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Durante palestra em congresso sindicalista, Maria Lucia Fattorelli apontou os juros abusivos de amortização da dívida como causas da crise

Auditora fiscal da Receita condenou a forma como o governo passa dados para a população sobre as reformas | Foto: divulgação

A auditora fiscal aposentada Maria Lucia Fattorelli, fundadora da associação Auditoria Cidadã da Dívida e uma das responsáveis por auditorias na Grécia e no Equador, afirmou que o governo do presidente Michel Temer (PMDB) cria “factoides” para embutir na consciência da população que apenas com as reformas Trabalhista e Previdenciária o Brasil voltará a crescer.

” A conta está errada e o governo fabrica esse déficit propositalmente e de forma criminosa. Ao apresentar os gastos previdenciário, a União não considera a cesta toda. Pega somente a contribuição do INSS e compara com a despesa total, desprezando Confins, PIS, PASEP e outros recursos que fazem parte da Seguridade Social”, explicou.

Para a especialista, ao contrário do que afirma a equipe do Planalto, a dívida pública é a grande responsável pela atual crise econômica, mais que os casos de desvio de verbas oriundos da corrupção.

“De 1995 a 2015, tivemos um superávit primário de R$ 1 trilhão. Quer dizer, o problema da crise não está nos gastos sociais ou no investimento público, mas na prática de juro abusivo e de amortização de um passivo sem fim, que hoje consome 44% do Orçamento Geral da União. Gastos com saúde, educação e Previdência, juntos, não ultrapassam os 30% desse montante. Essa conta mostra que estamos priorizando o mercado ou invés da população”, criticou.

O tema foi debatido durante o segundo dia do IV Congresso Nacional da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NSCT), que ocorre em Luziânia (GO) entre 26 e 28 de junho, com a participação de mais de mil sindicalistas.

O economista Márcio Pochmann, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ressaltou outros aspectos importantes para o reaquecimento da economia, como a volta de investimentos em infraestrutura.

“A dívida pública é expressiva e corrói parte importante do orçamento nacional, sufocando o país com altas taxas de juros. Além disso, o Brasil tem uma estrutura defasada e em construção. Se iniciou uma renovação da nossa infraestrutura nos anos 2000, mas não se conseguiu concluir. O Estado fez muita coisa, mas se pressupõe um apoio do setor privado, que está acorrentado pelo processo de financeirização das riquezas nacionais”, completou.

Evento

A Nova Central, que reúne mais de 1,2 mil entidades sindicais em todo o Brasil e representa mais de 10 milhões de trabalhadores, realiza o IV Congresso Nacional, que visa deliberar sobre os desafios do movimento sindical brasileiro e a agenda programática sindical da entidade nos próximos quatro anos.

Durante o evento, são realizadas palestras com grandes nomes do quadro sindical e trabalhista brasileiro. Entre eles, Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese); e a auditora fiscal Maria Lúcia Fatorelli, fundadora do movimento “Auditoria Cidadã da Dívida no Brasil”, e o economista Márcio Pochman, professor da UNICAMP.