Isenção de pedágio para motos: de novo Bolsonaro aposta tudo no populismo

10 maio 2021 às 19h04

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Presidente vende facilidades como se não governasse, não se atendo ao básico: os demais condutores pagariam pelo regalo, já que concessionárias não oferecem almoço grátis
Observando como Jair Bolsonaro (sem partido) age na proposição de pautas, dá para entender como ele entende de capitalização de eleitorado. Ele não se importa com o que venda, mira na adesão irracional dos imediatistas. E dá muito certo.
Se você tem bom senso e noção, claro que não tem como ter a mínima simpatia pelos projetos, mas pense: os taxistas e caminhoneiros, ao se livrar de um novo aparelho de controle (taxímetro e tacógrafo, respectivamente), talvez mais rigoroso e certamente oneroso, não ficam em maioria seduzidos a acolher a proposta? Quem viaja sempre e de vez em quando – ou de quando em sempre – é flagrado por radar não aplaudiria a queda das multas e a abolição da fiscalização eletrônica?

Na sexta-feira, 7, inaugurando a conclusão de uma ponte no interior de Rondônia, o presidente atravessou a estrutura pilotando uma moto com Luciano Hang, vulgo Veio da Havan, na garupa. Ambos sem capacete, em uma espécie de Easy Rider geriátrico. Infrações gravíssimas no Código de Trânsito Brasileiro aplaudidas pelo séquito gadificado.
No domingo do Dia das Mães, sem qualquer empatia com aquelas que perderam seus filhos e filhas para a Covid-19 ou estes que viram aquela que os criou perecer pela doença, Bolsonaro saiu pelas avenidas de Brasília em um megapasseio de motos de altas cilindradas com seus apoiadores.
O que ocorreu na manhã do dia seguinte? Claro, mais apologia às duas rodas! Nesta segunda-feira, 10, questionado sobre as taxas de pedágio para ciclomotores, ele garantiu a um apoiador de seu tradicional e indefectível cercadinho do Alvorada que pretende isentar os condutores de moto desse custo.
Lembrando do início do texto, Bolsonaro vende esse tipo de facilidades como se não governasse. Mais, como se não fosse o presidente da República e não tivesse de se ater, senão à planilha de receitas e despesas da União, pelo menos à consequência natural de um menor pagamento no pedágio por parte de uma casta: os demais vão pagar pelo regalo, já que concessionárias do serviço não oferecem almoço grátis.
Como líder maior da Nação, o presidente Jair continua a ser aquilo que motivou tantos a reelegerem por tanto tempo: um deputado do baixo clero, com ideias que poderiam ser plagiadas de qualquer coroa manipulando a churrasqueira da turma do sabadão.
O problema do Brasil, hoje, é que descobrimos que dezenas de milhões se identificam com o tiozão do churrasco do Planalto, por fazer exatamente aquilo que fariam se lá estivessem.
A partir dessa constatação, quem tem bom senso e noção sabe muito tem o tamanho do buraco que esse picanha com cerveja dessa turma vai deixar para o futuro do Brasil.