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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux foi orientador do filho, o advogado Rodrigo Fux, em dois trabalhos acadêmicos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Rodrigo concluiu o mestrado em 2015 e o doutorado em 2022, ambos supervisionados pelo pai, já integrante da mais alta Corte do país.

No mestrado, defendeu a dissertação “O novo processo civil brasileiro: ideologia, princípios e institutos” — no mesmo ano em que foi aprovado o novo Código de Processo Civil. A banca contou com os professores Paulo Cézar Pinheiro Carneiro (co-orientador) e Teresa Arruda Alvim Wambier.

Já no doutorado, a tese “Uma proposta de diálogo entre o Código de Processo Civil de 2015 e a Arbitragem Nacional à luz da Análise Econômica do Direito” foi defendida em dezembro de 2022, diante de uma banca composta por cinco juristas de destaque, entre eles Fredie Didier Jr. (UFBA) e Luciano Benetti Timm (FGV-SP).

Nos agradecimentos, Rodrigo fez menções pessoais ao pai e orientador. No mestrado, escreveu: “Se pudesse escolher ou pedir a Deus um guia pessoal e profissional, certamente não alcançaria a grandeza de sua personalidade”. No doutorado, destacou: “Seguir seu exemplo é uma deliciosa tarefa de se aproximar à perfeição”.

Atualmente, Rodrigo Fux é professor adjunto de Teoria Geral do Processo na Uerj, sócio de um escritório de advocacia com mais de 30 associados e presidente da Comissão de Análise Econômica do Direito da OAB-RJ. Em 2019, reportagem da CartaCapital revelou que ele tinha entre seus clientes o Conselho Nacional de Praticagem, entidade que financiou a campanha de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Senado em 2018.

Embora não haja proibição formal em regulamentos de pós-graduação quanto à orientação de parentes, especialistas em boas práticas acadêmicas alertam para riscos à impessoalidade e à percepção de conflito de interesses. A situação ganha maior relevância no caso de Fux, por sua influência como ministro do STF e especialista justamente na área de pesquisa do filho. Procurada, a Uerj afirmou não haver restrição a esse tipo de relação no regulamento da instituição.

Não é a primeira vez que a atuação familiar de Fux desperta questionamentos. Em 2016, o ministro foi apontado como articulador da nomeação da filha, Marianna Fux, ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro pelo Quinto Constitucional, em um processo marcado pela rapidez e críticas de favorecimento.

O nome de Fux voltou a ganhar destaque nesta semana, ao figurar entre os assuntos mais comentados do X (antigo Twitter) após votar pela absolvição de Jair Bolsonaro e outros réus no julgamento da ação do golpe. Durante mais de dez horas de manifestação, o ministro defendeu rejeitar as acusações da Procuradoria-Geral da República. O voto foi comemorado pelo entorno do ex-presidente e reforçou a pressão por anistia no Congresso.

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