Greice Guerra Fernandes

O mundo assiste neste final de 2023 duas guerras — uma no Leste Europeu, deflagrada há mais de um ano, e outra para “surpresa” ou já esperada: a guerra entre Israel e o terrorismo do Hamas.

A humanidade que mal saiu da guerra biológica, a pandemia da Covid-19, que atingiu brutalmente as economias e mercados globais, e que deixou sequelas econômico-financeiras, testemunha o cruel combate entre a última democracia do ocidente e os grupos extremistas radicais, onde milhares de pessoas inocentes pagam com a vida o preço deste combate.

Antes de tais guerras, o mundo que até então só havia sofrido e amargado as consequências econômicas da crise do subprime americano em 2008, agora depara-se com um desafiador contexto global: a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, fortes tensões entre China e Taiwan, guerra entre Israel e Gaza e a disputa entre os EUA e a China pela hegemonia mundial.

Este cenário externo acarreta incertezas nas economias mundiais, bolsas de valores e mercados de capitais mundo afora, o que corrobora para a cautela e refúgio dos investidores nacionais e, principalmente os internacionais em ativos e mercados mais seguros, como o ouro e países com menor risco fiscal, maior segurança jurídica e melhor ambiente de negócios.

Os temores de que a guerra entre Israel e Gaza possam atingir os países do Oriente Médio, sobretudo o Irã, uma vez que o mesmo apoia o Hamás, além de riscos nucleares, poderá causar elevação do preço do barril de petróleo no mercado internacional. Além disso é através do Estreito de Ormuz, localizado na península arábica e o Irã que transita-se 33% do petróleo mundial e 20% do transporte marítimo mundial, portanto, qualquer fato que ali aconteça, pode afetar o preço dos combustíveis no mundo e consequente elevação da inflação global, o que provocará aumento das taxas de juros mundiais.

Tais repercussões resultariam ainda uma desaceleração econômica a global e até mesmo uma recessão mundial e crise financeira, o que custaria milhões de empregos, perda de poder aquisitivo das populações, retração de renda e arrecadação. Aliado a estas decorrências haveria queda   generalizada das bolsas de valores e arrepsia nos mercados de capitais.

Para economias emergentes como a brasileira, as consequências provocariam elevação da inflação, pois o aumento do preço do petróleo elevaria o custo da cadeia produtiva e sequente aumento dos preços dos produtos e serviços. Uma vez ocorrida a elevação da inflação, tal quadro obrigaria o banco central a interromper o ciclo de corte da Taxa Selic que vem ocorrendo e exigiria que a autoridade monetária elevasse a mesma, o que causaria retração do setor produtivo e redução do consumo das famílias, devido ao encarecimento do crédito, ou seja, o dinheiro ficaria mais caro.

Mediante tais explanações, observa-se que é de suma importância que o atual governo esteja estruturado a fim de enfrentar o hostil cenário econômico internacional existente e que poderá agravar-se em função dos últimos conflitos geopolíticos. A responsabilidade fiscal e o compromisso com a meta fiscal para não aumentar o rombo fiscal são pontos cruciais para suportar ou pelo menos amenizar os efeitos econômicos das guerras e tensões internacionais presentes no mundo, pois quanto maior o déficit fiscal, menor é a confiança da economia mundial no País que o possui, e maior é a interferência no câmbio.

Assim sendo, vale mencionar que, quanto menor o risco fiscal e o custo Brasil, maior é a atração dos investimentos nacionais e internacionais, tão importantes para resistir as consequências econômico-financeiras que tais conflitos bélicos podem acarretar à oscilante economia brasileira.

Greice Guerra Fernandes é economista.