Guerra na Ucrânia deve manter 13 milhões em situação pobreza na América Latina, diz Banco Mundial

30 março 2022 às 20h19

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Apesar de perspectivas otimistas anteriores, instituição acendeu alerta de preocupação no continente
Os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia preocupam a Europa, mas também devem afetar gravemente regiões relativamente distantes, como a América Latina. Segundo o vice-presidente do Banco Mundial para América Latina e Caribe, Carlos Felipe Jaramillo, a região pode deixar cerca de 13 milhões de pessoas na pobreza, devido aos efeitos do conflito. Anteriormente, os números previam o retorno a um patamar de normalidade, com a redução dos efeitos da pandemia da Covid-19, mas a guerra acendeu a preocupação.
“Há dois meses achávamos que o nível de pobreza na América Latina, que com a Covid chegou a 26% [169 milhões] da população, voltaria a 24% de antes da pandemia [156 milhões], mas neste momento mantemos os 26%, portanto os 2 pontos percentuais adicionais”, explicou Jaramillo ao jornal Valor Econômico. Para o cálculo, o Banco Mundial considera uma renda per capita diária de US$ 1,90 em PPC (paridade do poder de compra, que reflete as diferenças de custo de vida entre os países). O valor, então, é comparado com o da inflação de produtos como combustíveis, petróleo, fertilizantes e alimentos, por exemplo.
Por outro lado, Jaramillo destaca que alguns países podem se beneficiar dos efeitos da guerra. Entre os países, o vice-presidente inclui o Brasil. Ele destaca que a exportação de alimentos pode ajudar a economia, mas nosso país sofre com outro contraponto importante: os efeitos da seca. De acordo com o economista André Luís Braga, o principal problema dos brasileiros ligado a guerra, hoje, é a questão dos fertilizantes. Isso porque a região onde ocorre o conflito é de importantes exportadores do produto, essencial para os produtores rurais do país. Nesse sentido, ele destaca que precisamos aguardar um posicionamento do Brasil na questão dos embargos contra a Rússia, o que poderia gerar um impedimento dessas negociações.
Além disso, André Luís chama anteção para outros dois produtos: girassol e trigo. “No caso do girassol, tem um aumento da demanda por soja, fazendo o preço subir, o que pode ser benéfico para o Brasil. No caso do trigo, para nós nem sempre é tão bom, já que não somos um país autossuficiente em trigo, então podemos sofrer uma alta nesse valor, encarecendo pãozinho, bolo e outros derivados”, explica. Ele ainda lembra que, com o aumento do preço da soja, o setor agropecuário brasileiro é prejudicado, especialmente para quem faz engorda de gado, já que a ração pode ficar mais cara, fazendo com que a arroba do boi possa subir.
Cautela
Ainda segundo o economista, a principal leitura de mercado que a guerra gera hoje é de cautela, o que pode ser bem traduzido dentro da bolsa de valores. Ele aponta que existe uma preocupação grande empresas com potencial de venda e crescimento que não conseguem voltar a níveis adequados. “Hoje em dia, quem faz previsão de mercado para além de um mês está subestimando a situação”, comenta citando a imprevisibilidade da atuação russa.
As ações da Rússia, por exemplo, geram dúvidas especialmente sobre o preço do petróleo, que tem previsões para todos os lados. “Hoje tem expectativas de que o barril possa chegar a US$ 300, com outras dizendo que ele fica de US$ 90 para baixo. E o pior é que os dois lados tem razão, porque depende do que a Rússia irá fazer”, explica.