Pesquisadores descobriram que a inteligência artificial (IA) pode ser uma ferramenta eficaz para combater crenças em teorias da conspiração, de acordo com um estudo publicado na revista Science no dia 12 de setembro de 2023. Utilizando um chatbot baseado em GPT-4, o estudo demonstrou que argumentos personalizados fornecidos pela IA são capazes de reduzir significativamente a confiança das pessoas em teorias da conspiração.

O estudo, conduzido por Thomas Costello, psicólogo da American University em Washington D.C., e sua equipe, recrutou mais de 1.000 participantes, cujos perfis demográficos espelhavam a diversidade da população dos Estados Unidos. Os participantes interagiram com o chatbot, que foi treinado para refutar teorias conspiratórias com base em evidências detalhadas. Eles foram convidados a descrever uma conspiração em que acreditavam e, em seguida, discutiram com a IA sobre o tema.

Após três rodadas de conversas com o chatbot, os resultados mostraram que a crença dos participantes nas teorias apresentadas diminuiu em 21%, em média. Além disso, a mudança de perspectiva se manteve estável por ao menos dois meses após a interação. Entre as teorias abordadas estavam conspirações clássicas, como o assassinato de John F. Kennedy, alienígenas e os Illuminati, até as mais recentes, como a fraude eleitoral nos EUA em 2020 e informações falsas sobre a pandemia de COVID-19.

Sociedade pós-verdade

O estudo desafia a visão prevalente de que vivemos em uma sociedade “pós-verdade”, onde a evidência factual tem pouco impacto no convencimento de quem acredita em conspirações. De acordo com Costello, ao contrário da crença de que tais indivíduos seriam resistentes a fatos, “nossas descobertas sugerem que, quando confrontados com argumentos bem embasados e personalizados, muitas pessoas podem mudar de opinião.”

Katherine FitzGerald, especialista em desinformação da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, destacou que as descobertas podem ter implicações práticas para a prevenção de danos causados por crenças conspiratórias, como a retórica antivacina e o ataque ao Capitólio dos EUA em 2021, ambos impulsionados por falsas narrativas.

Limitações

Embora os resultados sejam promissores, os pesquisadores apontam que os participantes foram pagos e, portanto, podem não representar com precisão aqueles que estão profundamente enraizados em crenças conspiratórias. Contudo, o estudo abriu portas para novas formas de combate à desinformação, especialmente em um cenário digital onde teorias da conspiração se proliferam rapidamente por meio das redes sociais.

FitzGerald sugeriu que mais pesquisas devem explorar outras métricas de eficácia da IA e seu uso em cenários da vida real. Apesar de alguns temores sobre o risco de a IA gerar informações falsas, o estudo confirmou que o chatbot apresentou apenas 0,8% de respostas enganosas e nenhuma falsidade grave.

Com mais experimentos planejados, a equipe de Costello pretende testar a eficácia de diferentes abordagens e ajustar o uso da IA para torná-la uma ferramenta ainda mais precisa e confiável no combate à desinformação.

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