Um estudo da Mútua, a Caixa de Assistência dos Profissionais do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), revelou que mais da metade dos engenheiros que não atuam em suas respectivas áreas se formaram em cursos com nota 1 ou 2 no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade).

O levantamento faz parte da publicação técnica “O Futuro das Engenharias no Brasil”. O objetivo do estudo foi destacar a preocupação com a formação educacional de baixa qualidade, a demanda do mercado por profissionais, além de outros tópicos.

No Brasil, há cerca de 1,2 milhão de engenheiros registrados. Desse total, 18,1% são os profissionais que estão fora do mercado. Além disso, apenas 6% das Instituições de Ensino Superior (IES), consideradas de alto desempenho, ou seja, com nota 4 ou 5 no Enade, formaram pessoas que estão nesse “limbo”.

“Esses profissionais têm registro, mas não trabalham com carteira assinada, nem são empreendedores. Daí, imagina-se que há um contingente significativo de profissionais em subempregos ou que atuam na informalidade”, diz o estudo.

Do total de registrados, 53,3% atuam com carteira assinada, com 32% em empresas ligadas às engenharias e 21,3% não ligadas. Além disso, 28,6% atuam como empreendedores, sendo autônomos, ou empresários individuais, ou, ainda, empregadores.

“Com baixa qualificação, não é surpresa que muitos profissionais não consigam se inserir no mercado ou atuem na informalidade. A má formação não afeta apenas os próprios profissionais, mas, também o país, que não consegue posicionar-se de forma competitiva em um ambiente global onde conhecimento e inovação definem quem terá relevância econômica e influência global”, ressalta a publicação técnica.

Conforme os dados mais recentes do Anuário de Competitividade Mundial de 2023, elaborado pelo International Institute for Management Development, o Brasil está classificado em 60º lugar no ranking de competitividade, que abrange 64 países.

Em relação ao Ranking dos Cursos de Engenharia e Tecnologia da Quacquarelli Symonds, apenas três instituições de ensino superior brasileiras (USP, Unicamp e UFRJ) conseguiram figurar entre as 300 melhores do mundo.

“Tratar da qualidade da formação mostra-se, mais uma vez, fundamental. Além disso, com as mudanças percebidas em nível global, as habilidades futuras a serem exigidas dos profissionais das engenharias também irão mudar, obrigando as universidades a fortalecerem em suas grades curriculares competências cognitivas mais elevadas, habilidades sociais e emocionais e, também, a capacidade de rapidamente compreender e controlar novas tecnologias”, aponta o estudo.

“De forma adicional, como quase 30% atuam como empreendedores, a formação nessas profissões deve, necessariamente, terem fortalecidos temas como gestão, empreendedorismo, inovação etc., sob risco de suas empresas não prosperarem no longo prazo”, completa.

Demanda do mercado

Outra informação importante diz respeito à faixa etária dos profissionais, predominantemente situada entre 25 e 45 anos. No período de 2014 a 2020, observou-se uma diminuição de quase 30% no número de candidatos participando dos processos seletivos para os cursos de Engenharia.

Isso implica que mais de 500 mil jovens perderam o interesse em seguir carreiras na área das engenharias nesse intervalo.

A partir de 2011, constatou-se que 54,5% dos graduados em cursos de engenharia não efetuaram registro profissional. Além disso, entre 2010 e 2017, a taxa de evasão desses cursos aumentou de 6,3% para 11,2%.

“Como tem decrescido o interesse dos jovens pelas profissões das engenharias – ainda que elas continuem com grande demanda – com a aposentadoria dos mais velhos, não haverá a reposição desejável nessas profissões, diminuindo o número de profissionais. Se compreendemos o cenário de desindustrialização pelo qual o país tem passado, fica fácil perceber o risco a que essas profissões estão sujeitas e a dificuldade que o Brasil terá em se desenvolver”, argumenta o estudo.

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