Mais da metade das capitais e Estados brasileiros ainda não tiveram prefeitas ou governadoras

08 março 2023 às 17h00

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16 das 26 capitais brasileiras – Brasília não tem eleições municipais – mais da metade de todo o país – nunca tiveram prefeitas. Goiânia é uma delas. Além da metrópole goiana, Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Cuiabá, Curitiba, João Pessoa, Macapá, Manaus, Porto Alegre, Porto Velho, Rio de Janeiro, Recife, São Luís, Teresina e Vitória também nunca elegeram uma mulher como chefe do executivo municipal. Nas últimas eleições municipais, apenas uma mulher se elegeu prefeita: Cinthia Ribeiro (PSDB), que foi reeleita ainda no 1º turno.
No nível estadual, a realidade não é muito diferente. 14 dos 27 entes federados – também mais da metade – ainda não tiveram governadoras. E vale destacar que em alguns dos que já tiveram, mulheres assumiram o cargo de chefe do executivo estadual porque eram vices e ficaram no lugar dos titulares, que renunciaram os cargos. Na presidência, a única mulher que já ocupou o posto no país, Dilma Rousseff (PT) sofreu impeachment antes de terminar seu último mandato.
Para a cientista política, Marcela Machado, algumas variáveis explicam esse fenômeno, mas que, sobretudo, trata-se de uma questão estrutural. Temos que lembrar que vivemos no seio de uma sociedade patriarcal”, explicou a especialista ao lembrar que neste ano o voto feminino completa 91 anos.
“Infelizmente, temos estudos que indicam que mulheres não necessariamente votam em mulheres. Também temos um grande desincentivo para candidaturas femininas. Embora tenhamos cotas de gênero e incentivos financeiros para a candidatura, os partidos incentivam pouco essas candidaturas”, completou Marcela.
Além disso, a cientista política lembra que geralmente, as candidaturas de mulheres estão sempre vinculadas a um “apadrinhamento” ou por algum vínculo familiar (filha ou esposa de alguém – do sexo masculino – que já tem carreira na política). “Raramente iniciam carreiras do zero”, avaliou.
A falta de representatividade feminina na política, inclusive, foi tema de uma disciplina ministrada na Universidade Federal de Goiás (UFG), pela cientista política Camila Romero. Segundo ela, questões institucionais – leia-se o sistema partidário brasileiro e as regras eleitorais – podem ajudar a explicar a questão. “Não é difícil se candidatar em qualquer partido no Brasil, o difícil é ser competitivo. E se a candidatura é pouco competitiva, a mulher não vai ser eleita”, afirmou a professora.
Camila reconhece que o conjunto de regras que se denomina lei de cotas foi responsável por aumentar o número de candidaturas femininas, apesar de isso não ser refletido no número de mulheres que conseguem se eleger. No entanto, ela ressalta que elas só valem para cargos legislativos, nas eleições proporcionais. “Com as cotas, os partidos começaram a procurar mais mulheres, mas não oferecem qualquer tipo de estrutura ou condições de campanha pra essas candidatas”, denunciou a especialista.
Para a cientista política, hoje as eleições brasileiras ainda são “muito personalizadas naqueles candidatos que ocupam posições de evidência” e “temos poucas mulheres na posição de protagonista”. E isso não é exclusividade do Brasil: “Em outros países, como os Estados Unidos, a gente encontra contextos similares de baixa representatividade feminina”, avaliou.
Segundo a especialista, a literatura mostra que partidos com ideologia esquerdista são mais propensos a apoiar candidaturas femininas. “Mas as prefeituras majoritariamente são ocupadas por representantes oriundos de partidos considerados de centro ou de direita”, arrematou a despeito de mais de 50% do eleitorado ser formado por mulheres.