Máfia da saúde: saiba quem é um dos secretários presos, Quesede Ayres Henrique
27 novembro 2024 às 19h57
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Preso nesta quarta-feira, 27, o secretário executivo de Saúde de Goiânia, Quesede Ayres Henrique, já esteve à frente da pasta de forma interina, assumindo o cargo quando Wilson Pollara foi afastado pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Além de sua atuação no setor público, Quesede possui uma empresa registrada em seu nome, mas demonstrou desconhecimento sobre a área de atuação ao ser questionado pelo Jornal Opção. A empresa tem múltiplos CNAEs cadastrados, e ele afirmou que o serviço prestado está relacionado à “importação e exportação”.
Após ocupar diversos cargos públicos no Tocantins, como ex-secretário de Habitação e ex-secretário-executivo da Secretaria de Estado da Saúde (SES) durante o governo de Mauro Carlesse, além de atuar como Secretário Extraordinário de Ações Governamentais e Parcerias Público-Privadas no governo Wanderlei Barbosa, o administrador de empresas Quesede Ayres foi nomeado como secretário-executivo da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia no dia 2 de outubro de 2023.
Quesede é sócio da empresa Torre Forte Comércio e Importação, fundada em maio deste ano. A empresa tem como atividade principal o comércio varejista especializado de equipamentos de telefonia e comunicação. No entanto, também presta serviços de comércio de medicamentos e drogas de uso humano, além do comércio de produtos farmacêuticos sem manipulação de fórmula e de aparelhos para uso odonto-médico-hospitalar.
O Jornal Opção procurou a SMS e a defesa dos três investigados, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.
Sócio da empresa de Quesed
Mudanças administrativas ocorridas na Prefeitura de Gurupi, desde o início da gestão de Josi Nunes, chamaram atenção para a trajetória de Valdeci Alves Rocha Júnior, que ocupou diferentes cargos na administração municipal. Ele assumiu o posto de Secretário de Administração em 2021, quando a prefeita iniciou seu mandato, mas foi exonerado em janeiro de 2022. No mesmo dia, foi nomeado Secretário Municipal do Idoso, antes de assumir, meses depois, a Secretaria de Assistência Social e Cidadania.
A exoneração de Valdeci da Secretaria de Administração coincidiu com a entrada de Juliana Passarin, uma figura próxima ao ex-governador Mauro Carlesse, que teve seu mandato cassado em 2021 por abuso de poder político. Apesar de Josi Nunes ter conseguido reverter a cassação de seu mandato na época, as mudanças no cenário político refletiram na composição do governo municipal. Passarin assumiu o cargo no início de 2022, enquanto Valdeci foi transferido para outras pastas.
Informações preliminares sugerem que o rompimento político entre Valdeci e a prefeita pode ter influenciado as exonerações subsequentes, mas não há explicações oficiais detalhadas sobre os motivos dessas decisões. Valdeci deixou a gestão em novembro de 2022, encerrando sua passagem por diversas funções no governo de Josi Nunes.
A movimentação reflete o impacto das mudanças no cenário político estadual e municipal, além de disputas internas que moldaram a administração de Gurupi. Ex-integrantes da gestão confirmaram o distanciamento entre as partes, mas informações detalhadas ainda são aguardadas para esclarecer os bastidores das exonerações.
O Ministério Público de Goiás (MPGO), por meio do Grupo de Atuação Especial no Patrimônio Público (GAEPP), deflagrou nesta quarta-feira (27) a Operação Comorbidade. A ação investiga práticas de crimes como associação criminosa, corrupção e irregularidades em licitações e contratos na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, em prejuízo à saúde pública. Três mandados de prisão temporária e oito de busca e apreensão foram cumpridos.
- Leia também: Título de Cidadão Goianiense de secretário executivo da SMS seria votado na Câmara no mesmo dia da prisão dele
Ao invés de fiscalizar, Câmara faz homenagens
Os vereadores votariam na sessão desta terça-feira, 27, o Título de Cidadão Goianiense para Quesede Ayres Henrique, secretário executivo da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), preso nesta manhã em operação do Ministério Público. A homenagem havia sido proposta pelo vereador Markim Goyá (PRD), mas foi retirada após prisão de Quesed. Curiosamente não foi a primeira vez que ele foi homenageado.
O Jornal Opção tentou conversar com o vereador Markim Goyá (PRD) durante a sessão sobre o título de homenagem, mas ele alegou que não estava se sentido bem e preferiu não comentar mais a respeito.
Quesede recebeu o Diploma de Honra ao Mérito na Sessão Especial em Homenagem aos Trabalhadores da Saúde, homenagem proposta pelo vereador Leandro Sena (SD).
Entenda o esquema criminoso
Os alvos foram: Wilson Modesto Pollara, Quesede Ayres Henrique e Bruno Vianna Primo, apontados como membros de um esquema que desviava recursos públicos destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o MP, os investigados direcionavam pagamentos irregulares a determinados credores, violando a ordem cronológica de quitação e prejudicando outros fornecedores e instituições hospitalares.
Conforme a promotoria, os repasses federais para serviços hospitalares e ambulatoriais, que somam cerca de R$ 50 milhões mensais, estavam sendo manipulados e, em muitos casos, nem sequer chegavam aos hospitais conveniados. Essa prática gerou uma dívida acumulada que ultrapassa R$ 300 milhões e comprometeu serviços essenciais, como cirurgias e a colocação de marcapassos.
O GAEPP destacou que há indícios de pagamentos clandestinos e desvios com promessa de devolução de valores. Identificamos direcionamento a determinadas pessoas jurídicas, em detrimento de outros credores, e pagamentos realizados fora dos caixas oficiais. Além do impacto financeiro, a crise resultou em paralisação de serviços e desestruturação da rede de saúde municipal. A dívida da SMS com a Fundahc, que era de R$ 60 milhões no início da atual gestão, mais que dobrou em pouco mais de um ano, atingindo R$ 120 milhões.
Coordenador do GAEPP aponta condutas que estão em investigação
Segundo o coordenador do GAEPP, Rafael Correa Costa, as irregularidades envolviam pagamentos feitos pela SMS, com direcionamento a determinados credores (pessoas jurídicas) da Fundahc, em detrimento de outros credores. “Identificamos também pagamentos feitos de maneira irregular, podemos dizer clandestinamente, fora dos caixas oficiais, sem a devida declaração na contabilidade pública”, informou Rafael Correa. Ele acrescentou que foram verificadas ainda ordens diretas de pagamentos vindas da SMS, em ajuste para favorecimento de pessoas específicas, inclusive com a informação de que poderia haver a posterior devolução de valores, o que ainda está sendo investigado.
“Essa operação tem por finalidade apurar adequadamente os fatos. Ela é apenas uma fase da investigação, que terá continuidade”, assegurou o coordenador do GAEPP. A próxima fase, complementou Rafael Correa, será a análise do material apreendido. Ele enfatizou que a apuração está em sigilo, ponderando ser a medida necessária tanto para resguardar pessoas que contribuíram para as investigações como para o sucesso de algumas diligências ainda em andamento.
O promotor explicou que estão sendo apurados, até o momento, os crimes de concessão de vantagens em contratos com a administração pública e pagamentos irregulares com violação da ordem cronológica, previsto no artigo 337-H, do Código Penal (CP), e de associação criminosa, descrito no artigo 288 do CP. Mas ressalvou que a apuração poderá vir a indicar outras condutas criminosas.
Sobre as prisões temporárias, Rafael Correa esclareceu que a medida foi requerida para resguardar a investigação e garantir o êxito das diligências que continuam em andamento, tendo em vista informações de que teria havido determinação para que potenciais testemunhas ficassem caladas, atuação para criar empecilhos à produção de provas, entre outros pontos.