Incertezas: pandemia trouxe impactos para formação de categorias de base no futebol

15 novembro 2021 às 17h30

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Direção do Goiás esporte clube avaliam os prejuízos causados pela paralisação dos treinos e torneios
É sabido que a pandemia causada pelo novo Coronavírus trouxe inúmeros problemas em todos os setores da sociedade. E no esporte não foi diferente. Com a paralisação de todas as atividades em março de 2020, o medo tomou conta dos atletas, tanto os profissionais quanto os da base dos clubes.
Porém os prejuízos causados pelo vírus com certeza foi maior quando se trata da formação de atletas com idade entre 15 e 17 anos. As categorias de base dos clubes foram esvaziadas e a formação de novos atletas, ou a captação de futuros craques ficaram totalmente comprometidas.
As famosas peneiradas onde os olheiros das equipes captavam muitos jogadores – foram suspensas, o cancelamento da Copa São Paulo que reúne 128 clubes e tem sido vitrine para os atletas que se destacam conseguindo contratos com muitas equipes. Tudo isso colocou em xeque a descoberta de novos gênios do futebol.
Toda essa situação de incertezas, acarretou muitos problemas até mesmo psicológicos para essa garotada – que viram a possibilidade da não realização de um sonho. E os clubes precisaram se adaptar a essa nova realidade – em oferecer a esses atletas condições de treinamentos mesmo distante das dependências do clube, bem como todo tipo de cuidado necessário. Mesmo porque os clubes precisam dos recursos financeiros vindo das vendas desses garotos.
Categoria de base do Goiás Esporte Clube
O Goiás Esporte Clube possui uma estrutura dedicada a base de de atletas que faz inveja à muitos clubes brasileiros, sendo considerada uma das melhores do país. Situada no Parque Anhanguera, onde está o Centro de Treinamento Edmo Pinheiro de Abreu.
A estrutura é parecida com a de um hotel cinco estrelas. As refeições são todas acompanhadas por uma profissional nutricionista, há atendimentos psicológicos e a continuidade do ensino básico que é indispensável aos atletas – o clube também oferece suporte aos que querem cursar o ensino superior , inclusive com parcerias para ofertas de bolsas.

O diretor da base do Goiás, Osmar Lucindo, explica como é para o clube passar pela pandemia e cuidar dos jovens atletas. Segundo ele, é preciso diferenciar o projeto da base com a iniciação esportiva que são as escolinhas. As escolinhas são onde os pais dos alunos procuram o clube para que seus filhos tenham uma iniciação esportiva – para isso se pagam mensalidades. Nesse sentido, o clube teve um prejuízo grande. Foram mais de 1500 alunos que deixaram de frequentar as aulas de futebol.
Já na chamada base, não houve perda financeira já que não é cobrado valores para a permanência do atleta. O prejuízo se restringiu a parte técnica; O projeto de captação de atletas praticamente parou. Foram cerca de seis meses sem nenhuma atividade na base.
Segundo o diretor, a formação de novos atletas e a continuidade dos trabalhos com os que já estavam na base foram totalmente comprometidas. “É uma situação que não tem como mensurar seus efeitos, se perdurarão a médio ou longo prazo.”
A pandemia prejudicou a revelação de novos atletas
Osmar Lucindo avalia que a base é o passado, o presente e o futuro do Goiás – já que grandes jogadores da história do Goiás foram formados no próprio clube, atletas como, o “Val”, o Valdemir que atualmente está hoje jogando a Série B pelo Coritiba . O atleta é nascido no estado do Pará, passou por uma peneirada no Goiás e foi escolhido. Com 17 anos foi vendido ao Internacional, rendendo uma boa quantia para o clube.
Nessa lista ainda há o Richard, que foi vendido aos 18 anos para o Santos. Também há o Michael (atleta que é destaque atual no Flamengo e que terminou sua formação na base do Goiás), e o Léo Sena, que atualmente joga no Spezia, da Itália – sua negociação custeou as despesas com os atletas de base do Goiás por cinco anos.
Há também os jogadores que atuam no profissional do Goiás. São eles: Lucas Black, Miguel Figueira, Vinícius, Breno, Iago Mendonça e Pedro Bahia. Poucos exemplos recentes de como a base é importante para o clube. Segundo Osmar, o Goiás deve suas conquistas a base, citando o exemplo do CT Edmo Pinheiro, cujo espaço de mais de 8 alqueires, foi comprado pelo valor de 800 mil dólares graças a venda do jogador Luvanor.
O diretor da base do Goiás acrescenta que as vendas de atletas formados na base representam quase a metade do orçamento do clube. Nesse sentido, os danos da pandemia são enormes. Atletas de 17 a 19 anos, que teriam Copa São Paulo e Campeonato Brasileiro para disputar, acabaram não tendo a oportunidade de mostrar seu futebol. Todavia, para Osmar a faixa etária mais afetada foi a sub-15 que não teve nem oportunidade de uma peneira.
Em meio a tudo isso há uma luz no fim do túnel para a geração 2001 que não pôde jogar a copa São Paulo por causa do cancelamento das edições 20/21. Esses atletas poderão jogar a partir de 2022, graças ao movimento dos clubes junto a CBF.
Osmar explica que com o fechamento da Casa do Atleta, todos os garotos oriundos de vários estados brasileiros retornaram para suas casas. Porém com o clube dando todo suporte como: videoconferências, reuniões on-line, atividades físicas sendo passadas diariamente e tratamento psicológico. No entanto, ele afirma que não é a mesma coisa de quando o atleta está no clube, ainda mais quando se trata de adolescente. Por esse olhar, os prejuízos físicos, técnicos e psicológicos foram consideráveis.
Equipe multidisciplinar
Rafael Barreto, coordenador técnico da base, explica que no Goiás quando o tema é formação de atletas, vale destacar a equipe multidisciplinar que é o diferencial do clube. Existe toda uma equipe que dá o suporte necessário para a formação do garoto – não só para ser um jogador, mas para ser uma pessoa de bem, de caráter e bem sucedido na vida. Quem são esses profissionais? Psicólogos, assistente social, nutricionista e pedagoga. Toda essa estrutura tem ajudado muito nesse momento nebuloso.
Monica Fernanda dos Santos pedagoga da base, destaca o projeto camisa 10 que tem como objetivo incentivar o atleta a unir a bola e a escola. Fazer com que esses garotos entendam que a escola faz parte da carreira profissional de cada um. Tendo como maior objetivo motivá-los a terminar seus estudos na base, incluindo a faculdade. Para isso o Goiás firma parcerias com faculdades onde é oferecido bolsas de até 70% do valor do curso. Hoje tem 20 atletas cursando o ensino superior.
João Vitor, natural de Pouso Alto (MG), zagueiro do sub-17, destaca a importância do clube na sua vida como atleta e como pessoa. Está no primeiro ano de educação física e se diz muito agradecido por tudo que o goiás tem lhe proporcionado. Na pandemia pensou em desistir, mas graças a todo esse aparato que o clube oferece, hoje ele é capitão do sub-17 e é um dos que o Goiás dispensa um olhar especial.
O diretor da base, Osmar Lucindo, deixa bem claro que com o retorno das atividades quase na sua normalidade, todos os protocolos estão sendo rigorosamente seguidos no Goiás, são feitos testes para Covid a cada dez dias e os positivados são isolados e tratados. Tudo isso vai passar e, em breve, serão colhidos novos frutos desse trabalho.