Lula deve ser candidato do centro à presidência em 2022
16 abril 2021 às 18h48
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Para ultrapassar porcentagem de Bolsonaro nas urnas, petista faz aceno a setores liberais
Com a tomada de decisão por parte do STF na última quinta-feira, 15, sobre anular as condenações de Lula e lhe devolver os direitos políticos, tanto direita quanto esquerda se veem assombradas pelo fantasma da candidatura do líder populista, que incomoda diversos grupos políticos e nunca enfraquece.
No olhar do advogado criminalista Bernardo Fenelon, a decisão da Corte em anular as condenações foi correta. “O entendimento do plenário se manteve no sentido anteriormente decidido de forma monocrática pelo Ministro Edson Fachin. Ou seja, houve a confirmação da incompetência do juízo da 13ª Vara Federal do Paraná. Acredito que a decisão é acertada e está de acordo com a jurisprudência do Tribunal”, afirmou.
Lula pode ter sido massacrado nos últimos anos por grande parte da imprensa, magistrados, empresários, políticos de oposição e até grande parte da população que ficou confusa no meio do fogo cruzado, mas uma coisa não se pode dizer de Lula: que ele está apagado.
O líder político que virou uma instituição muito maior que seu próprio partido, o PT, é a maior ameaça à reeleição do atual presidente Jair Bolsonaro. E diante de um cenário pandêmico e de um futuro esfumaçado, mesmo aqueles que não sabem dizer se Lula é inocente ou culpado ainda cogitam carimbar 13 na urna em 2022.
Se por um lado, Lula é a maior ameaça de Bolsonaro, para Lula, seu maior entrave é Ciro Gomes, a única pedra no caminho para alcançar maioria de votos no próximo pleito. Para o cientista político Guilherme Carvalho, a estratégia do ex-presidente será fugir da polarização e se posicionar mais ao centro, que à esquerda.
“O Lula irá buscar derrubar as candidaturas de centro para se consolidar nesse meio. Bolsonaro tem mais dificuldade de dialogar com o meio. Ele [Bolsonaro] é um candidato naturalmente de direita stricto sensu. O grande problema para Lula neste momento é Ciro Gomes, que é ponte de passagem dele para o centro que conserva ali seus 10 a 13 pontos em todas as pesquisas. Na pesquisa XP deu 9%, no Ipesp deu 11%. Ele fez 13% na última eleição. É a passagem do Lula para o meio. Temos consolidado que Bolsonaro tem 30% e Lula também tem 30%. Aí temos 20% ou até menos, porque tem abstenção, em disputa para o segundo turno”, calculou.
Até porque dentro da esquerda política brasileira, Lula já tem a fidelidade dos eleitores. A corrida do petista será para buscar os votos que ainda não tem dono ou que pertencem a candidatos que não tem força para disputar segundo turno com Bolsonaro.
“Ele vem dialogando com setores liberais. Tem se falado da possibilidade de Marcos Lisboa e outros economistas, que inclusive assinaram uma carta contrária às políticas adotadas por Bolsonaro na pandemia”, lembrou o cientista político. “Também há uma tendência de Lula a avançar sobre os partidos mais fisiológicos, tentar atraí-los agora. Em especial, aqueles partidos que tem forte capilaridade no Nordeste, lugares onde o PT perdeu muito espaço. Mas temos que dissociar uma coisa da outra. Uma coisa é Lula e outra é o PT. Então eu cito o PP, de Arthur Lira, e o próprio PL”, apontou.
“Lula irá buscar uma reorganização de composições partidárias e nesse sentido eu acho que ele sai muito na frente dos outros, porque ele é seu próprio cartão de visita. Ele tem serviços mostrados e tem condições de dialogar amplamente. Sem dúvida nenhuma eu acho que Lula chega em 2022, ao menos neste recorte, como o candidato mais competitivo. Inclusive que o próprio incumbente do cargo está sofrendo uma série de pressões por todos os lados e está com a popularidade em queda e não está conseguindo se articular para formar uma força para 2022 disputar o mesmo centro do Lula”, argumentou Carvalho.
“A tendência é ele aglutinar as forças de esquerda também, só que ele enfrenta Ciro Gomes como um óbice, que tem um projeto nacional há muito tempo. Eu não acredito que uma composição, uma frente de esquerda seja tão viável quanto uma composição de uma frente de centro-esquerda”, acrescentou.
Para o cientista político, do ponto de vista da direita e da centro-direita, Lula é o terror de partidos como PSDB, MDB, Cidadania, PV, Rede Sustentabilidade, dentre outros, porque consegue alcançar seu público-alvo. “Ele também faz muitos acenos para o mercado. E, da mesma forma como ele acena para a esquerda que ele é o mais competitivo, ele também acena para a direita com o discurso de que ele é o que tem condição de tomar a matriz econômica (NME) no tripé macroeconômico como fez no primeiro governo”, apontou.