Controvérsia surgiu pelo fato do filme ter sido produzido pela plataforma de streaming, desagradando produtores independentes alemães

“Elisa e Marcela”: Uma bela história de amor lésbico. Foto: Divulgação

Por Rui Martins
De Berlim

O tema do filme da realizadora Isabel Coixet, “Elisa e Marcela”, contando a história de um casal homossexual, em 1901, na Galícia, não criou nenhum problema. A controvérsia surgiu pelo fato do filme ter sido produzido para a Netflix, desagradando produtores independentes alemães, que pediram a retirada do filme da competição do Festival de Cinema de Berlim.

Dieter Kosslick, no seu último ano como diretor do Festival Internacional de Cinema de Berlim, defrontou-se com um problema inédito: mais de uma centena de produtores independentes alemães lhe entregaram um abaixo-assinado, pedindo a retirada da competição e do Festival do filme da espanhola Isabel Coixet, “Elisa e Marcela”, por ser uma produção destinada às plataformas de streaming. O abaixo-assinado foi também entregue à ministra da Cultura.

Ao contrário do diretor do Festival de Cinema de Cannes, que não aceita filmes produzidos pela Netflix, por não se destinarem à projeção nos cinemas mas para serem vistos nos computadores ou nos ecrãs familiares conectados nos computadores, o alemão Kosslick não vê nenhum impedimento, mesmo porque o filme “Elisa e Marcela” será exibido na Espanha.

Kosslick respondeu aos produtores independentes, citando o exemplo do Festival de Veneza, onde foi aceito o filmeRoma, do mexicano Alfonso Cuarón, ganhador do Leão de Ouro, depois de rejeitado por Cannes, e cotado atualmente para diversos prêmios na próxima distribuição dos Oscars. Devido ao seu sucesso, Roma tem sido nos cinemas de diversos países.

Embora não tenha havido ainda filmes da Netflix, no Festival de Locarno, cotado como quarto lugar no ranking dos maiores festivais, seu ex-diretor Carlo Chatrian, já havia se pronunciado em favor dos filmes da Netflix na competição, antes de ser escolhido como o novo diretor da Berlinale, a partir do mês de março.

A realizadora espanhola Isabel Coixet rejeitou os argumentos dos produtores alemães, pois sem a Netflix seu filme não teria se concretizado, fazia dez anos que procurava um produtor sem resultado.

O casal homossexual feminino

As espanholas Elisa Sánchez Loriga e Marcela Gracia Ibeas encontram-se pela primeira vez no início do curso colegial e se apaixonam uma pela outra, numa época em que era sacrilégio o amor lésbico. Os pais de Marcela suspeitam da situação; o pai galego autoritário envia a filha para um internato.

A relação parecia ter sido interrompida, mas ambas voltam a se encontrar quando professoras e decidem viver juntas. Rejeitadas pela população, decidem partir, mas antes conseguem ser casadas por um padre. Elisa passa a usar o nome de Fernando e se veste como homem. Emigram para Portugal, mas são denunciadas e presas.

Filme em preto e branco, de grande beleza, mostrando a paixão e a resistência das duas mulheres na defesa do seu amor, mesmo sujeitas a perigos e perseguições.

*Rui Martins, de Berlim, convidado pelo Festival Internacional de Cinema.