Kim Kataguiri diz que prefere anular o voto a apoiar alguém da família Bolsonaro: “Vendeu o país”
28 outubro 2025 às 15h56

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O ano era 2018 quando o MBL, movimento nascido em meio às manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff, ligado à direita e com forte militância em defesa de pautas consideradas neoliberais, declarou apoio ao então candidato Jair Bolsonaro contra o nome apoiado por Lula na corrida à presidência, Fernando Haddad.
Sete anos depois, um de seus principais líderes, o hoje deputado federal Kim Kataguiri (UB), tece críticas ferozes ao ex-presidente Bolsonaro. Ele afirma que o político (hoje em prisão domiciliar) traiu o país e o vendeu “em troca de blindagem para sua família”.
Em entrevista à BBC Brasil, o parlamentar de apenas 29 anos disse que “em nenhuma hipótese” apoiaria Bolsonaro se ele estivesse elegível, e nem ninguém de sua família. “Anularia o voto de novo”.
“A família Bolsonaro é um projeto hegemônico de poder e que só está preocupada com si própria. Não está preocupada com o país. O Bolsonaro permitiu que o Supremo tivesse esse superpoderes”, afirmou.
Segundo Kataguiri, o ex-presidente “perdeu a oportunidade de fazer um governo de fato de direita e coerente”. “Ele perdeu essa oportunidade traindo os próprios valores, traindo o próprio eleitorado e traindo as próprias promessas de campanha”.
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“Bolsonaro pegou o país com o Lula preso, inelegível, com o PT impopular, eu ia fazer campanha na rua, o PT escondia o vermelho, escondia a estrela. E conseguiu entregar um país, primeiro, sendo o primeiro presidente da República a perder uma reeleição”, disse, acrescentando que até Dilma Rousseff, “que entregou um péssimo governo com a pior crise econômica da história do país”, conseguiu ser reeleita.
Para Kim Kataguiri, Bolsonaro trabalhou para blindar a própria família
Ainda segundo o deputado em entrevista à BBC Brasil, uma das maiores promessas feitas por Jair Bolsonaro e não cumpridas foi a de combater a corrupção. Para Kataguiri, em vez de fortalecer o enfrentamento, o ex-presidente “afrouxou para proteger a si próprio e à própria família”, e citou o afrouxamento da Lei de Improbidade Administrativa.
“Com a tentativa de aprovação da mudança de composição do Conselho Nacional do Ministério Público, da PEC da Impunidade, com a mudança do diretor da Polícia Federal, o superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, também para blindar o Flávio. Então, a promessa dele do enfrentamento à corrupção acabou a partir do momento em que ele precisou blindar o filho de uma investigação. E aí ele vendeu o país inteiro em troca dessa blindagem”, criticou o parlamentar.

Kim Kataguiri também disse acreditar que, de fato, Bolsonaro tentou dar um golpe de Estado, crime pelo qual foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Porém, o deputado avalia que o julgamento “teve uma série de vícios processuais”. “Ao final do inquérito, a defesa não teve acesso ao inquérito para preparar a resposta da acusação […]. Acho que o Supremo atropelou o processo”.
Mesmo assim, Kataguiri afirma que Bolsonaro deve ir, sim, para a cadeia. “Só se for inevitável que ele tenha um cuidado de saúde constante, o que não me parece ser o caso agora. Parece que ele tem problemas graves, mas pontuais, em que ele pode sair do presídio para ir ao hospital”.
