Jornal de Goiânia recebeu recursos da Lei Rouanet destinados ao restauro do Jockey Club
31 outubro 2025 às 10h43

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O jornal A Redação, que tem sede em Goiânia, teria recebido parte do dinheiro oriundo da Lei Rouanet, gerido pela Elysium Sociedade Cultural, e que seria destinado à restauração do Jockey Club de São Paulo. Segundo apuração do Metrópoles, o periódico teve suas contas de luz e seguro pagos com verbas que, oficialmente, deveriam ser aplicadas na preservação do patrimônio histórico paulistano. O valor dessas contas seria de R$ 1 milhão. O caso é o mesmo que trouxe à tona – por parte de uma investigação do UOL-, que parte dos valores destinados à restauração do Jockey foi parar em empresas ligadas a familiares e políticas do ex-governador de Goiás, Marconi Perillo.
De acordo com notas fiscais obtidas pela reportagem, A Redação, que tem como sócios os irmãos Wolney e João Alfredo Arruda Unes, também recebeu pelo menos R$ 48 mil para publicar “conteúdos editoriais” relacionados ao Jockey Club, em um contrato intermediado pela Elysium. O jornal, embora localizado em Goiânia, atuou como subcontratada para divulgar as obras de restauro, atividade que não justificaria o uso de recursos federais de fomento cultural fora do escopo do projeto original.
Além do jornal, outras empresas ligadas aos irmãos Unes foram beneficiadas com recursos da Rouanet: a produtora Engenho & Arte Participações Eventos Ltda., a construtora Biapó Urbanismo e a imobiliária Sapé, que receberam pagamentos por serviços de comunicação, obras e aluguel de imóveis. Notas fiscais mostram ainda despesas em restaurantes, padarias e hotéis, incluindo diárias de até R$ 1,5 mil e jantares com vinho e saquê, todos custeados com os mesmos recursos públicos.
O caso se insere em um contexto mais amplo de investigação conduzida pela Câmara Municipal de São Paulo, que recentemente criou uma CPI para apurar suspeitas de irregularidades fiscais e imobiliárias no Jockey Club. A entidade, que recebeu R$ 83,6 milhões em incentivos fiscais e recursos da Lei Rouanet, enfrenta questionamentos sobre pagamentos a empresas fantasmas, notas fiscais inconsistentes e uso de verba pública para despesas de natureza pessoal ou administrativa.
O jornal A Redação tem como diretor-presidente João Carlos Arruda Unes, enquanto Wolney Alfredo Arruda Unes é coordenador-geral da Elysium. Os dois irmãos também são sócios em outras empresas beneficiadas pelos recursos federais. Débora Perillo Arruda Unes, sobrinha deles, também figura como sócia em algumas das empresas envolvidas e tem suposto parentesco com o ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, que nega qualquer envolvimento nas operações.
Em nota, o Jockey Club afirmou que todas as obras de restauro “foram devidamente auditadas e fiscalizadas” e que as prestações de contas seguem os requisitos legais. A entidade garante que os trabalhos ocorrem a portas abertas e que está à disposição para esclarecimentos adicionais.
O Jornal Opção procurou João Unes e aguarda retorno. O espaço segue aberto.
Investigações adicionais
Levantamentos do UOL e do Metrópoles apontam que os recursos da Rouanet também foram utilizados para pagar contas de farmácia, dedetização, higienização de tapetes, água e IPTU, além de jantares em restaurantes de luxo, incluindo o Dom Mariano, Aze Sushi e o Osaka, todos pagos com verbas destinadas à restauração do Jockey.
Algumas empresas citadas como prestadoras de serviço, como a Construtora Vidal e o escritório Ambiência Arquitetura e Restauro, não possuem endereço comercial ou confirmaram a execução dos serviços pelo valor declarado. Em Goiânia e São Paulo, supostos escritórios funcionam em apartamentos residenciais, e valores de condomínio foram incluídos como despesas do projeto.
A investigação também questiona a duplicidade de prestação de contas: recursos aprovados pela Lei Rouanet foram usados para justificar gastos também perante a Prefeitura de São Paulo, que rejeitou parte das contas apresentadas. O caso evidencia possíveis falhas na fiscalização de recursos públicos destinados à preservação de patrimônio histórico e levanta suspeitas de desvio de verba federal para interesses privados, incluindo o financiamento de um jornal.
