O Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Goiás (Sinpol-GO) se manifestou sobre o caso da médica que foi levada à Central de Flagrantes após discussão com policial durante atendimento de homem preso por violência doméstica. Na nota, a entidade sindical critica a postura da médica que recorreu às redes sociais e à mídia “com meias verdades” na tentativa de buscar engajamento e realizar “manipulação deliberada da opinião pública”. O sindicato afirma que “ não houve nenhuma ilegalidade na ação por parte dos policiais”.

Segundo texto publicado pelo Sinpol, existem partes no relato da profissional de saúde que não condizem com os fatos. Diferentemente do que foi relatado, não houve invasão do consultório por parte dos agentes, que só entraram após orientação na portaria de servidores do hospital. Outro ponto que o sindicato busca esclarecer é que não havia nenhum paciente no consultório no momento da chegada dos policiais, e também que a unidade de saúde não ficou sem atendimento, após a médica envolvida na discussão com o policial ter sido levada à Central de Flagrantes, “, tendo em vista que outros dois médicos também atendiam no ambulatório”.

O termo “prisão” também foi questionado pela entidade, que afirmou que a médica foi conduzida à Central de Flagrantes para prestar depoimento e registrar Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). Vale lembrar que TCO “é um registro de um fato tipificado como infração de menor potencial ofensivo, ou seja, os crimes de menor relevância, que tenham a pena máxima cominada em até dois anos de cerceamento de liberdade ou multa”, ou seja, “nada mais é do que um boletim de ocorrência, com algumas informações adicionais, servindo de peça informativa, para o Juizado Especial Criminal”, segundo informações do JusBrasil.

“Ressalte-se que a médica não foi algemada e sequer detida ou presa, ela acompanhou os policiais na viatura até o destino da Central de Flagrantes, onde foi lavrado TCO de desacato”, explicam. De acordo com a instituição, a médica foi liberada após recolhimento de seu depoimento para que voltasse ao trabalho. 

“O SINPOL acompanha de perto o desenrolar dos fatos e atuará para que o caso siga estritamente o devido processo legal. Já colocou seu departamento jurídico à disposição dos policiais para reparação de qualquer dano, inclusive na área Cível, de qualquer fala impensada ou acusação de qualquer crime aos policiais durante seu trabalho”, finalizam. 

Nenhum veredito oficial sobre as investigações em andamento foi divulgado pelas autoridades competentes.

Veja abaixo a nota completa do Sinpol Goiás.

Cremego e CFM

Também em nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) afirmou que vai apurar com celeridade os fatos, investigando também a conduta da médica, além de condenar a postura dos policiais. No texto, o Conselho afirmou que a servidora foi presa e cobrou resposta do governador Ronaldo Caiado (UB). 

O Conselho disse ainda, em publicação no Instagram, que “encaminhou ofícios, exigindo o urgente esclarecimento dos fatos, ao Governador Ronaldo Caiado, ao Ministério Público de Goiás (MPGO), à diretoria do Hospital Estadual de Trindade (Hetrin), ao Instituto de Medicina, Estudos e Desenvolvimento (IMED) e à Secretaria de Estado da Saúde”.

Após cobrar rigorosidade e celeridade na apuração dos fatos, a entidade afirma que solicitou reunião com o Secretário de Segurança Pública, Renato Brum, e com o Delegado-Geral da Polícia Civil de Goiás, André Gustavo Corteze Ganga, “para que os direitos e a segurança de todos os médicos de Goiás sejam protegidos”.

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Nos comentários da nota que foi publicada no Instagram, os internautas saúdam o posicionamento do Cremego, cobram a verdade e cobram posicionamento do governador Ronaldo Caiado (UB). Um dos comentários diz: “Gostaria muito de ver o pronunciamento do meu governador, principalmente por ele ser nosso colega médico”.

Além disso, o Conselho Federal de Medicina (CFM) compartilhou um vídeo do presidente da entidade, José Hiran da Silva, no qual ele se diz indignado com o “abuso de autoridade”. O presidente do CFM destaca ainda que enviou ofício ao governador Ronaldo Caiado (UB) para esclarecimento do caso. Na sequência, o perfil do Conselho Federal mostra vídeo de Sheila Soares Lustosa, presidente do Cremego, compartilhando mais detalhes sobre o caso. Na fala de Sheila, se fala em “prisão arbitrária”, se condena a atuação dos policiais e reforçam que havia paciente em atendimento durante a abordagem dos policiais. Tanto Sheila quanto José Hiran cobram investigação urgente e punição aos infratores.

Veja nota oficial do Cremego completa abaixo. 

Entenda o caso 

Uma médica que atendia no Hospital Estadual de Trindade (Hetrin) denunciou que foi levada por policiais civis, de forma agressiva, até a Central de Flagrantes após ser intimidada por um deles. O caso aconteceu na segunda-feira, 18, e, segundo a médica, foi durante uma consulta. Conforme o relato da profissional de saúde, os agentes de segurança entraram no consultório sem autorização, durante uma consulta, e exigiram prioridade para o atendimento de um homem detido por violência sexual. 

O caso foi amplamente divulgado pela mídia local, mas a profissional de saúde preferiu se manter anônima. 

Conforme alguns desses relatos da profissional, ela teria sido intimidada por um policial após ter pedido para que ele esperasse no lado de fora durante o exame de corpo delito do detido. Nesse ponto, a discussão teria se acalorado, com troca de gritos. 

Após a realização do exame no detido, quando a médica já atendia outro paciente, os agentes de segurança pública teriam retornado, “invadindo” o consultório mais uma vez, com câmera em mãos filmando a situação, e dado voz de prisão para a profissional. 

Nos relatos da médica, houve constrangimento pelo procedimento, já que foi realizado de forma violenta e na frente de pacientes e colegas, além de dizer que os policiais civis estariam ignorando a situação do hospital, que se encontrava lotado, e com muitos pacientes na sala vermelha do Hetrin. Após o fim dos depoimentos na delegacia, onde, segundo a médica, novas intimidações teriam acontecido, a profissional não conseguiu finalizar o plantão. 

O Jornal Opção tenta localizar a defesa da médica, a fim de garantir o direito de posicionamento.

Veja abaixo nota completa do Sinpol Goiás:

Fonte: Divulgação / Sinpol.

Veja abaixo a nota completa do Cremego, e na sequência a postagem no perfil Instagram do Conselho:

O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) tomou conhecimento das circunstâncias da prisão de uma médica, na noite de ontem, 18, no Hospital de Trindade.
O Cremego vai apurar em caráter de urgência se houve falha na conduta ética da profissional, mas desde já repudia e lamenta como os policiais agiram, desrespeitando e coagindo a médica em seu trabalho, desrespeitando o paciente cujo atendimento estava sendo finalizado quando entraram no consultório e efetuando uma prisão arbitrária.
Esperamos que o governador e médico Ronaldo Caiado, que tanto preza pela segurança pública em Goiás, e que as autoridades policiais e de segurança também apurem o fato de forma rígida.
Os médicos já estão sendo muito penalizados pelas más condições de trabalho na rede pública e não podem ficar expostos a mais essa forma de agressão e desrespeito.

Fonte: Reprodução / Instagram.