A língua portuguesa, falada por mais de 260 milhões de pessoas ao redor do mundo, possui uma rica e complexa história que reflete as diversas influências culturais e históricas ao longo dos séculos. Suas raízes remontam à Península Ibérica, onde a interação entre povos e culturas distintas deu origem ao que hoje conhecemos como português.

O Brasil exerce uma influência cada vez maior nas modificações linguísticas e, segundo especialista, o idioma será em chamado, em breve, de “brasileiro”, e não mais de “língua portuguesa”. O defensor dessa tese é um linguista português chamado Fernando Venâncio, autor do livro Assim Nasceu uma Língua.

O ponto de partida para a história da língua portuguesa é a expansão do Império Romano, que levou o latim vulgar, a variante popular do latim, às regiões conquistadas, incluindo a Península Ibérica. Essa versão do latim, utilizada no cotidiano pelas classes populares e soldados, começou a se estabelecer na região a partir do século III a.C., quando os romanos iniciaram a conquista da península.

O latim vulgar sofreu influências de línguas locais, como o celta e o ibero, faladas pelos habitantes originários da região antes da chegada dos romanos. Além disso, o contato com outras culturas, como os fenícios e gregos, que tinham colônias na península, também contribuiu para a formação das características iniciais do que viria a ser o galego-português, o precursor da língua portuguesa.

Transformação

O especialista argumenta que o idioma português nasceu em um território do qual somente uma parte é atualmente Portugal: o Reino da Galiza, fundado no século 5 d.C., após a dissolução do Império Romano. “A simples ideia de que, algum dia, um idioma estrangeiro possa ter sido a língua de Portugal é-nos insuportável”, escreve o linguista.

Além disso, o linguista vê como inevitável a separação entre o português falado no Brasil e em Portugal. Ele aponta que, apesar da influência do português europeu, o linguajar brasileiro está se tornando cada vez mais distinto. “Não há maneira de travar esse processo de afastamento entre o português e o brasileiro”, afirma Venâncio, que já enxerga o “brasileiro” como uma norma linguística à parte e, eventualmente, como uma nova língua.

Essa visão pode ser vista como uma afronta ao orgulho português, especialmente considerando a influência global que o país exerceu durante a Era dos Descobrimentos. No entanto, Venâncio trata o fenômeno como natural, comparando-o à evolução das línguas românicas, que se dividiram a partir do latim. “O português promete dividir-se — ou multiplicar-se — em outros idiomas, tal como aconteceu à língua dos romanos”, conclui.

Enquanto isso, no Brasil, o debate sobre a formação de uma “língua brasileira” ainda enfrenta resistência. Muitos linguistas e gramáticos defendem que, apesar das diferenças, o português culto do Brasil e de Portugal ainda compartilham uma base comum.

A Expansão e Evolução do Português

A língua portuguesa continuou a evoluir após o século XIII, particularmente com a expansão territorial do Reino de Portugal. A Reconquista, processo de reconquista da Península Ibérica dos mouros, levou à disseminação do português em territórios mais ao sul, como o Algarve. No século XV, com a Era dos Descobrimentos, o português espalhou-se por diversos continentes, sendo levado a África, Ásia e América, onde interagiu com outras línguas e culturas, resultando em diversas variantes regionais.

Um fator determinante para a evolução do português foi a Reforma Ortográfica de 1911, que padronizou a ortografia da língua, aproximando ainda mais a escrita da pronúncia. Essa padronização foi essencial para a unificação da língua nos diversos territórios onde era falada.

A Influência Árabe e Outras Contribuições

Além das influências latinas e germânicas, o português também absorveu elementos de outras culturas que marcaram a história da Península Ibérica. A presença árabe na região, que durou cerca de oito séculos (711-1492), deixou marcas significativas na língua portuguesa, especialmente em termos de vocabulário. Palavras como “alfândega”, “algoritmo” e “alface” são exemplos de termos de origem árabe incorporados ao português.

Outras influências incluem o contato com línguas africanas e ameríndias durante o período colonial. No Brasil, por exemplo, o português incorporou palavras indígenas, como “tatu”, “jabuti” e “pipoca”, enriquecendo ainda mais o léxico da língua.

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