Aviso foi dado ao governo de Goiás, que encaminhou um pedido de compras a um laboratório indicado pelo presidente da Fieg, Sandro Mabel. A entidade também anunciou que negociava vacinas com uma empresa chinesa

A Embaixada da China no Brasil enviou um ofício ao Governo de Goiás alertando que indivíduos estão se passando por representantes de farmacêuticas para aplicar golpes com a venda de vacinas contra a Covid-19. O alerta é em resposta ao anúncio de representantes do setor privado, Estados e municípios que buscam negociar a compra de doses com empresas chinesas, como, por exemplo, a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), que informou estar adquirindo o imunizante.

Segundo o ofício, a embaixada tem recebido repetidamente comunicados sobre pessoas que se apresentam como representantes de laboratórios chineses. Os suspeitos de aplicar golpes dizem ter em mãos, para a suposta venda de vacinas, contratos paralelos aos negociados com o governo federal, embora não tenham credenciamento para realizar tais transações e muito menos acesso a doses para serem vendidas.

O alerta corrobora com o que tem sido divulgado pelo governo do Estado: não há doses disponíveis além das que são negociadas pela União. Há duas semanas, o presidente da Fieg, Sandro Mabel, entregou um ofício ao secretário de Estado da Saúde, Ismael Alexandrino, detalhando proposta de aquisição de 300 mil doses de vacina contra a Covid-19, a qual seria feita pela entidade. Diante da exposição e da informação de que a empresa teria vacinas a pronta entrega, o secretário de Saúde encaminhou pedido de compra de 2 milhões de doses para a empresa Fosun Pharma, companhia chinesa que oferece a vacina Coronavac, da farmacêutica Sinovac Biotech, mas ainda não obteve respostas – o que comprova a escassez da vacina e também a limitação das negociações ao governo federal.

Mesmo com um volume escasso de imunizantes, alguns empresários no País articulam um movimento para comprar doses de vacinas da China. Entretanto, autoridades do setor apontam que as doses só devem ficar disponíveis para negociação com Estados, municípios e setor privado a partir da metade do segundo semestre deste ano. Essa perspectiva é em razão do processo de imunização no mundo, que tende a se regularizar nesse prazo.

Frente à alta demanda global por vacinas, os grandes laboratórios firmaram acordo de venda de imunizantes apenas para governos de nações – muitos dos quais, ainda assim, não têm encontrado doses a pronta entrega. A busca de empresas por vacinas pode ampliar a disposição para golpes, desvios e falsificações, como alerta o ofício encaminhado pela Embaixada da China.

Por meio de nota, a Fieg informou que em conversa com o Secretário Estadual de Saúde, Ismael Alexandrino, o presidente da Federação, Sandro Mabel, alertou que a Embaixada da China estava enviando um comunicado geral, alertando gestores públicos, empresas e instituições de todo o País sobre a existência de falsos intermediários de laboratórios chineses que comercializam doses de vacina contra o coronavírus.

“Esse comunicado, ao qual a Fieg não teve acesso, não é uma resposta específica da embaixada sobre a proposta encaminhada pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) para negociação de 5 milhões de doses de vacina disponíveis para pronta-entrega. Pelo contrário, a negociação com a empresa indicada pela Fieg, conforme indicação da própria Federação, deve ser realizada com autorização do governo chinês, por meio da embaixada, justamente para evitar qualquer possibilidade de fraude”, completa o comunicado.

Casos

O governo de Santa Catarina foi vítima de uma tentativa de golpe. Uma pessoa que se dizia representante do laboratório Sinovac Biotech, responsável pelo desenvolvimento da vacina CoronaVac, disse ter disponível um estoque de 30 milhões de doses da vacina na China prontos para venda. O golpista encaminhou um e-mail para o secretário de Estado da Saúde, informando ser a pessoa contratada do laboratório para fazer uma triagem entre os órgãos governamentais interessados em comprar doses. Cada uma das doses custaria US$ 32 (ou R$ 177 na cotação de hoje) ao governo de Santa Catarina.

A polícia chinesa chegou a desmantelar uma rede de traficantes de vacinas falsas contra a Covid-19, com a prisão de mais de 80 suspeitos e a apreensão de 3 mil seringas contendo nada mais que água salgada. O esquema foi revelado pela imprensa nacional no início de fevereiro deste ano.