“Marçal deixou claro em São Paulo que a direita não tem dono”, afirma Caiado durante racha do conservadorismo em Goiânia

26 outubro 2024 às 12h50

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Com a chegada de Fred Rodrigues (PL), candidato apoiado pelo ex-presidente Bolsonaro, e de Sandro Mabel (UB), apadrinhado pelo Governador Ronaldo Caiado (UB), no segundo turno em Goiânia, o racha dentro da direita ficou evidente. Pensando na campanha presidencial de 2026, Caiado poupa críticas a Bolsonaro, mas não a Fred Rodrigues. “É deprimente imaginar que a prefeitura possa cair nas mãos dessa quadrilha”, afirmou o governador se referindo a possível vitória de Rodrigues.
“Mabel foi escolhido por mim pelo fato de ter um perfil de administrador e eu preciso ter um prefeito aliado para tocar a gestão”, afirma Caiado.
Atritos com Bolsonaro
Apesar do governador de Goiás manter postura mais diplomática em relação a Jair Messias Bolsonaro, os dois já colecionam alguns episódios de atrito.
Durante a pandemia da Covid-19, enquanto Bolsonaro adotava medidas negacionistas, Caiado, que é médico, logo instaurou medidas de distanciamento social. “Nós na pandemia, fizemos o que tinha que ser feito. Fui contra governadores que falavam ‘fiquem em casa, a economia a gente vê depois’. Governador covarde! Governador covarde! O vírus ia pegar todo mundo, não tinha como fugir do vírus”, declarou Bolsonaro, se referindo ao episódio.
Caiado respondeu. Falando sobre si mesmo na terceira pessoa, o governador de Goiás e candidato à Presidência da República em 2026, afirmou que “Ronaldo Caiado é um homem que Deus o poupou do sentimento do medo”, ao ser questionado pela Folha de São Paulo sobre como recebeu a crítica de Bolsonaro.
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Caiado, por sua vez, é categórico ao afirmar que não leva arrependimentos: “Esse é um dos maiores orgulhos da minha vida: fui o primeiro governador a decretar medidas de isolamento social durante a pandemia. Sou médico, este é um mandamento primário para conter vírus desconhecidos. Mantive uma posição de salvar vidas”.
Agora, na campanha municipal de 2024, novos desgastes entre os representantes da direita surgiram. Em comícios em Goiás, Bolsonaro sobe aos trios ao lado de Fred e não menciona Caiado uma única vez.
Novas direções
Ao perceber a postura de Bolsonaro cada vez mais distante de si, Caiado começa a buscar alternativas ao apoio do ex-presidente para a campanha em 2026. “O Pablo Marçal deixou claro em São Paulo que a direita não tem dono”, disse ao se referir ao desempenho do ex-coach no estado paulista. Apesar do apoio declarado de Bolsonaro a Ricardo Nunes, o goiano Marçal conseguiu mobilizar parcela significativa do eleitorado paulistano.
Caiado busca agora se desprender do Bolsonarismo e criar movimento político que atraia tanto os eleitores da direita quanto os de centro. A próxima eleição vai ser a que terá mais candidatos à direita, eu não tenho dúvidas. “É muito difícil aglutinar todas as ideias em torno de um único partido e cada um sairá candidato com as suas teses no primeiro turno”, coloca o governador.
Enquanto isso, o presidente do maior partido da direita do país no atual momento, Valdemar Costa Neto do Partido Liberal (PL), tem um desafio: convencer os membros mais radicais de seu partido, como o próprio Bolsonaro e o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), a adotarem estratégias para ampliar o eleitorado, trazendo votos do centro para si.
“O próprio Valdemar [presidente do PL] já citou a importância de atrair outras correntes, construir um projeto, se antecipando a isso”, finaliza Caiado.