Incêndios na Chapada dos Veadeiros atingem Parque Nacional e devoram mais de 70 mil hectares
13 outubro 2025 às 12h36

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As chamas que atingem a região da Chapada dos Veadeiros, no norte de Goiás, já transformaram o cenário natural em cinzas e fumaça. Desde o dia 25 de setembro, o fogo consumiu mais de 70 mil hectares de vegetação. O incêndio chegou ao Parque Nacional no domingo, 12, ampliando os danos ambientais. Segundo o brigadista do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ricardo Alberto, a principal suspeita é de incêndio criminoso.
De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), até a última sexta-feira, 10, mais de 100 mil hectares haviam sido queimados apenas na região nordeste de Goiás.
Em entrevista ao Jornal Opção, o coordenador da brigada voluntária de São Jorge, Alex Gomes, relatou que o incêndio começou às margens da rodovia que liga Alto Paraíso a Cavalcante e rapidamente atingiu a Chapada. “O incêndio dentro do parque começou na rodovia que liga Alto Paraíso e Cavalcante. Só que teve ação coletiva do ICMBio e o Ibama, que entrou em combate. Mas o problema maior foi visto pelas casas, que estão no entorno do parque, dentro de lugares que a gente nem sabia que tinha. Esse foi o problema, essa é a ocorrência que nós estávamos.”
O brigadista destacou que o esforço conjunto das equipes impediu uma tragédia maior. “Bloqueamos o fogo de casas, galinhas, animais, tudo o que poderia acabar. Salvamos várias casas e mais os galinheiros, tudo. Os bombeiros também ajudaram nessa parte estrutural. Foi assim uma ação muito rápida que o helicóptero estava dando feedback para a gente, aéreo.”
Apesar da intensidade das chamas, nenhuma casa foi completamente destruída, embora o fogo tenha chegado perigosamente próximo. “Teve uma casa que o fogo chegou a três metros porque eles plantaram cana, essa cana criou muita palha, muito combustível em volta da casa, e o vento estava soprando e virava maçarico de fogo”, relatou Alex.
Segundo ele, em torno de 70 mil hectares já foram queimados em toda a região, incluindo áreas do Cerrado, da Chapada, quilombolas e zonas urbanas. O incêndio, contudo, ainda não está completamente controlado. “Tem uma frente ainda que está dentro do quilombo, então ainda tem umas linhas de fogo que não estão no controle, mas também não estão descontroladas”, afirmou.
O coordenador também informou que cerca de 40 brigadistas participaram das ações mais recentes de combate. Alex relatou que, embora muitos animais do Cerrado sejam adaptados ao fogo, os danos são graves.
“É muito raro ver o animal do Cerrado afetado, porque eles já são adaptados ao fogo, assim como a parte afora do Cerrado, tem essa adaptação. Lógico que os pequenos animais sofrem muito, a microfauna, tudo sofre, mas o problema maior dessa situação é a fome cinza, é o retorno desses animais a se habitar, porque toda a fonte de recursos que eles têm foi queimada.”
O conceito de “fome cinza”, mencionado por ele, descreve o período após o fogo, quando animais sobreviventes enfrentam escassez de alimento e abrigo. “A fome cinza é a maior problemática das queimadas”, enfatizou o brigadista.

“Aqui, o incêndio natural é raro e o dia estava ensolarado. Mas se um cidadão está jogando a bituca fora do carro dele, já é um crime, ele sabe que pode botar fogo. Então, ele está ciente nisso. De qualquer ato de combustão que você atente ao Cerrado, é criminoso. Sendo com a bituca ou o isqueiro”, declarou Alex Gomes.
Na última semana, uma operação integrada da Semad resultou na prisão de duas pessoas e na aplicação de multas que podem chegar a R$ 50 milhões, conforme informou a secretaria na sexta-feira, 10.
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, localizado no nordeste goiano, abrange uma área de aproximadamente 240 mil hectares e inclui os municípios de Alto Paraíso de Goiás, Cavalcante, Teresina de Goiás, Nova Roma e São João d’Aliança. Reconhecido como Patrimônio Mundial Natural pela Unesco, o parque é uma das principais reservas de biodiversidade do Cerrado e abriga espécies ameaçadas de extinção, como o lobo-guará, o tamanduá-bandeira e o veado-campeiro.
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