O deputado federação Gustavo Gayer (PL-GO), investigado pela Polícia Federal por suposto desvio da cota parlamentar, gastou, entre fevereiro de 2023 e agosto deste ano, cerca de R$ 698,9 mil no total. Os dados, consultados pela reportagem no Portal da Transparência da Câmara dos Deputados, revela que os três principais gastos do parlamentar são: manutenção de escritório, locação de veículo e divulgação das atividades parlamentar. Somente com este último item, que está no centro das investigações da PF, foram gastos R$ 125,9 mil.

Conforme apontado pela investigação, o deputado de extrema-direita utilizava a cota parlamentar para custear o aluguel de sua escola de inglês localizada no Setor Bueno, em Goiânia. O imóvel também foi utilizado para abrigar a Loja Desfazueli, registrada em nome do filho do parlamentar.

Veja a distribuição de gastos de Gayer

MêsTotal do mêsDivulgação parlamentar
FevereiroR$ 17.314,74
MarçoR$ 34.859,61R$ 15.000,00
AbrilR$ 43.237,47R$ 22.000,00
MaioR$ 28.883,04R$ 8.000,00
JunhoR$ 29.637,35R$ 6.500,00
JulhoR$ 32.701,01R$ 8.050,00
AgostoR$ 34.938,14R$ 8.050,00
SetembroR$ 39.110,87R$ 10.910,00
OutubroR$ 32.186,67R$ 3.325,00
NovembroR$ 43.040,35R$ 4.375,00
DezembroR$ 36.668,91R$ 4.855,00
2024
JaneiroR$ 34.458,26R$ 4.375,00
FevereiroR$ 40.063,99R$ 5.925,00
MarçoR$ 38.251,56R$ 5.175,00
AbrilR$ 35.871,40R$ 3.485,00
MaioR$ 37.643,46R$ 3.619,34
JunhoR$ 39.335,72R$ 3.700,00
JulhoR$ 32.409,33R$ 2.170,00
AgostoR$ 33.779,88R$ 3.220,00
SetembroR$ 33.382,93R$ 3.220,00

Gasto no centro da investigação

Os pagamentos para a empresa Goiás Online, que tem como proprietário João Paulo Cavalcante, preso durante diligências da PF nesta sexta-feira, 25, fazem parte do inquérito. Gayer chegou a formalizar um convite para que Cavalcante assumisse a função de secretário parlamentar no gabinete do deputado, mas foi impedido devido à omissão da prestação de contas referente a candidatura nas eleições municipais de 2020.

Para contornar o impedimento, de acordo com o inquérito, Paulo criou a empresa que celebrou contrato com o gabinete do deputado “representando uma forma velada de renumeração”. Ainda segundo o documento, as atividades desempenhadas pela empresa teriam como fachada serviços de publicidade e marketing, mas eram, na realidade, assessoria pessoal e parlamentar. “O que ficou evidenciado pelo gerenciamento da agenda do deputado por João Paulo bem como a gestão de sua empresa particular “Loja DESFAZUELI”.

A empresa Goiás Online Comunicações e Marketing recebeu um total de R$ 24 mil em três parcelas. De acordo com o Portal da Transparência da Câmara dos Deputados, Gustavo Gayer gastou em 2024 mais de R$ 326,3 mil da cota parlamentar.

Diálogo entre João Paulo Cavalcante e assessor de Gustavo Gayer divulgados pela PF | Foto: Reprodução

Bebê de 01 ano teria produzido ata de OSCIP

Um bebê de 01 ano de idade está listado no quadro social da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) restaurada para receber verbas públicas do gabinete do deputado. A  PF aponta que foram realizadas diversas simulações contratuais para atender a exigência mínima de 10 anos de uma OSCIP. “Este cenário, até o presente estágio probatório, existe indícios da prática de, ao menos, 2 atos diferentes de falsificação de documento particular, 2 atas de reuniões da associação comercial de micros e pequenas empresas de Cidade Ocidental”, diz o texto da PF.

Segundo a investigação, o deputado comprou OSCIP por R$ 6 mil através de seus assessores. “Os associados de Gustavo Gayer tentaram, por ao menos duas vezes, sob seu mando, alterar o nome da associação para IDISE – Instituto de Desenvolvimento & Investimento Socioeducacional, mediante atas de assembleia geral ordinária ideologicamente falsas, com objetivo de realizar alteração contratual. Foi possível observar ainda que, nas tentativas de alterações do estatuto social, houve a intenção de acrescentar o objetivo expresso de captação de recursos públicos por meio de emendas parlamentares, editais e chamamentos públicos”, informou a PF na representação enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A reportagem tentou contato com Gustavo Gayer, mas não tivemos retorno até o fechamento desta matéria. Nas redes sociais a assessoria de imprensa do deputado divulgou uma nota para a imprensa com um receita de bolo, hábito rotineiro do deputado e de seus funcionários. Em uma segunda nota a assessoria esclarece que causa estranheza uma operação policial dois dias antes do segundo turno das eleições municipais.

A nota ainda afirma que o entendimento da equipe do deputado é que ações do tipo na véspera das eleições prejudica a seriedade das decisões e que os atos judiciários interferem diretamente na política local.

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