O espírito olímpico é associado à ideia de celebrar a dedicação e a competição saudável, mas para muitos, o foco é claro e direto: vencer. Em um cenário de alta performance como os Jogos Olímpicos, a busca pela vitória virou o único objetivo. Infelizmente, essa mentalidade está na cabeça de atletas e equipes, além do público externo, principalmente aqueles que acompanham as competições apenas a cada quatro anos.

Em uma competição onde a margem entre o sucesso e o fracasso pode ser de milésimos de segundos ou milímetros, um atleta pode ficar marcado na história ou ser considerado “irrelevante” nos detalhes. Por exemplo, nos 100 metros rasos masculino, o americano Noah Lyles levou a medalha de ouro e a glória com o tempo de 9.79 segundos. Entretanto, o jamaicano Oblique Seville com 9.91 segundos ficou em último e não deverá ser lembrado.

As Olimpíadas não deveriam ser assim, porque não foram criadas apenas para a glória, mas para valorizar o desempenho máximo e superação. Lembrando que no início apenas atletas amadores participavam dos jogos, e o profissionais ficavam de fora. Apenas nos Jogos Olímpicos de Seul em 1988 que os atletas profissionais foram liberados para competir.

O verdadeiro espírito olímpico também está em que chega em último, mas que se superou e deu o seu melhor. Em nível mundial, o desempenho pode não ser visto como relevante, mas esse desempenho poder histórico para uma nação.

Por exemplo, em Sydney 2000, Eric Moussambani, nadador de Guiné-Equatorial, nadou uma eliminatória de 100 metros rasos sozinho e terminou com o tempo de 1 minuto e 52 segundos. O medalhista de ouro do mesmo percurso, o holandês Pieter van den Hoogenband, alcançou o recorde mundial com 47 segundos.

Só que é necessário contexto: Moussambani começou a nada apenas quatro meses antes das Olimpíadas, já que o seu país não tinha um representante. Ele nadou em locais totalmente diferentes e apenas na cidade australiana nadou em uma piscina olímpica. De qualquer forma, o guinéu-equatoriano estabeleceu o seu recorde pessoal e de seu país.

Conhecido no evento como “Eric the Eel” (Eric, a enguia), ele virou celebridade na competição e queridinho do público. Em sequência, ele foi convidado para treinar na Espanha e parou de nadar em piscinas de lazer em sua terra natal. Posteriormente nadou em Atenas 2004 e em outras competições de natação.

Não apenas os Jogos Olímpicos de Verão, mas nos Jogos Olímpicos de Inverno também temos exemplos desse patamar. O desempenho do time de bobsled da Jamaica e do britânico Eddie Edwards, conhecido com “Eddie the Eagle” (Eddie, a Águia), no salto de esqui, também foram destaque na competição de inverno de Calgary em 1988. Nenhum deles foi campeão, mas todos se superaram e conquistaram o público pelo espírito esportivo.

Nos Jogos Olímpicos de Paris, o arqueiro do Chade, Israel Madaye, não teve um grande desempenho e perdeu para Kim Woo-jin, da Coreia do Sul, que levou três medalhas de ouro no evento. Entretanto, o atleta ganhou o respeito dos coreanos, principal potência da modalidade, pelo seu espírito olímpico. Posteriormente, Madaye disse que apenas o país asiático valorizou a sua dedicação ao esporte, após a eliminação.