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Os investigados por um esquema que vendia remédios para emagrecer como se fossem naturais, mas usavam substâncias controladas na composição, movimentou mais de R$ 19 milhões em aproximadamente três anos, segundo a polícia. Durante a operação, foram presas 29 pessoas, sendo que oito continuam foragidas, e quatro fábricas clandestinas que produziam esses medicamentos foram fechadas, em Goiás e Minas Gerais.

A composição dos medicamentos continham antidepressivos (bupropiona e fluoxetina), ansiolítico (diazepam) e anorexígeno (sibutramina), conforme a investigação. Os componentes são considerados medicamentos controlados, ou seja, tarja preta, que só são vendidos com receita médica. Esses remédios causam dependência química e têm risco de morte, segundo o delegado Márcio Henrique Marques.

“Quem comprava não sabia [sobre a composição], achava que era um produto milagroso que estava ali”, disse ele.

“O risco para as pessoas que se utilizavam deste medicamento era muito grande, o risco de morte mesmo. É considerado droga, um remédio controlado que só pode ser vendido sob prescrição. Além do risco causado para a saúde, ainda são medicamentos que causam dependência, então a pessoa começa a tomar e acaba ficando dependente daquilo”, disse o delegado.

Os medicamentos eram produzidos de forma precária e em local insalubre, segundo a polícia. Foram identificadas quatro fábricas: uma em Goiânia e três em Uberlândia, em Minas Gerais. Enquanto as mineiras eram completamente clandestinas, a fábrica goiana tinha registro da indústria farmacêutica, mas atuava de forma irregular, por isso, a Vigilância Sanitária atuou no local. O dono foi um dos presos.

Segundo o delegado, a produção tinha escala industrial. Em Uberlândia, uma das fábricas usava até mesmo betoneiras para misturar os medicamentos, uma máquina normalmente usada na fabricação de concreto na indústria. “Eles movimentaram de forma atípica R$ 19 milhões, o que demonstra que essa atividade ilícita está praticamente a nível industrial”, disse o delegado.

Rótulos falsos

Foto: Polícia Civil
Foto: Polícia Civil

O esquema não criava rótulos falsos de marcas de produtos que já existem, mas inventava e fabricava novas marcas e rótulos para os produtos. Segundo o delegado, essa mudança da rotulagem tinha como objetivo despistar a polícia. Como as entregas por Correios eram em grande volume, a polícia disse que o esquema contava com revendedores. 

Operação

As investigações começaram em 2023, quando a polícia apreendeu remessas de medicamentos pelos Correios. Estes foram submetidos à perícia, que identificou os componentes problemáticos já citados. Após investigações, na quinta-feira, 4, foram cumpridos 36 mandados de prisão temporária, 51 mandados de busca e apreensão domiciliar, segundo a polícia. 

A ação ocorreu em Goiás, nas cidades de Paranaiguara, Rio Verde, São Simão, Quirinópolis e Goiânia; além de Uberlândia, em Minas Gerais, e Ji-Paraná, em Rondônia. O esquema começou em Paranaiguara, segundo o delegado, mas foi se expandindo. Além das prisões, foram sequestrados 63 imóveis, avaliados em aproximadamente R$ 23 milhões, além do bloqueio de contas bancárias.

Segundo o delegado, o patrimônio declarado pelos investigados não coincidia com as atividades que demonstraram praticar, o que demonstra uma atividade ilícita. As investigações ainda não consideram o grupo suspeito como uma organização criminosa, visto que existiam associações com núcleos que se relacionam entre si, mas ainda não foi provada uma possível relação entre todos eles.

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