Maioria de mortes por Covid ocorre pela primeira vez entre menores de 60 anos
20 junho 2021 às 11h13
COMPARTILHAR
A proporção de vítimas sem fatores de risco – menores de 60 anos e sem nenhuma doença crônica – mais do que dobrou desde os primeiros meses da pandemia
Dados do Ministério da Saúde que registra internações e óbitos por Covid-19 mostram que 54,4% das vítimas mortas em junho tinham menos de 60 anos. Em maio, esse índice era de 44,6%. Em todos os meses do ano passado, esse percentual ficou sempre abaixo de 30%.
O início da vacinação dos idosos em janeiro ajuda a explicar o fenômeno, mas não é a única razão para a alta na proporção de óbitos de adultos mais jovens. Segundo especialistas, o desrespeito a medidas de proteção com distanciamento social e o uso de máscara e a disseminação das novas cepas – potencialmente mais agressivas – podem estar causando mais óbitos em pessoas jovens.
O alerta vale inclusive para adultos que não possuem comorbidades. A proporção de vítimas sem fatores de risco – menores de 60 anos e sem nenhuma doença crônica – mais do que dobrou desde os primeiros meses da pandemia. De acordo com um levantamento feito pelo jornal Estadão, 20,7% de todos os mortes por Covid em junho tinham esse perfil. No mesmo mês do ano passado, esse índice foi de 7,75%.
Em números absolutos, há nova tendência de crescimento do número de óbitos entre pessoas de 0 a 59 anos a partir da semana epidemiológica 20, que começou em 16 de maio. Ao mesmo tempo, a curva de vítimas idosos vem mantendo queda sustentada.
A média de idade das vítimas também vem caindo mês a mês e, pela primeira vez, ficou abaixo dos 60 anos. Enquanto em 2020 a maioria das vítimas tinha mais de 70 anos, em junho de 2021, a mediana de idade dos mortes é de 58 anos. Os dados deste mês consideram os registros até o dia 14 e ainda podem sofrer atualizações devido a atrasos no preenchimento do sistema Sivep-Gripe.
Somados todos os brasileiros vítimas de doença desde a chegada do coronavírus ao país, os idosos seguem com a maioria entre os mortos, correspondendo a 70,1% dos óbitos. Os homens são maioria entre os que perderam a vida (56,1%). E cerca de 10% dos 500 mil mortos pela doença não eram idosos nem doentes crônicos – quase 50 mil brasileiros, portanto, perderam a vida mesmo sem serem considerados de nenhum grupo de risco.
O saldo trágico de meio milhão de vidas interrompidas e o crescimento de óbitos entre os mais jovens são, para especialistas, resultados das armadilhas de um vírus traiçoeiro somadas à negligência e aos negacionismo do governo federal.