Sistema interno da mineradora guardava lista intitulada “top 10”, na qual se elencava as dez estruturas consideradas mais críticas. Todas tinham, segundo a lista, probabilidade de falha “acima do limite de aceitação”

Foto: Carolina Ricardi

O rompimento da barragem I da Mina Córrego do Feijão  — que resultou na morte de aproximadamente 270 pessoas —, em Minas Gerais, completa um ano neste sábado, 25. Apesar do estrago irreparável causado pelo rompimento da estrutura, a Agência Brasil revelou que a barragem era, na verdade, a oitava na lista das que mais preocupavam a Vale. Acontece que um sistema interno da mineradora guardava uma lista intitulada “top 10”, na qual se elencava as dez estruturas consideradas mais críticas. Todas tinham, segundo a lista, probabilidade de falha “acima do limite de aceitação”.

O sistema interno foi descoberto no curso das investigações e foi classificado de “caixa-preta da Vale” pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Na última terça-feira, 21, a instituição denunciou criminalmente 11 empregados da mineradora e cinco da Tüv Süd, empresa alemã que assinou a declaração de estabilidade da barragem de Brumadinho. A lista das “top 10” foi incluída na denúncia. São estruturas que também tinham sido classificadas dentro da “zona de atenção”, em outro documento que já havia se tornado público.

Ainda de acordo com informações da Agência Brasil, o topo da lista é ocupado pela Barragem Capitão do Mato, da Mina Capitão do Mato, em Nova Lima (MG). A estrutura está inoperante e com declaração de estabilidade negativa, documento que deve ser apresentado à Agência Nacional de Mineração (ANM) duas vezes ao ano: em março e em setembro. Ele deve ser elaborado por uma empresa auditora contratada pelo empreendedor e é necessário para que cada estrutura possa manter suas atividades. Na ú9ltima ocasião, 18 barragens da Vale registraram declaração negativa.

Entre as estruturas que constam na lista “top 10”, cinco estão com atestado de estabilidade negativo. Entre elas, as barragens Forquilha I, Forquilha II e Forquilha II, localizadas em Ouro Preto (MG). A reportagem mostrou também que três estão entre as estruturas que não passaram no pente-fino realizado após a tragédia de Brumadinho e tiveram seus níveis de emergência elevados para 2 ou 3 – o que obriga a mineradora a realizar a evacuação de áreas que seriam atingidas no caso de uma ruptura.

O pente-fino nas estruturas da Vale, após o rompimento ocorrido em 25 de janeiro de 2019, envolveu iniciativas variadas, desde vistorias da ANM até ações de fiscalização do MPMG. Em alguns casos foi cobrada judicialmente a paralisação das atividades. Como resultado, dezenas de barragens ficaram impedidas de operar e, em alguns casos, foram realizadas evacuações de comunidades. De acordo com a Vale, cerca de 450 famílias ainda estão fora de suas casas, vivendo em hotéis, casas de parentes ou em imóveis alugados pela mineradora. A Agência Brasil destacou também que a Vale estima gastar R$24,1 bilhões com os desdobramentos da tragédia de Brumadinho até o ano de 2023. (Com informações da Agência Brasil)