Além do laboratório goiano, outros três tem capacidade de coletar e processar amostras do vírus descoberto na China

Cerca de 300 funcionários trabalham no Lacen goiano | Foto: SES/ Divulgação

Goiás possui um dos quatro laboratórios do país capacitados a fazer identificação do novo coronavírus. “Consideramos que o Lacen de Goiás [Laboratório Estadual de Saúde Pública] tem capacidade para virar referência neste tipo de teste”, anunciou o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta durante visita a Anápolis para escolha do hotel de trânsito da Base Aérea de Anápolis para receber os repatriados brasileiros da China, no último dia 7 de fevereiro.

Na ocasião, o governador Ronaldo Caiado (DEM) disse que se tratava de uma prova de confiança do Ministério da Saúde por Goiás. “Tenho certeza que as instalações serão ótimas quando tudo tiver pronto”, disse. No entanto, foi tudo muito rápido. No dia 9 de fevereiro o Lacen já recebia os insumos para fazer a verificação de coronavírus dos repatriados da China que chegaram ao Brasil naquele mesmo dia. No dia 10 já deu o resultado.

Além do Lacen, somente a Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro; o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo e o Instituto Evandro Chagas, no Pará, tem a capacidade para coletar e identificar as mostras de suspeitas de coronavírus no país. 

Para que o Lacen fosse considerado a quarta referência nacional para a identificação do coronavírus, foi feito uma avaliação pelo Ministério da Saúde sobre a capacidade de equipe técnica, em quantidade suficiente, e estrutura de equipamentos. O Ministério identificou que o Lacen de Goiás tem a condição de ser uma das referências.

O Lacen possui hoje 300 servidores entre técnicos biomédicos, farmacêuticos, bioquímicos, enfermeiros, técnicos de laboratório e administrativos. Os recursos que mantém o laboratório é de origem federal, voltados sobretudo para equipamentos, estrutura e insumos. Enquanto o governo estadual mantém o pessoal. 

A priori os exames seriam mandados para o Fiocruz, no Rio de Janeiro, que é a principal referência do país. 

O coronavírus

Através do método de Polymerase Chain Reaction (PCR) o laboratório coleta amostras da narina e da garganta de pacientes com suspeitas de coronavírus. Por isso, a necessidade dos chamados primes, ou insumos específicos (material genético), para fazer a identificação do coronavírus.

Os insumos vieram através do Ministério da Saúde. O laboratório também recebeu três técnicos de referência — da FioCruz e do Evandro Chagas, de Belém —, para capacitar a equipe do Lacen goiano. E tudo se deu um pouco antes com a chegada dos repatriados brasileiros da China, no último dia 9 de fevereiro. 

Os primes foram produzidos a partir do sequenciamento genético realizado ainda na China, a partir da identificação do vírus que estava causando pneumonia no país asiático, e mandados para o Brasil. 

Alguns testes, como o de biologia molecular, o Lacen goiano ainda não realiza. No entanto, houve preferência para o Lacen goiano fizesse as análises, justamente pela estrutura e capacidade que mostrou ter.  As amostras desse tipo são enviadas por transporte aéreo, com contrato especial, e protocolo específico, com fluxo estabelecido pelo Ministério da Saúde e pela Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública.

Como é feita a identificação?

Lacen recebeu insumos do Ministério da Saúde para fazer identificação do coronavírus | Foto: SES/ Divulgação

Caso haja paciente suspeito de ter sido infectado pelo coronavírus em Goiás, a unidade de saúde envia o material para o Lacen, que faz o processamento. A Coordenação de Informação de Informações Estratégicas de Vigilância e Saúde (Cievs), que integra uma rede nacional, e funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, é avisada pelas equipes locais.

“Todo o caso de emergência em saúde pública que for atendido tem que ser comunicado para essa equipe Ciev”, explica a superintendente de vigilância em Saúde Pública em Goiás, Fluvia Amorim. A partir desse momento, as amostras, caso suspeitas, são enviadas para o Lacen.

Caso dê positivo é preciso ainda de um duplo cheque. Ou seja, nova amostra é colhida do paciente e é enviada para outro laboratório de referência, para que ele ratifique o resultado. “Como um controle de qualidade. É preciso verificar. Após isso, tudo pode ser realizado por aqui mesmo”, diz Flúvia Amorim.

A partir daí o paciente segue para quarentena e possível processo de tratamento. O isolamento pode ser feito em hospital ou em casa, a depender do estado de saúde do paciente.

“A partir de todo esse aprendizado, teremos uma resposta mais rápida. Podemos processar tudo por aqui e condições de dar respostas mais rápidas”, diz. 

Negativos

Foi o próprio Lacen que fez a identificação das amostras coletadas junto aos repatriados que vieram da China e que estão em quarentena na Base Aérea de Anápolis. Foram ao todo 58 exames, realizados nos 34 repatriados e nos 24 tripulantes que participaram da Operação Regressa à Pátria Amada Brasil. O teste deu negativo para todos.

O mesmo teste, que envolve a coleta de amostras do nariz e garganta dos repatriados, foi realizado no sétimo dia de quarentena em Anápolis. Outro exame deve ser realizado no 14º dia. Atualmente, são seis técnicos que estão aptos a realizar os testes. Além do coronavírus, o teste também identifica outras 11 variações de vírus que causam doenças respiratórias. 

O laboratório também deve receber amostras de outros estados, já que virou centro de referência. No entanto, critério para direcionamento dessas amostras é de decisão da Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública e Ministério da Saúde, conforme explica Flúvia.

Laboratórios públicos preenchem espaço deixado pelos privados

Superintendente de Vigilância em Saúde, Flúvia Amorim | Foto: reprodução/ Secretaria Municipal de Saúde

Existe no Brasil uma rede de laboratórios centrais, da qual o Lacen Goiás faz parte. O Ministério da Saúde criou essa rede para atender as demandas epidemiológicas e de vigilância sanitária,  na realização de exames de doenças transmissíveis e demais doenças de importância para a Saúde pública. Eles cumprem o espaço deixado pela falta de interesse dos laboratórios particulares e alto preço dos exames para esses tipos de doenças.

Conforme explica a superintendente de vigilância em Saúde Pública em Goiás, Flúvia Amorim, eles estão aptos a dar respostas a demandas de vigilância sanitária, da qualidade de alimentos e produtos que são fiscalizados pela própria vigilância. O Lacen também faz o monitoramento da qualidade da água, processando as amostras e controle. 

Além de análises de coronavírus, o Lacen faz as análises de dengue, febre amarela, chikungunya, zika, hepatite, e doenças transmissíveis de importância no Estado de Goiás. Os exames são realizados a partir de amostras de sangue enviadas pelas unidades de saúde e identifica vírus e demais patógenos que estariam agindo na população goiana.

Flúvia diz que algumas amostras de dengue e chikungunya, por exemplo, são analisadas por laboratórios particulares, após determinação do Ministério da Saúde. No entanto, em cadáveres somente o Lacen ainda faz esses tipos de exames. “Preenchemos um lapso que existe, por falta de interesse ou de preço”, aponta a superintendente.