Marina presidente é uma ameaça ao agronegócio goiano?
28 agosto 2014 às 19h04

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Jornal Opção foi atrás de produtores e representantes do agronegócio em Goiás para saber como o setor está reagindo à possibilidade de uma ambientalista chefiar o país

A entrada definitiva da ex-senadora Marina Silva (PSB-Rede) na corrida presidencial provocou mudanças inesperadas no cenário eleitoral para este ano. Enquanto os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) correm para não ficar para trás (o tucano já está), Marina enfrenta dificuldades em explicar possíveis incongruências quanto ao seu discurso por uma “nova política”. A maior delas, com certeza, envolve o setor do agronegócio.
Ambientalista de carteirinha, a candidata divide a chapa pessebista com o vice Beto Albuquerque, tido como elo entre a ex-senadora e os representantes do setor. Mais do que isso, Beto também representará a coligação nos estados em que PSB e Rede não possuem interesses em comum, papel assumido anteriormente pelo então cabeça de chapa, Eduardo Campos. “O PSB mantém as suas alianças, o Beto representará o PSB com essas alianças e eu estarei com os candidatos do PSB a deputado estadual e federal. Essa é a construção que nós fizemos e é o que está mantido”, defendeu a ex-ministra em entrevista recente.
Acontece que as diferenças ideológicas com o vice tendem a prejudicar Marina e sua candidatura. A questão foi levantada durante entrevista da presidenciável ao Jornal Nacional, na última quarta-feira (27). Na ocasião, Willian Bonner destacou as divergências entre os dois em questões caras para ela, como a produção da soja transgênica e a utilização de células-tronco em pesquisas. A ex-senadora, no entanto, parece não se amedrontar. Ao afirmar que a “nova política” sabe convergir as diferenças, a ambientalista tratou logo de destacar aquilo que a aproximaria de seu aliado. “Trabalhamos juntos no Congresso Nacional em diversas questões, como na aprovação da Lei da Mata Atlântica”, disse, pouco antes de encerrar a entrevista.
É com esse mesmo discurso, o da “convergência de diferenças”, que Marina pretende levar adiante sua relação com os representantes do agronegócio. Ao assegurar que o setor não é “homogêneo”, ela garante não acreditar que os produtores rurais brasileiros “reivindiquem produzir sem as preocupações com a agenda ambiental e social”. A candidata enfatiza a intenção de promover o desenvolvimento tecnológico na área rural, de modo a assegurar aumento de produtividade com menos exploração de recursos naturais.
Até então, o discurso da presidenciável tem sido mantido. Em entrevista à Agência Efe, o presidente da Associação Brasileira do Agrenegócio (Abag), Luiz Carlos Correia Carvalho, disse acreditar que os compromissos firmados entre Eduardo Campos e o setor agropecuário serão mantidos por Marina. O dirigente fazia referência às realizações de vários eventos do setor que foram feitos com a presença de Campos a fim de firmar uma agenda em comum. “Entendemos que formalmente esses compromissos do candidato e da sua vice estão mantidos com ela como cabeça de chapa. Portanto, os aspectos macros principais estão mantidos”, destacou Luiz Carlos.
Divergências
Com esse cenário de incertezas, o Jornal Opção Online foi atrás de produtores rurais e representantes do agronegócio em Goiás para saber como o setor está reagindo à possibilidade de uma ambientalista chefiar o país. Antes de entrar nesse mérito, no entanto, é necessário apontar a relevância indiscutível que o agronegócio apresenta para a economia nacional e, especificamente, para o Estado goiano.
No último ano, entre os meses de janeiro e setembro, tendo o agronegócio como carro-chefe, Goiás obteve o melhor crescimento registrado entre todas as unidades federativas, com um incremento de 7,68% em seu Produto Interno Bruto (PIB). Para se ter uma ideia, no período compreendido, o setor respondeu por mais de 75% das exportações goianas e gerou mais de 60 mil empregos.
É justamente essa produtividade — que torna o Estado de Goiás competitivo em relação a outros mercados — que pode estar em risco caso Marina ganhe as eleições presidenciais. Ao menos é o que afirma o candidato à Câmara Federal e ex-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner (PSD). Em entrevista, ele avaliou que a ex-senadora ainda mantém preconceitos contra o setor. “Desde a época em que ela foi ministra do Meio Ambiente, ela sempre demonstrou não reconhecer o agronegócio como o único negócio que dá certo no Brasil”, disse.
Schreiner também vê com desconfiança o fato de Marina se “apropriar” das relações que seu vice, Beto Albuquerque, possui com o setor a fim de uma suposta “aproximação”. “Ter um vice-presidente na chapa que compartilhe pautas com o agronegócio é importante, mas sabemos que vice nem sempre tem a influência necessária”, criticou.
Em contrapartida, Marina tem argumentado que sua imagem diante do agronegócio tem sido distorcida propositalmente, a fim de parecer contraditória quanto ao assunto. Para o senatoriável Ronaldo Caiado (Dem), no entanto, a ex-senadora permanece indisposta para com o setor rural e garante que, caso eleita, a pessebista fará com que a agricultura brasileira deixe de ser competitiva e moderna.
Antigo opositor dos ideais políticos defendidos por Marina, o democrata também comentou sobre os resultados positivos que a ex-senadora tem angariado em pesquisas eleitorais recentemente divulgadas. “Eu acredito que essas pesquisas dela são de momento. Não vai durar”, avaliou.
Deputado federal e agropecuarista, Roberto Balestra (PP) também questiona as intenções da presidenciável em relação ao setor. Para ele, o anseio do produtor rural brasileiro é que o agronegócio continue sendo “o carro-chefe da economia brasileira”. “O que eu digo é que o produtor está muito atento às atitudes dos presidenciáveis, e, como no passado as manifestações da Marina foram muito contundentes, ela assustou o agronegócio.”
Para o ex-deputado e produtor rural Wagner Guimarães (PMDB), no entanto, Marina não só não representa ameaças ao setor do agronegócio como também figura como a melhor opção para o cargo de presidente. O agropecuarista acredita que a ex-senadora irá manter a postura até então adotada por Eduardo Campos, e o Brasil não será prejudicado com isso. “Talvez não seja a opção ideal, mas a melhor que temos. Chegou o momento de ruptura. Sabemos que com os outros não vamos ter nada. Acredito em sua seriedade e estou de saco cheio de discurso político. Temos que reconhecer que ela é uma vencedora”, finalizou.
Divergências à parte, não se pode negar que Marina Silva, ao defender a “convergência de diferenças”, compartilha, ao menos na teoria, da opinião dos produtores rurais. Durante entrevistas ao Jornal Opção Online, todos consideraram ser possível manter a produção rural competitiva e moderna e, ao mesmo tempo, aliada às questões sociais e ambientais. “Eu acredito que a pauta ambiental é extremamente importante e sempre pregamos isso. Estamos preocupados é com os preconceitos que Marina ainda aparenta possuir, mas, uma coisa é fato, esta convergência é muito importante e ninguém vai ignorá-la”, apregoou o ex-presidente da Faeg.