Araújo Jorge já recusa novos pacientes e pede ajuda para não suspender atendimentos
02 agosto 2016 às 12h05

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Pacientes de onco-hematologia, com diagnósticos de linfoma ou leucemia, por exemplo, já estão sendo encaminhados para antedimento em outras unidades

Com os salários dos funcionários em atraso e risco real de suspensão de atendimentos para os pacientes do Sistema Único de Saúde, a diretoria da Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG) reivindica a mobilização dos poderes públicos estadual e municipal para a tomada de medidas, em caráter emergencial, para a contenção da crise financeira que enfrenta o Hospital Araújo Jorge.
Há mais de um mês, pacientes com problemas onco-hematológicos que procuram a instituição já não são admitidos para tratamento no hospital, voltando para o sistema de regulação da Prefeitura para conseguir vaga em outra unidade.
O atendimento aos pacientes diagnosticados com outros tipos de câncer, bem como os pacientes que já vinham sendo tratados no Araújo Jorge, continuam recebendo tratamento, mas com uma déficit mensal de R$ 1,3 milhão, o alerta da diretoria é de que os próximos passos serão a interrupção da realização de Transplante de Medula Óssea (TMO), interrupção de atendimento nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e até mesmo o corte da ala de oncologia pediátrica.

O risco mais eminente é a interrupção da realização de transplantes de medula óssea do hospital, que, segundo o chefe do serviço de TMO, médico César Bariani, hoje atende de 90% a 95% da demanda dos pacientes com diagnóstico de linfoma e leucemia no Estado de Goiás.
“Em 16 anos de serviços prestados, foram mais de 700 transplantes da mais alta complexidade, atendemos de crianças até idosos, a maior parte muito carente, então a interrupção desse atendimento seria um prejuízo enorme para a população tanto para nosso Estado quanto para os estados vizinhos. Recebemos pacientes do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Pará, Maranhão. Com as poucas unidades de transplante que temos hoje no Brasil, é difícil imaginar como será feito o alocamento de todos esses pacientes”, lamentou o médico.
Atualmente, 40 pacientes estão em processo de preparação para o transplante no Araújo Jorge. Um deles é Wilson Silva, autônomo de 65 anos, diagnosticado com leucemia há um ano. Diante da possibilidade de suspensão da TMO no hospital, Wilson disse que fica preocupado, mas tenta manter as esperanças. “Não quero ser pessimista. Tenho confiança em Deus e nas autoridades para reverter essa situação porque a população precisa disso, somos dependentes do Araújo Jorge”.
Mobilização
Uma das principais origens da crise pela qual passa a ACCG, segundo o presidente da associação Paulo Moacir de Oliveira Campoli, é a defasagem da tabela de repasse do Sistema Único de Saúde (SUS), que não é atualizada desde 1999.
Atualmente, o hospital tem feito o pagamento dos funcionários e fornecedores em atraso, pegando receita do próximo mês para quitar pagamentos do mês anterior. “Não da para esperar a bola de neve crescer. Temos que tomar uma atitude agora”, afirmou Campoli.

Segundo o presidente, perante a defasagem do repasse federal, o que acontece em outros estados é a atuação dos poderes públicos estaduais e municipais, que ajudam as instituições com recursos. “A única coisa que sabemos é que a instituição precisa ser preservada a todo custo. Não tem lógica aceitar que o hospital Araújo Jorge pode fechar as portas, suspender atendimentos. Precisamos mobilizar o poder público para evitar esse mal maior e, em nosso entendimento, as duas secretarias são responsáveis”.
Ainda em julho deste ano, a ACCG encaminhou comunicado à Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Estadual de Saúde, ao Ministério Público Federal, ao Ministério Público Federal e ao Conselho Regional de Medicina, informando sobre a situação financeira do Araújo Jorge, mas não obteve resposta.
Pelas redes sociais, a hashtag #SomosTodosACCG pede o apoio da sociedade e do Poder Público para conter a crise que atinge a instituição. “Caso essa mobilização não gere resultados imediatos, milhares de pacientes do SUS poderão ter o atendimento interrompido e correm o risco de serem transferidos para outros estados”,esclarece a instituição em nota.
O Hospital Araújo Jorge é referência no tratamento de câncer em Goiás e em toda a região Centro-Oeste. Hoje os pacientes do SUS compõem 80% dos mais de 80 mil atendimentos mensais, entre consultas, internações, cirurgias, sessões de quimioterapia e radioterapia, exames anátomo-patológicos, citológicos e exames de patologia clínica.