Principal preocupação é com pessoas que cheguem ao estado depois de ter contato com a China. No entanto, profissionais já estão preparados para Plano de Contingência

A nova cepa identificada como 2019-nCoV, diferente da maioria dos outros da família coronavírus, pode ser transmitida de pessoa para pessoa.

Com sintomas muito parecidos com o de uma gripe, um resfriado ou uma pneumonia, a nova cepa do coronavírus, que já se espalhou por pelo menos 15 países e superou os níveis de transmissibilidade e letalidade do Sars, de 2003, já tem três casos suspeitos em análise. De acordo com o Ministério da Saúde, os casos foram registrados em Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS). Em 17 dias, o Sars foi responsável pela morte de 62 pessoas. O novo coronavírus já fez 106 mortes em 18 dias.

A infectologista do Hospital de Doenças Tropicais de Goiânia (HDT), Christiane Kobal, diz que a expectativa é de que Goiás não registre casos da doença, mas ressalta preocupação com pessoas que visitem o estado depois estarem na China. “Levando por essa lógica, a maior probabilidade é de que estados como São Paulo estejam mais suscetíveis ao surgimento do vírus por ser maior porta de entrada de países estrangeiros”.

Apesar das semelhanças de sintomas com gripes em geral, o coronavírus atua muito incisivamente no sistema respiratório, é o que explica a infectologista. “O H1N1 é uma gripe. Os vírus da gripe dão quadros gripais. Nós temos H1N1, H3N2. O coronavírus é um vírus que dá uma síndrome respiratória, caracterizado por febre, na grande maioria das vezes, tosse, pode ou não ter dor de garganta e pode evoluir para falta de ar”, informa a médica. “A pneumonia é bacteriana, é outra coisa. Os sintomas são semelhantes. O que o coronavírus pode dar é a pneumonite viral. Ele é muito parecido com os vírus influenza, que dão quadros de gripe.”

Com a população mundial alarmada, é natural que as pessoas questionem o que a ciência sabe sobre a doença e quando haverá uma cura. No entanto, a infectologista explica que é impossível determinar prazo para as descobertas e que vacinas, remédios e “curas” variam de vírus para vírus, doença para doença. “O HIV, por exemplo, tem mais de 30 anos e não temos vacina. É uma virose. A Hepatite C, da mesma forma, tem quase 30 anos e também não temos vacina. Quando temos uma doença infecciosa e que o vírus tem maior facilidade de ser reproduzido em laboratório e você consegue produzir anticorpos eficazes, a industria farmacêutica pode, ao longo de um tempo que varia de cada doença infecciosa, produzir uma vacina”, afirmou Kobal.

Plano de Contingência

Com os três casos suspeitos no país em análise, o Ministério da Saúde elaborou um plano de contingência, divulgado nesta terça-feira, 28. Ficou publicado, de acordo com o plano, o que é a pessoa suspeita de coronavírus. “A pessoa que tem febre e sintoma respiratório, vieram procedentes da China ou tiveram contato com pessoas que vieram da China ou estiveram com pessoas já comprovadamente com coronavírus”, conta a infectologista.

“Essas pessoas, se tiverem o quadro respiratório, febril na maioria da vezes, mas também pode ser sem febre, mas com sintomas respiratórios, são casos suspeitos. Havendo suspeita clínica, esse paciente vai ser referenciado na rede pública em Goiás para o Hospital de Doenças Tropicais (HDT), daqui colocaremos o paciente em isolamento, e vamos notificar o Ministério da Saúde. Vai ser colhido secreção respiratória e enviado para os laboratórios brasileiros referência em virologia para confirmação ou descarte do caso” informou.

Após infectado, o paciente não manifesta imediatamente os sintomas, mas eles geralmente ocorrem com uma certa rapidez. “Até o momento se sabe que o prazo de incubação da doença varia de dois a 14 dias. Em média, 10 dias. Posso entrar em contato com esse vírus hoje na China e ele vai aparecer entre dois e 14 dias”, diz Kobal.

“Em média, em torno de 7 a 10 dias vou desenvolver um quadro respiratório que pode ser leve, pode ser uma febre baixa e uma tosse, eu não ter falta de ar e com uma semana, estar curada. Ou, posso começar com febre, tosse, falta de ar e aí vou evoluir para uma insuficiência respiratória”. Os paciente com evolução mais grave serão internados em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Transmissão

Segundo a infectologista, ainda não se tem um período de transmissibilidade do novo coronavírus, mas existe um padrão que pode ser considerado. “A ciência ainda desconhece, mas provavelmente um dia antes até alguns dias após do início dos sintomas essa pessoa está transmitindo o vírus. A fonte de transmissão fundamental é por meio das gotículas que ficam suspensas no ar por via respiratória”, disse.