O Movimento Frente de Luta assegura que a prisão dos estudantes é fruto de perseguição política. A prisão de Ian, Heitor e João é uma intimidação para minimizar a revolta popular

“Somos solidários!”. Esse foi o grito mais ouvido por centenas de pessoas no centro de Goiânia na manhã desta quinta-feira, quando aconteceu a segunda manifestação contra a criminalização da luta popular. Para os grupos sociais presentes no ato, a solidariedade está em pedir a soltura imediata dos três estudantes presos pela Polícia Civil no último dia 23 na Operação R$ 2,80.

Ian Caetano, Heitor Vilela e João Marcos são  suspeitos de associação criminosa, incitação à violência e destruição de ônibus do transporte público. Eles seguem presos na Casa de Prisão Provisória (CPP), em Aparecida de Goiânia. O professor Cassio Tavares da Faculdade de Letras (FL) da Universidade Federal de Goiás (UFG) disse que a prisão dos jovens evidencia a atitude de inibir os movimentos sociais, os protestos. “A legislação não sustenta essas prisões, não existe um caminho policial suficiente para isso”, afirma o professor.

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A manifestação estava prevista para as 9h em frente à Catedral Metropolitana, no centro. O movimento ganhou força a partir das 10h30 quando todos saíram da porta da igreja e fecharam um dos lados da Avenida Universitária, tumultuando o trânsito na região central e leste da capital. O grupo presente passou pela ponte da Marginal Botafogo e retornou sentido Praça Cívica.

O Movimento Frente de Luta, idealizador do protesto, defendeu durante todo percurso que a prisão dos estudantes é fruto de uma perseguição política, uma clara intimidação de frear a organização e a revolta popular. “Nós pagamos o transporte, pagamos R$ 2,80, e não podemos exigir qualidade? Onde ficaram os direitos do consumidor?”, foram as indagações de um dos participantes do protesto que não quis se identificar. “Participo da construção desse processo de mobilização, mas por medo de repressão, que é o que aconteceu semana passada com a prisão dos meninos, eu prefiro não dizer meu nome”, justificou-se.

Segundo o sargento Saraiva, havia na manifestação quarenta policiais a pé e oito viaturas da Polícia Militar. Para os presentes, a polícia é um instrumento de perseguição daqueles que lutam por um país diferente. O mestrando em História, Fernando Viana, salientou que todos devem lutar contra as perseguições políticas e sociais que acontecem em Goiânia. “A luta não pode ser apenas contra um aparato repressivo, mas contra todos eles”, defendeu do carro de som o estudante.

No coreto da Praça Cívica, o grupo que manifestava contra a criminalização da luta popular se encontrou com o grupo de servidores administrativos, docentes e auxiliares de atividades educativas da Rede Municipal de Educação que entrou em greve nesta segunda-feira (26). Os servidores da prefeitura exigem melhores condições de trabalho, transparência na gestão pública e diálogo entre o prefeito Paulo Garcia (PT) e o Sindicato Municipal dos Servidores da Educação de Goiânia (Simsed).

O presidente do Movimento Popular do Campo e da Cidade (Terra Livre), Zelito F. Silva, disse que os movimentos sociais devem manter uma unidade. Em entrevista ao Jornal Opção Online, Zelito se perguntava quem são os responsáveis pela prisão dos estudantes. “Os responsáveis não são esses policiais que nos acompanham nas manifestações, esses policiais, por exemplo, fazem parte do sistema. Os únicos responsáveis são os governantes”.

O coordenador jurídico do Simsed e professor de História da rede pública de Goiânia, Antônio Gonçalves, foi intimado a depor nesta quarta-feira (29/5) às 16h, na Delegacia Estadual de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco). O delegado da Draco, Alexandre Lourenço, declarou ao Jornal Opção Online que a intimação de Antônio está relacionado com as investigações da Operação R$ 2,80. O coordenador disse que vai comparecer à delegacia. “Vou comparecer, mas como um ato de denúncia contra a corrupção e, principalmente, contra a repressão”, assegurou.

A professora de Educação Ambiental e presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Ailma Maria de Oliveira, disse que no momento que Antônio Gonçalves estiver depondo haverá um protesto na porta da Draco. “A luta não vai parar”, acrescentou.

Os grupos unificados seguiram até a porta do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás para buscar respostas sobre a soltura dos estudantes. O trânsito ficou complicado na região do centro. A Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) informou em nota que no momento do ato ao menos 40 linhas do transporte coletivo da Grande Goiânia foram desviadas e sofreram atrasos.