Lula defende mais presença do PMDB no governo antes que piore o que está ruim
28 fevereiro 2015 às 11h10

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O ex recomendou, em Brasília, a incorporação do vice-presidente Michel Temer ao conselho político de Dilma

A. C. Scartezini
“Não há nada tão ruim que não possa piorar” , filosofou Lula ao criar, sem saber, uma lei natural para formar consciências. A Lei de Lula da Silva foi aplicada pelo autor na análise, em Brasília, das trapalhadas das articulações políticas feitas pelos restritos companheiros que servem à presidente Dilma.
Em suas observações brasilienses para socorrer a companheira na pacificação das relações com o Congresso, inclusive com as bancadas do PT, Lula entendeu que o ruim pode melhorar se Dilma acolher o vice-presidente Michel Temer, líder do PMDB, entre os seis companheiros que a aconselham regularmente sobre a ação política.
É querer muito. Dilma mudou a assessoria no palácio para ter apenas gente sua por perto. Retirou dois paulistas e colocou dois gaúchos: Miguel Rosseto na Secretária-Geral no lugar do lulista Gilberto Carvalho; e Pepe Vargas nas Relações Institucionais, onde estava Ricardo Berzoini — ainda conselheiro, mas com sala na Esplanada como ministro das Comunicações.
E agora o distante e formal Michel Temer como conselheiro político. Era só o que faltava, rumina Dilma. “Um mordomo de filme de terror”, definiu-se a figura do então deputado no círculo íntimo do presidente Sarney, nos anos 80. Hoje, o PMDB carece de provas de carinho do Planalto. Agora quer porque quer uma vaga no conselho político.
Mas Temer perturbaria a espontaneidade, rude, de Dilma na privacidade. Lula cobra caro por seus conselhos. Até parece desforra. No entanto, foi a presidente, com problemas com o PT e no prestígio popular, que voltou a tomar o avião presidencial para se aconselhar em São Paulo com o antigo padrinho, a quem reintroduziu em cena.
A sugestão de Lula pode conter uma doce revanche, porém revestida de lógica diante de uma presidente em apuros históricos e generalizados na economia, na política, no social e na ética. Seria a volta do cipó de aroeira, desmoralizante no lombo de quem quis inventar outros partidos para desmontar o velho PMDB.
“Que coalizão é esta em que o governo põe dois figurões em ministérios estratégicos e inventa partidos para destruir o PMDB, seu principal parceiro?”, revoltou-se o perplexo senador Eunício Oliveira, derrotado na eleição ao governo do Ceará ao enfrentar uma aliança entre Dilma e o então governador Cid Gomes (Pros) para eleger o petista Camilo Santana.
Um dos figurões é o próprio Gomes, nomeado para o Ministério da Educação. O outro é Gilberto Kassab, escalado no Ministério das Cidades para, depois de inventar o PSD, criar mais partidos para esvaziar o PMDB ao atrair dissidentes. Assim, como aproveitou a sigla do antigo PSD, Kassab quer ressuscitar o PL. Com o apoio de Gomes.
“O diabo sabe mais por ser velho do que por ser diabo”, citaria Ulysses Guimarães, refundador do PMDB, o adágio espanhol para classificar a falsa esperteza de Dilma. “Esperteza, quando é muita, vira bicho e come o dono”, replicaria o mineiro Aureliano Chaves com o provérbio português. Mas ambos estão mortos.