Condenado por tráfico de drogas e homicídios, o ex-chefe do Comando Vermelho, Marcinho VP, lançou neste sábado, 12, o livro A Cor da Lei, em evento realizado no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Durante a apresentação da obra, o criminoso, que está preso desde 1996, lamentou a falta de oportunidades de reinserção social.

“Eu estou há quase 30 anos preso. Mudei. Escrevi, estudei, tentei crescer. Mas ninguém me dá uma chance de verdade”, declarou Márcio dos Santos Nepomuceno, durante o lançamento.

“Ninguém me dá uma chance de provar que mudei de verdade. A gente escuta falar sobre ressocializar, sobre dar uma nova oportunidade, mas na hora H, o que vejo é o olhar de reprovação, é como se só uma coisa fosse possível: pagar pelo erro e ficar guardado na lembrança como alguém que não tem salvação. Eu mudei pela minha família, pela minha verdade e pelos aprendizados que tive ao longo da vida”, finalizou.

A obra é uma ficção ambientada na cidade do Rio de Janeiro e, segundo o autor, busca provocar uma reflexão sobre desigualdade, sistema judicial e escolhas morais. O livro é descrito como uma trama que transita entre ruas, tribunais e disputas de poder, sugerindo paralelos com a vivência do próprio autor no mundo do crime.

Marcinho VP foi preso em 1996 e cumpre pena de 37 anos de reclusão por envolvimento direto com o tráfico e por ordenar execuções. Considerado uma das principais lideranças do Comando Vermelho nos anos 1990, sua atuação ficou marcada pelo domínio do Complexo do Alemão e a rivalidade com outras facções criminosas.

Mesmo detido em um presídio federal, o nome de Marcinho VP continuou associado a ações dentro e fora das unidades prisionais, segundo autoridades.

O criminoso diz que tenta se distanciar da imagem do criminoso temido. Segundo ele, o envolvimento com a leitura e a escrita é resultado de um processo de transformação pessoal dentro do sistema carcerário. “Não estou dizendo que quero sair sem pagar pelo que fiz, mas é como se, para alguns, eu não pudesse nunca mais fazer parte da sociedade”, comentou.

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Líder do CV, Marcinho VP é o primeiro “imortal” da Academia Brasileira de Letras do Cárcere.