Lula da Silva precisa de Kátia Maria criticando Ronaldo Caiado e defendendo o MST?
20 julho 2023 às 16h27
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O presidente Lula da Silva, do PT, está dialogando com as alas mais conservadoras do Centrão — que apoiaram Jair Bolsonaro, do PL, e, a rigor, não romperam ideologicamente com o ex-presidente — e, inclusive, ofertando ministérios (quando chegar agosto, o “assentamento” do Centrão será ampliado na esfera federal). O motivo é prosaico e razoável: o gestor nacional precisa pensar primeiro na questão da governabilidade do que em debates e embates ideológicos. Quem governa não deve perder tempo com discussões pueris a respeito das posições político-ideológicos de aliados e prováveis aliados. Democracia é isto: convivência entre contrários e sem imposição de visões políticas e ideários. As diferenças devem ser respeitadas e acolhidas.
Dada sua vocação democrática, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil, não se posta como crítico, em nenhum momento, das alianças nacionais do presidente Lula da Silva — nos espectros da esquerda, da direita e da centro-direita. O gestor goiano sabe que, como presidente, o petista-chefe tem de pensar no país — assim como ele tem de pensar em Goiás. E é pensando em Goiás que ajuda o Brasil; portanto, o governo de Lula da Silva.
Liberal por formação, mas adepto de práticas socialdemocratas como governador — o programa social de Goiás é dos mais inclusivos (com foco na Educação) e merece um exame por parte do governo de Lula da Silva —, Ronaldo Caiado procura se relacionar de maneira aberta e democrática com todos os setores da sociedade, independentemente de suas posições políticas e ideológicas. Porém, como indivíduo posicionado, não abre mão de suas ideias e, também, de formular críticas àquilo de que discorda. O pior adversário político não é o que se apresenta — que mostra sua oposição —, e sim aquele que esconde suas próprias ideias para ficar bem, ou supostamente bem, com todos.
Como se sabe no governo federal, a economia de Goiás cresceu 6,6% em 2022, enquanto a brasileira não chegou a 3%. O fato é que o país precisa crescer e, para tanto, é importante que se tenha um ambiente de paz — Lula da Silva tem falado, com frequência, sobre deixar o ódio de lado. Neste momento, a perspectiva de crescimento para 2023 é menor do que se previa no início do ano. Então, será preciso de um esforço concentrado, de todos os Estados — dos governadores, prefeitos, agentes econômicos (empresários e trabalhadores) —, para a retomada do crescimento. Portanto, é hora de abandonar picuinhas pessoais e eleitoreiras e de se concentrar no principal.
Ministros de Lula da Silva — como Nísia Trindade, da Saúde, Flávio Dino, da Justiça, e Alexandre Padilha, de Relações Institucionais — estiveram em Goiás e foram recebidos com tapete vermelho, de maneira inteiramente republicana, pelo governador Ronaldo Caiado. O motivo é o seguinte: está em jogo os interesses dos goianos que, na prática, também são dos brasileiros, porque nenhum Estado, assim como nenhum indivíduo, é uma ilha. O país só cresce, com a consequente geração de empregos e redução da miséria, se todos os Estados tiverem uma expansão adequada. Assim, quanto mais estiverem conectados presidente e governadores, melhor para o país, para todos os brasileiros.
Recentemente, numa nota de jornal, a presidente do PT em Goiás, a vereadora Kátia Maria — uma política qualitativa (pela qual tenho apreço pessoal) —, criticou o governador Ronaldo Caiado por ele ter recebido o ex-presidente Jair Bolsonaro (vale lembrar que Lula da Silva dialoga com Nicolás Maduro, Daniel Ortega e Vladimir Putin). Há dois apontamentos a se fazer. Primeiro, não se pode proibir políticos de manterem contatos com políticos. Segundo, por mais que se divirja de Bolsonaro, trata-se de um ex-presidente da República. A liturgia da política (e da civilidade) exige isto. Lula da Silva com frequência conversa com o ex-presidente José Sarney, a quem já criticou duramente.
Kátia Maria também criticou Ronaldo Caiado pelo fato de ele discordar da Reforma Tributária que, em breve, será votada no Senado (já foi aprovada pela Câmara Federal). Economistas gabaritados, como Valdivino Oliveira, Júlio Paschoal e Everaldo Leite, têm dito que a Reforma Tributária como está disposta prejudica economias emergentes como Goiás. A presidente do PT pode se posicionar, com firmeza, em relação a um projeto que interessa ao governo federal, mas tem o direito de criticar o governador por defender seu próprio Estado? Vale o registro do jornalista Elio Gaspari, que citou dois economistas importantes, Albert Fishlow e João Maria Oliveira (que consideram que a Reforma Tributária pode não resolver os problemas cruciais do país, como a miséria): “A alíquota do IVA pode bater a casa dos 28%, ultrapassando a Hungria, que cobra 27%”. O príncipe, portanto, pode virar ogro num piscar de olhos.
Fica a pergunta: Katia Maria fala pelo presidente Lula da Silva? É provável que esteja falando por ela e por uma pequena corrente do PT (o deputado federal Rubens Otoni, por sinal, mantém excelentes relações com o governador Ronaldo Caiado). O presidente precisa, nos Estados, de aliados que, se comportando como diplomatas, ajudem-no a melhorar o governo federal e o país. O petista-chefe não precisa de mais adversários “criados” por aliados que, pensando mais em ideologia, às vezes perdem o bom senso, aquele que manda as pessoas serem, acima de tudo, realistas.
Quanto ao MST, até quando alguns petistas, como Kátia Maria, vão se apresentar como seus representantes? Observe-se, por fim, que Lula da Silva está se aproximando dos agentes do agronegócio.