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Zum-zum-zum, a moral do Brasil “tá voando e tem alguém que tá se incomodando”, como na música-chiclete de Talita Mel. Veja-se o caso do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, que incomoda autoridades, mas as norte-americanas. Puseram sua cabeça a prêmio sob acusação de chefiar o tráfico de drogas. Lá, “tu não tem mais esse melzin” e no Brasil ainda é visto como chefe… de Estado.

Seus sucessos eleitorais são refugados pelo planeta inteiro. Aqui, integrantes do governo federal os comemoram como se fossem legítimos. Mudou a data do Natal e no lado de cá da fronteira os mandatários preferem crer no Papai Noel a duvidar do Monstro de Bigode.

Quem “tá se incomodando é porque tá vivendo no rolê” Caracas-Boa Vista, pois quando se imaginava que sua criatividade para o absurdo havia se esgotado, Maduro taxou os produtos brasileiros em até 77%. Passou a punir Roraima, que acolhe os fugitivos da fome vítimas do bolivarianismo.

Antes de o galo cantar 3 vezes para se confirmar a traição à companheirada, o tirano voltou atrás, fez cara de paisagem, disse que foi equívoco do sistema –a Venezuela está de tal forma obsoleta que pode ter sido erro de datilografia.

O Brasil chegou a esse piso de poço, desprestigiado a ponto de um anão da economia global nos aplicar um passa-moleque e a gente agradecer porque o ditador se desdisse. Talvez tenha sido mais um teste a que o chavismo submeteu Brasília.

No ano passado, Maduro promulgou a lei tomando Essequibo, uma riquíssima região da Guiana quase do tamanho do Uruguai. O déspota não consegue administrar sequer a Venezuela e pretende deixar a nação vizinha com meros 50.000 km² –se fosse um município do Brasil, seria o 18º em área, não estaria nem entre os 10 maiores do Amazonas.

Desde 2023, Maduro divulga o mapa do que supõe ser seu reino, Essequibo incluído. A reação do Ministério das Relações Exteriores foi a esperada, ou seja, nenhuma. Mantido esse nível de desrespeito com o Brasil, daqui a pouco:

  • a Bolívia vai reanexar o Acre;
  • o Paraguai abocanhará parte do Mato Grosso;
  • piratas se sentirão à vontade para questionar nosso mar territorial;
  • Cuba pegará Fernando de Noronha para prisão de anticomunistas;a França ficará com o Amapá e suas reservas de petróleo na Margem Equatorial;
  • as ONGs oficializarão a posse da Amazônia;
  • o Comando Vermelho vai declarar a (in)dependência do Rio de Janeiro.

E nós aqui olhando os cortes no YouTube. Se não quiser se indignar, “pula os stories pra tu não sofrer”, já que o quanto pior, melhor requalifica o presidente da República para a reeleição em 2026. A recompensa a quem capturar Maduro é de U$S 25 milhões.

Uma merreca para o que já deu de prejuízo ao povo da Venezuela, uma fortuna para os padrões do Disque-Denúncia, sistema carioca que estimula a delação de bandidos e está pagando R$ 5.000 por milicianos e traficantes. Na cotação de 3ª feira (29.jul.2025), a cabeça do salafrário vale 28.000 vezes mais que o pescoço de marginais comuns.

Depois da vitória da tríplice aliança sobre o sanguinário Solano López, os vencedores poderiam ter dividido e se apossado proporcionalmente de todo o Paraguai. O sábio imperador Pedro 2º rejeitou para não ampliar a fronteira com a Argentina, à época uma fonte de encrencas.

Infelizmente, a República não produziu um Pedro 2º para rebater no nascedouro a ideia de Maduro de invadir Essequibo para aumentar de 2.200 para 3.000 km a divisa do Brasil com a Venezuela.

“Vai doer, vai doer”, repete Talita em “Melzin”. Os cofres sangrarão para tirar as tropas da Venezuela de dentro da Guiana. Trata-se de um exército em farrapos, porém outros malucos estão batendo bumbo para Maduro. Daniel Ortega, sua versão na Nicarágua, já lhe ofereceu homens e equipamentos para engrossar as fileiras.

Vai doer no bolso do pagador de impostos nacional. Saddam Hussein acrescentou o Kwait ao Iraque nos anos 1990 e a estimativa é que os Estados Unidos gastaram U$S 8 trilhões para o derrotar. Saddam queria do Kwait o que Maduro quer na Guiana, riquezas sob o solo. Essequibo tem petróleo, ouro, urânio, gás e bauxita.

Valer-me de uma canção que toca incessantemente em tudo quanto é aparelho eletrônico, talvez até em marca-passo, é minha forma de desenhar o alerta, para depois a população sequestrada pelo malfeitor não inquirir como Talita Mel: “Quem mandou não cuidar de mim?”.

Para a esquerda brasileira, o inimigo agora é outro, os judeus. Não facções locais e estrangeiras como o Cartel de los Soles, que os norte-americanos dizem ser comandado por Maduro e 2 de seus principais ministros, o da Defesa e o de Interior, Justiça e Paz. O governo Lula, cuja agenda internacional deve estar sendo feita “no tuts-tuts do paredão tocando” o terror, retirou o Brasil da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto.

Onde os dirigentes se preocupam com o interesse público, não com a próxima eleição, o foco é outro. Os 27 países da União Europeia fecharam acordo com os Estados Unidos por tarifa de 15%, mesmo índice conseguido pelo Japão, que vai receber investimentos superiores a meio trilhão de dólares. Também houve consenso com outros grandes da Ásia, a começar da potência hegemônica, a China. O Reino Unido, fora da UE, acordou em 10%.

Enquanto isso, o Brasil reage pagando a conta de energia de 60 milhões de eleitores, botijão de gás em 17 milhões de lares, benefício em dinheiro para os motoristas de aplicativo, 54 milhões de Bolsas-Família e 6 milhões e 700 mil indo com salário-mínimo mensal do Benefício de Prestação Continuada.

Essas pessoas não têm outra saída, pois a reeleição exige que fiquem onde estiveram desde 2003, no CadÚnico. Como quem tem almoço e janta consta na estatística como classe média, estão reservados R$ 5.000 para montar uma loja. Quem disse que “tu não tem mais esse melzin”?

Demóstenes Torres, 64 anos, é ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, procurador de Justiça aposentado e advogado. Escreve para o Poder360 semanalmente às quartas-feiras.

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