The Panama Papers investigou milhões de documentos de empresa panamenha Mossack Fonseca, especializada na criação de empresas offshore em paraísos fiscais

panama papers - reprodução

Foi divulgado neste domingo (3/4) uma investigação jornalística denominada Panama Papers, liderada pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung (SZ), que teve acesso ao vazamento de milhões de documentos da empresa Mossack Fonseca, do Panamá, especializada na abertura de empresas offshore no exterior.

Entre a lista de clientes da empresa panamenha, aparecem nomes já conhecidos da investigação da Polícia Federal brasileira, como o do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do usineiro e ex-deputado federal João Lyra (PTB-AL), do ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA). São ao menos 57 brasileiros, já relacionados à Lava Jato, que aparecem nos documentos da Panama Papers, ligados a mais de cem offshores criadas em paraísos fiscais.

Em janeiro de 2016, o escritório brasileiro da Mossack Fonseca no Brasil foi alvo da “Triplo X”, 22ª fase da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção envolvendo empreiteiras e a cúpula da Petrobrás.

Como declara o próprio site da Panama Papers, “ser dono de uma empresa offshore não é, por si só, ilegal. Porém, os documentos revelados mostram que esconder a identidade do verdadeiro dono da empresa era o principal objetivo na maioria dos casos”.

Bancos, escritórios de advocacia e outras engrenagens do mundo offshore geralmente falham em cumprir as exigências legais que evitariam sua ligação com clientes envolvidos em atividades criminosas, sonegação fiscal ou corrupção política.

Em alguns casos, os arquivos mostram que intermediários de offshore protegeram a si e a seus clientes, escondendo transações suspeitas ou manipulando registros oficiais.

Eduardo Cunha, por meio de assessoria de imprensa, negou ser proprietário de qualquer empresa offshore.

Força Tarefa

A investigação jornalística, que durou um ano, teve início com o jornal alemão Süddeutsche Zeitung que, através de uma fonte anônima, teve acesso ao vazamento de documentos da empresa panamenha Mossack Fonseca.

Ao todo, foram aproximadamente 11,5 milhões de documentos sobre cerca de 200.000 empresas offshores ligadas a pessoas de 200 países. São 2,6 Terabytes de informações, entre e-mails, arquivos, PDFs, texto e imagens, dos últimos 40 anos da empresa.

Para organizar e analisar todo o material, o projeto Panama Papers tornou-se na maior cooperação de jornalismo de dados já feita. Foram doze meses de trabalho, com a colaboração de 400 jornalistas do mundo todo, com a ajuda do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e mais de 100 outras organizações de mídia. No Brasil, participaram da apuração o jornal O Estado de São Paulo, UOL e Rede TV!.

Polêmica global

Assim que foi divulgado, o Panama Papers chamou a atenção da mídia internacional, por conter nomes importantes de personalidades mundiais.

Por meio de sua conta no Twitter, Edward Snowden, ex-agente de inteligência da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos  (NSA), responsável pelo escândalo de vazamento de informações em 2013, que revelou ao mundo que as forças de segurança norte-americanas espionavam indiscriminadamente cidadãos, autoridades e empresas de vários países, classificou o Panama Papers como o maior vazamento da história do jornalismo de dados.

“O maior vazamento da história do jornalismo de dados acabou de ser publicado, e é sobre corrupção”, escreveu.


Ao todo, são citados 12 chefes de Estado, de governo atuais ou já fora do cargo, entre eles o atual presidente da Argentina, Mauricio Macri e o primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur Davío Gunnlaugsson; além de 61 parentes ou pessoas próximas a chefes de Estado ou de governo, como é o caso do presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Embora o nome do presidente russo não apareça nos documentos, segundo análise dos dados, os amigos de Putin, beneficiários de contratos e concessões públicas que não teriam sido possíveis sem seu amparo, estabeleceram uma rede de empresas offshores com um valor aproximado de U$2 bilhões.

A lista traz ainda 128 nomes de ocupantes ou ex-ocupantes de cargos eletivos ou públicos e 29 integrantes da lista de bilionários da revista americana Forbes.

Entre outros, os clientes da Mossack Fonseca incluem criminosos e membros de máfias, mas também políticos, oficiais da Fifa, celebridades, atletas e pessoas entre as mais ricas do planeta.