João Cezar de Castro: ‘Extrema direita é mais perigosa que nazifascismo porque seus membros estão descentralizados e monetizados’
29 novembro 2024 às 12h42
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João Cezar de Castro Rocha é professor titular de Literatura Comparada na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e um dos maiores intelectuais brasileiros que publicam a respeito do movimento da extrema direita. O pensador explica que, hoje, existe um exército de criadores e replicadores de fake news e teorias conspiratórias, descentralizados e movidos pela monetização.
Para João Cezar de Castro, a extrema direita que atua em todo o mundo é mais perigosa do que o nazifascismo foi, porque não depende mais de uma figura central que determine seu discurso. “Não existe mais um Goebbels (a não ser que você considere o Elon Musk algo próximo a isso)”, diz o professor.
Jornal Opção — Por que a extrema direita conseguiu essa capilaridade e essa profundidade?
João Cezar de Castro — Porque a extrema direita trouxe para o universo da política alguns elementos fundamentais da economia digital. Em parte, isso diz respeito a economia da atenção, mas, em especial, a extrema direita é mestra na arte da monetização. A Extrema direita monetiza tudo.
Por exemplo: o deputado Nikolas Ferreira (PL) têm em seus canais do YouTube a opção de seus inscritos se tornarem membros VIPs, ganhando o benefício de ter acesso aos bastidores do Legislativo. Na prática, os membros VIPs acompanham reuniões do parlamentar e seus assessores. Em outro projeto, Nikolas Ferreira lançou um curso chamado “A Caixa Preta”, em que promete ensinar as pessoas como se tornar deputado sem fundo partidário utilizando as redes sociais. Ou seja, ele monetiza o mandato.
A extrema direita é uma máquina de monetização; ela tornou o ódio um produto. É uma espécie de universalização do princípio da rachadinha: todo mundo pode ter um pouco. Os grupos de WhatsApp e Telegram foram muito eficientes em financiar as manifestações — os organizadores pediam Pix para alugar caminhão de som, confeccionar faixas, etc. Os participantes fazem doações constantes. Por isso digo que a extrema direita é muito mais perigosa do que o nazifascismo — porque ela criou um incentivo financeiro para seus membros, ganhando assim mais capilaridade, sem um centro difusor. Agora você tem um exército de pequenos gurus difundindo fake news e teorias conspiratórias; tudo isso associado a ganhos monetários.