Irmão de Popó fala sobre projeto social em Goiás e comenta polêmica com Wanderlei Silva

01 outubro 2025 às 20h10

COMPARTILHAR
Em meio aos desafios da vida, uma família baiana encontrou nas artes marciais não apenas um caminho de superação, mas também uma missão de transformação. Niltinho Freitas, irmão do tetracampeão mundial de boxe Acelino “Popó” Freitas, contou com exclusividade ao Jornal Opção sobre a luta de seu irmão com sua trajetória marcada por lutas dentro e fora dos ringues, e por um projeto social que tem mudado vidas em Goiás.
“Minha família somos seis. Tem uma caçula e são cinco homens. Quatro são praticantes de boxe, mas assim, lutadores mesmo, a gente já competiu e tudo. Foi muita superação. A caçula da família foi campeã do mundo e ajudou a gente. Hoje estamos em outro patamar de vida, glória a Deus”, apontou.
A gratidão ao boxe se transformou em ação. Radicado em Goiânia, Niltinho coordena um projeto social patrocinado pelo governo estadual que atende gratuitamente jovens entre 8 e 16 anos. “Sou tão grato ao boxe que hoje moro em Goiânia e já ajudei muita gente. Já tirei pessoas do tráfico, menores que viviam de reciclagem. A gente faz esse trabalho social. O objetivo do projeto é formar atletas competitivos, com dois professores contratados. Isso foi um acordo que fiz com o Mario Canaschiro, que era superintendente do estado”, disse.

A iniciativa tem gerado resultados expressivos. “Teve um evento nosso que teve 40 lutas de boxe, nunca teve isso antes. Sou presidente há um ano e meio, e há um ano levamos uma equipe formada aqui mesmo no estado. Antigamente, tínhamos que chamar gente do Rio e São Paulo para completar a equipe. Já tem um ano e meio que não fazemos isso. A equipe é toda formada aqui em Goiânia, só com goianos mesmo”, afirmou.
A paixão pelo esporte é compartilhada com os alunos e a comunidade. “Até o pessoal da TV veio pra assistir a luta aqui, porque tenho muitos alunos. Eu ia levar a turma, mas quando descobri que ia ser muito tarde, recuei. Mas a ideia era trazer a galera, cada um com sua cadeira de praia, sua cerveja. Um amigo nosso ia trazer comida pra gente”, disse.
A história de Niltinho com Goiânia começou há 26 anos, quando foi convidado por Popó para coordenar um projeto social. “Vim pra cá através de um projeto social com Popó e Marconim Pereira. Vim solteiro, e quando faltavam três meses pra eu voltar pra Salvador, conheci minha mulher aqui. Levei ela pra Salvador comigo, ficamos três meses juntos, e depois voltamos pra lá. Casei com ela, moramos lá por oito anos”, apontou.
Além da vivência prática, Niltinho também acumula formação técnica internacional. “Tenho curso de boxe americano e curso de boxe cubano. Fiz um curso cubano de 15 dias, tirei nota nove. Falei que poderia começar uma sombra livre sem aquecimento, algo muito metódico”, disse.

A luta por reconhecimento também teve seus momentos difíceis. “Lutou quatro vezes pra Gel, e quando ganhou, foi roubado. A primeira luta contra Valdez foi roubada. Ele foi roubado mesmo, deu um pau no Wanderlei, mas ele brinca lá, aprendeu a lutar”, disse.
Hoje, ele celebra os avanços no apoio ao esporte. “Tem muitas bolsas, estadual e federal. É um incentivo muito grande. Se o atleta quiser chegar em algum lugar, tem apoio. Só não chega se não quiser”, destacou lembrando do cenário de antigamente do esporte em Goiás e no Brasil.
Sob sua liderança, a Federação de Boxe do Estado de Goiás vive um novo momento. “Antigamente só tinha cinco ou seis lutas. Depois que assumi, formei uma equipe muito boa. Teve evento com 40 lutas, e todos os nossos eventos têm acima de 25 lutas. O boxe de Goiás hoje é o que mais cresce no Brasil. Nossa federação tá indo muito bem”, comentou.
Niltinho comenta a luta
Niltinho explicou que Recentemente, o mundo do boxe foi abalado por uma polêmica envolvendo Popó e Wanderlei Silva. “Popó tem mais de 30 anos de boxe. Ele deu entrevista dizendo que nunca passou por isso. Tá muito mal mentalmente, nunca aconteceu isso com ele. Tá sentido”, comentou.

Niltinho defende o diálogo e a reconciliação. “Apontar o dedo é fácil. Na rede social, o povo julga, diz que ele tá errado, que começou, que fez isso ou aquilo. Acho que não é correto. Aconteceu, bora parar, analisar e endireitar. Popó tá de guarda aberta, pediu perdão, disse que quer encontrar o Wanderlei pra dar um abraço. A culpa não foi dele nem do Wanderlei, foi de outras pessoas”, disse.
“Os posts não deveriam acontecer, mas infelizmente aconteceram. Não dá pra culpar o lado A nem o lado B. Tem que parar e consertar. Popó já pediu desculpa, agora falta o outro lado se manifestar: ‘Tô sentindo pra caramba. Peço desculpa, bora se encontrar, dar um abraço, conversar e acabar com isso’”, afirmou.
A crítica às redes sociais é direta. “Vi uma entrevista muito legal do Renato Gaúcho. Ele falou que a internet tá acabando com tudo. Várias pessoas dando opinião, jogador joga mal, o pessoal sofre, promete matar o outro. Isso é muito chato. O que tá acontecendo com as redes sociais não é legal isso”, explicou.
“Olhar de cara a cara e conversar é uma coisa. Mas se esconder atrás de uma tela e falar é fácil. Isso tá feio demais. Não gosto disso, sou bem sincero”, disse.
Apesar das adversidades, o respeito entre os lutadores permanece, afirmou Niltinho. “O Wanderlei foi corajoso, lutou fora da massa dele. Popó também aceitou a luta. Se não me engano, o Wanderlei estava com 30 quilos acima do peso dele, mas mesmo assim aceitou. Foi uma luta bacana, evento bacana, tudo legal. Pena que teve aquela desavença, mas se Deus quiser vai dar tudo certo”, finalizou.
O legado de Niltinho
O impacto humano é o que mais emociona. Kleyderman Batista, 30 anos, é um dos muitos que tiveram a vida transformada pelo projeto. “Eu comecei com o Nilton sem profissão, sem saber o que fazer. Ele me ofereceu uma oportunidade: dar aula e viver do boxe. Desde então, já são quase dez anos ao lado dele”, disse.
A mudança foi profunda. Kleyderman conquistou estabilidade financeira, uma casa própria e conheceu a mãe de sua filha em Goiânia, tudo graças à chance que recebeu. “Sou de Hidrolândia e minha vida mudou completamente. Hoje tenho condições de ajudar minha família e me manter aqui. E não só eu, outros professores também mudaram de vida”, apontou.
Mais do que um mestre, Nilton se tornou uma figura paterna. “Meu pai faleceu há quase 30 anos. O Nilton foi basicamente um pai. Chamava pra conversar, puxava a orelha. É um paizão pra todo mundo. Não é só professor de boxe, é uma grande família. Todo mundo se ajuda”, disse.
Sem o boxe, Kleyderman afirma que não saberia o que teria acontecido com sua vida. “Não falo nem de drogas ou coisa errada, mas eu não tinha noção do que seria. Eu carrego o boxe na pele, no coração. Eu vivo disso e amo isso”, afirmou.
Para quem quer começar, ele recomenda buscar bons profissionais, pessoas que realmente vivem o esporte. “Eu não vivo como atleta, mas como personal e professor. O boxe me deu base de carreira”, disse.
Ele também destaca o papel do boxe na saúde mental. “O boxe é um antidepressivo natural. Tenho um aluno de medicina que teve problemas com ansiedade e depressão. Ele diz que o boxe o ajuda demais. É magnífico”, afirmou.
Onde o projeto atende
Localizada na Rua 1134, número 226, no Setor Marista, em Goiânia, a academia Nilton Freitas Boxe é o coração pulsante de um projeto social que tem transformado vidas por meio do esporte. Niltinho Freitas convida todos os jovens interessados em aprender boxe e desenvolver valores como disciplina, respeito e superação a conhecerem o espaço. A iniciativa, que atende gratuitamente crianças e adolescentes, é uma porta de entrada para o esporte e para uma nova perspectiva de vida.
Leia também:
Vereadores defendem manter ‘liberdade para Mabel gerir’ o orçamento da LDO
Mabel convoca alunos do 5º e 9º ano para a prova que avalia a qualidade da educação