. O que não estava no roteiro era essa tamanha submissão das Forças Armadas ao “mau militar”, como o ex-presidente general Ernesto Geisel tachou o então deputado.