O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), que começa nesta terça-feira, 2, ultrapassou as fronteiras do Brasil e já provoca repercussão na imprensa internacional. A análise de veículos como The Economist, The New York Times, Bloomberg, The Guardian e Le Monde mostra não apenas a dimensão inédita do processo, mas também o peso político e diplomático que a tentativa de golpe de Estado de 2023 continua exercendo sobre a imagem do país.

O caso será julgado até o dia 12 de setembro e envolve Bolsonaro e outros sete réus, considerados pelo Ministério Público Federal (MPF) como principais articuladores da mobilização que culminou na invasão das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023. O STF, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, terá a responsabilidade de definir se houve de fato um complô para subverter o resultado das urnas de 2022.

A revista The Economist foi uma das que mais dedicaram espaço ao tema, classificando a tentativa de golpe como “esquisita e bárbara” e descrevendo o clima de festa nos acampamentos em frente aos quartéis em Brasília, que ofereciam churrasco e música em meio ao ambiente de radicalização. Em tom comparativo, a publicação afirmou que o Brasil dá uma “lição de democracia” aos Estados Unidos, já que o país, presidido à época por Joe Biden, não levou Donald Trump a julgamento, mesmo diante de acusações semelhantes após as eleições de 2020.

O New York Times destacou o reforço da vigilância sobre Bolsonaro, com policiais à paisana monitorando sua residência e medidas adicionais autorizadas pelo STF para evitar uma eventual tentativa de fuga. O jornal, contudo, levantou um ponto sensível do debate brasileiro: até que ponto o Supremo estaria apenas defendendo a democracia ou ampliando de forma excessiva seus próprios poderes, ao permitir que Alexandre de Moraes conduzisse investigações, bloqueasse redes sociais e ordenasse prisões preventivas.

Já a Bloomberg focou em divisões internas no clã Bolsonaro. Segundo a reportagem, Eduardo Bolsonaro comemorou como vitória pessoal as tarifas de 50% impostas por Donald Trump contra o Brasil, acreditando ter convencido a Casa Branca a retaliar em defesa do pai. A estratégia, no entanto, teria tido efeito contrário, fortalecendo Lula politicamente ao adotar um discurso nacionalista. O próprio ex-presidente, de acordo com a publicação, teria considerado a atitude do filho “imaturo”.

O jornal britânico The Guardian enfatizou a vigilância permanente sobre Bolsonaro e lembrou a descoberta de um rascunho de pedido de asilo à Argentina, fator que reforçou a percepção de risco de fuga. Para a publicação, apesar das negativas do ex-presidente, especialistas jurídicos avaliam que a condenação é praticamente certa diante das provas reunidas.

Na França, o Le Monde seguiu a mesma linha, classificando Bolsonaro como “risco de fuga” e registrando a reação dura de Lula à articulação internacional de Eduardo Bolsonaro. O presidente brasileiro teria chamado a movimentação de lobby nos EUA de “uma das piores traições” já vistas no país.

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