Para relator do pedido de abertura do processo de impeachment na Câmara, volta de Roberto Jefferson à presidência do partido é o “retorno de um guerreiro”

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O deputado federal goiano Jovair Arantes (PTB) discursa no evento | Foto: Reprodução/Facebook

A reunião realizada na manhã desta quinta-feira (14/4) em Brasília que marcou a volta do ex-deputado federal Roberto Jefferson (RJ) à presidência nacional do PTB ficou marcada com um evento de exaltação à figura do delator do escândalo do mensalão, denunciado pelo então parlamentar, que foi cassado pela Câmara e condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão.

Aos 62 anos, Roberto Jefferson foi solto da cadeia em 16 de maio de 2015 em decisão do ministro Luis Roberto Barroso, relator do mensalão no STF. Por causa da delação premiada que denunciou o esquema de compra de deputados federais do PP, PMDB e PL por integrantes do governo federal, sua pena foi reduzida para sete anos e 14 dias.

O ex-deputado estava preso desde fevereiro de 2014, quando começou a cumprir sua pena, que se tornou prisão domiciliar desde maio de 2015. O agora novamente presidente nacional do PTB é tratado pelo relator do pedido de abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara, o deputado federal Jovair Arantes (PTB-GO), como o “retorno de um guerreiro”.

Para Jovair, Roberto Jefferson é uma figura mais do que importante no combate à corrupção. “Nesse momento, o PTB é o principal condutor de um processo histórico para o Brasil. Foi o PTB [com Jefferson] que começou e o PTB que termina”, declarou no evento o parlamentar goiano.

“Com alegria, recebemos mais uma vez Roberto Jefferson como presidente do PTB. Roberto Jefferson volta para o lugar que sempre deveria estar. Um democrata, que tem o DNA do trabalhismo no Brasil. Parabéns!”, comemorou Jovair.

Condenado pelo STF por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Roberto Jefferson havia sido denunciado em um esquema de corrupção nos Correios, que culminou com sua denúncia de todo um processo de corrupção que envolvia R$ 4,5 milhões nas eleições de 2014 repassados ao PTB sem serem declarados à Justiça Eleitoral.

Os recursos seriam parte dos R$ 20 milhões supostamente acertados pelo PTB, que tinha Roberto Jefferson como presidente, ao governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na época, Jefferson admitiu ter recebido o dinheiro, mas afirmou que era fruto de acordo eleitoral.

Em 22 de março, o STF perdoou a pena de Roberto Jefferson. “Tivemos e teve um problema, pagou e pagou bem à sociedade a dívida que ele tinha. E agora retorna absolutamente tranquilo, livre de todos os problemas anteriores”, comentou o caso o deputado Jovair Arantes.

Sua volta à presidência nacional do PTB nesta quinta-feira é tratada com o retorno de um herói nacional que teria inciado a dar publicidade aos esquemas de corrupção supostamente praticados pelos governos federais do PT e que, segundo o partido, serão condenados com a aprovação e julgamento do processo de impeachment de Dilma no Congresso.

Jefferson disse hoje que ainda não conversou com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), primeiro sucessor direto na Presidência da República em caso de destituição de Dilma do cargo. “O que ele [Temer] precisar de nós, terá”, afirmou o presidente nacional do PTB, que demonstrou o apoio de seu partido a um possível governo do peemedebista.

“Nós não queremos levar a conversa para o rés do chão agora. Esse voo de galináceo, eu não quero fazer. Carguinho, estou fora disso”, considerou Roberto Jefferson. Na quarta-feira (13), o PTB anunciou que orientará seus deputados federais a votarem a favor da abertura do processo de impeachment no plenário da Câmara no domingo (17).

A contagem, segundo o PTB, está dividida em quatro contra o impeachment e 19 a favor da abertura do processo contra Dilma no plenário da Casa.

A presidência nacional do PTB era exercida pela filha de Roberto Jefferson, a deputada federal Cristiane Brasil (RJ), desde dezembro de 2014. Seu mandato no partido iria até 2018, mas ela abriu mão para deixar o pai reassumir o cargo no Partido Trabalhista Brasil. “Ele que começou a colocar as mentiras para fora, ele que tem que fechar esse caixão.”

O ex-deputado Roberto Jefferson foi chamado algumas vezes pelos petebistas no evento de “nervos de aço”, em referência ao samba de Lupicínio Rodrigues.

Caso Collor

Em 1992, Jefferson, que era deputado federal desde 1983 pelo PTB do Rio de Janeiro, votou contra o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, então no PRN. “O Collor, perto do Lula, é menino de procissão. Ele tinha um tesoureiro, o PC Farias, que foi preso e depois morreu. Eu já perdi a conta de quantos tesoureiros tem o PT e de quantos foram para a cadeia, amigo. Não dá para comparar.”

Mas declarou que a semelhança entre os dois pedidos de impeachment é “total”: “corrupção”.

Em 2012, foi descoberto um tumor maligno no pâncreas de Jefferson, que precisou fazer uma cirurgia para retirada do órgão e parte do estômago, duodeno e canal biliar. Hipertenso e com diabetes, o ex-deputado também foi submetido a uma operação para reduzir o estômago, pelo caso detectado de obesidade mórbida.

Segundo o presidente nacional do PTB, ele se submete a dieta rigorosa, com uso diário de 23 comprimidos. Nos 15 meses de prisão, teria tido oito infecções. Quando foi cassado pela Câmara, recebeu também da Casa a aposentadoria por deputado, cargo que Roberto Jefferson disse não ter mais interesse em disputar. (Com informações de agências)